Com o crescimento exponencial de conteúdo gerado por inteligência artificial, distinguir o que foi feito por humanos se tornou um desafio. Foi nesse contexto que John Graham-Cumming, ex-executivo da Cloudflare, decidiu lançar o projeto lowbackgroundsteel.ai — um arquivo online dedicado exclusivamente a preservar materiais criados antes da popularização da IA.
A proposta é tão provocativa quanto necessária. No blog do projeto, Graham-Cumming descreve sua missão de apontar para fontes “não contaminadas” — textos, imagens e vídeos produzidos por humanos, em um tempo em que o conteúdo digital ainda carregava traços autênticos de autoria.
A inspiração por trás do nome é mais profunda do que parece
O nome do site é uma metáfora poderosa. “Low-background steel” (ou aço de baixa radiação de fundo) é o termo usado por cientistas para descrever um tipo raro de aço, livre de contaminação radioativa, produzido antes dos testes nucleares da década de 1940. Esse metal especial, extraído de navios naufragados anteriores à era atômica, ainda hoje é necessário para fabricar instrumentos ultra-sensíveis, como detectores de radiação.
Graham-Cumming traça um paralelo direto com a internet atual: assim como o aço limpo desapareceu após os testes nucleares, o conteúdo genuinamente humano está se tornando cada vez mais difícil de encontrar em meio à avalanche de textos e imagens gerados por IA. O “ruído” digital cresce, e a necessidade de rastrear “conteúdo limpo” se torna uma preocupação técnica, cultural e histórica.
Desde 2022, com a popularização de ferramentas como ChatGPT e Stable Diffusion, pesquisadores enfrentam um dilema prático: como garantir que os dados usados em treinamentos e análises são realmente de origem humana?
O problema é tão crítico que projetos acadêmicos já foram cancelados por falta de confiança na integridade das fontes. Para desenvolvedores, jornalistas, cientistas de dados e criadores de conteúdo brasileiros, essa fronteira também importa. Afinal, treinar um modelo ou tomar decisões com base em dados contaminados por IA pode gerar distorções sérias.
Mais do que nostalgia ou purismo, o projeto toca em um ponto nevrálgico da tecnologia contemporânea: como documentar e preservar a criatividade humana num tempo em que ela é constantemente simulada?
Um arquivo para o futuro?
Ainda em seus primeiros passos, o lowbackgroundsteel.ai já despertou o interesse de comunidades técnicas ao redor do mundo. Não se trata apenas de armazenar conteúdos antigos, mas de garantir que futuras gerações consigam distinguir o que é genuinamente humano do que é sinteticamente produzido.