Na última sexta-feira (11) o Google se posicionou contra a aprovação do PL das Fake News. Só que a empresa resolveu ir além e usar todo o seu enorme alcance para alertar os brasileiros a respeito de seu posicionamento. A companhia colocou uma aviso na sua página de busca e no navegador Chrome: “Saiba como um projeto de lei pode tornar sua busca na Internet menos útil e segura”.
Trata-se de um link que leva para a carta da empresa onde ela explica o seu posicionamento contrário ao projeto de lei. O texto foi publicado na última sexta-feira e é assinado por Fábio Coelho, presidente do Google Brasil.
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O texto, que leva mais ou menos 5 minutos para ser lido, explica que o Projeto de Lei 2630, da forma como está hoje, impactará negativamente a todos os que usam as ferramentas do Google. A empresa seria obrigada a fornecer detalhes sobre o funcionamento de seus sistemas de ranqueamento.
E isso deixaria os serviços do Google no Brasil menos úteis e seguros. O cumprimento do PL das Fake News possibilitaria a pessoas mal intencionadas burlarem o algoritmo do Google e conseguissem um melhor posicionamento nos resultados de busca. Se for uma fake news, o resultado será o inverso do pretendido pelo PL 2630.
Mesma tática foi usada na Austrália
Não é a primeira vez que o Google usa de seu alcance para se posicionar contra projetos de lei. Em 2019, na Austrália, a companhia também foi contra um projeto de lei e publicou uma carta explicando os motivos.
O alerta também aparecia na página de busca e ao abrir uma nova aba no Google Chrome. A diferença era que lá o aviso era em formato de pop-up. O aviso dizia: “A forma como os australianos usam o Google está em risco”. O PL em questão obrigava o Google a pagar por conteúdo jornalístico disponível nos sites da empresa.
O projeto de lei australiano levou em consideração a grande receita do Google com anúncios online. Acontece que a maior parte do faturamento do Google com anúncios na Austrália vinha de sites de notícias. Só que a empresa não pagava por nenhum conteúdo. E, de acordo com o órgão que fiscaliza a internet na Austrália, isso era uma prática desproporcional.
Na época o Google usou basicamente os mesmos argumentos que está usando agora. Ou seja, eles diziam que o projeto de lei provocaria uma piora dos serviços de busca e também do YouTube. Além de proporcionar vantagens aos grandes grupos de mídia frente à mídia independente ou sem tantos recursos. No entanto, o projeto de lei em questão foi aprovado em fevereiro de 2021.
Google News foi encerrado na Espanha para não cumprir determinação do governo
Uma das obrigatoriedades do PL 2630/2020 é que os provedores de busca e redes sociais com mais de 2 milhões de usuários forneçam dados sobre como moderam e penalizam contas e conteúdos. Isso afetaria diretamente o Google e o Facebook. Além disso, as chamadas Big Techs também seriam obrigadas a remunerar agências de notícias pelo conteúdo que elas produzem e publicam em seus sites.
Entretanto, o Google não costuma reagir bem a esse tipo de lei. Um caso bem emblemático aconteceu na Espanha, em 2014. A empresa preferiu encerrar o serviço Google News no país do que remunerar os jornais pelo conteúdo que eles produziam. Até hoje o Google News não está disponível na Espanha, embora a empresa esteja analisando voltar.
É uma situação bastante complicada. Uma verdadeira sinuca de bico. Por um lado, o Google fatura bilhões veiculando anúncios nos mais diversos tipos de conteúdos produzidos por terceiros. Por outro lado, as agências de notícias se beneficiam do eficiente algoritmo e serviço de busca da empresa para alcançar mais pessoas. É uma queda de braço bem complicada.