Quatro em cada dez consumidores brasileiros estão dispostos a compartilhar dados particulares sigilosos para obter descontos, serviços customizados ou melhores classificações em sistemas de social rating. É o que mostra a pesquisa global ‘Créditos sociais e segurança: adotando o mundo das avaliações’ realizada pela Kaspersky para entender a percepção das pessoas sobre as avaliações sociais e se elas estão preparadas para participar destes sistemas.
De acordo com a pesquisa, mais de 60% dos consumidores brasileiros não sabem ou nunca ouviram falar em social rating (ou sistemas de classificação social). Inicialmente usados por instituições financeiras e lojas online para auxiliar na tomada de decisão na aprovação de uma transação ou compra virtual, os sistemas de social rating tiveram uma grande expansão e passaram a ser aplicados em distintas áreas. Estes sistemas trabalham com algoritmos automatizados que se baseiam no comportamento e na influência dos usuários na Internet. Por exemplo, para combater a pandemia do novo coronavírus ( Covid-19), muitos governos ao redor do mundo implementaram este sistema para acompanhar a movimentação urbana de pessoas, sua capacidade de comprar mercadorias ou o acesso delas a serviços sociais. A questão que a Kaspersky queria mais entender era se as pessoas estão realmente prontas para isso.
De acordo com o relatório, 61% dos consumidores brasileiros não sabem (11%) ou nunca ouviram falar (50%) dos sistemas de social rating. Apesar desses sistemas já serem bastante usados e estarem cada vez mais conhecidos, os consumidores não sabem muito bem sobre sua operação e a eficiência com que eles estão sendo implementados. Tanto que, dos brasileiros que o conhecem, 39% tiveram dificuldades para entender como estes sistemas funcionam. Entre as principais dúvidas estão como descobrir sua pontuação, como ela é calculada e como pode ser corrigida em caso de imprevisto.
Além das dificuldades conceituais, existem questões técnicas que dificultam esta compreensão, pois os algoritmos destes sistemas usam machine learning e é difícil saber quais escolhas serão feitas. Isso torna quase impossível confiar nelas, especialmente em termos de segurança. De acordo com a análise da Kaspersky sobre a segurança dos sistemas de social rating, esses programas podem ser especialmente vulneráveis à manipulação artificial, como reduzir a pontuação de alguém para diversos fins. Além disso, como qualquer outro sistema, eles estão suscetíveis a diferentes tipos de ataque, seja na implementação técnica e de programação, seja na mecânica do sistema. O último poderia levar ao surgimento de um novo tipo de mercado clandestino, em que as pontuações dos usuários seriam convertidas em dinheiro real e vice-versa.
No entanto, isso não impede que as organizações continuem coletando dados, especialmente quando as pessoas estão dispostas a permitir. O relatório da Kaspersky mostra que mais de 43% dos respondentes no Brasil compartilhariam dados particulares sigilosos para garantir melhor classificação, desconto ou para receber serviços customizados. Além disso, esses consumidores estão ainda mais dispostos a compartilhar seus perfis de mídias sociais por outros benefícios, como:
“Governos e organizações estão se digitalizando e temos que defender os benefícios que a tecnologia proporciona, porém sem que ela ponha em risco nossa segurança e privacidade. Por isso é preciso estar claro o nível de acesso às informações pessoais e às vidas digitais destes programas de social rating e, o mais importante, como eles processarão e protegerão estes dados. Isso é especialmente crítico na atual situação de isolamento em que vivemos, quando as pessoas não têm outra opção além dos serviços online. É necessário ter o devido controle hoje para não perder o controle amanhã – tanto dos consumidores sobre seus dados, quanto das empresas/governo sobre os dados de terceiros”, afirma Thiago Marques, analista de segurança da Kaspersky no Brasil.