China planeja uma arquitetura computacional unificada, com um ISA próprio

Não é segredo para ninguém que a China vem a tempos investindo em padrões próprios para uma série de projetos de infra-estrutura, tentando reduzir sua dependência em relação à tecnologia estrangeira. Em alguns aspectos, as medidas lembram um pouco o sistema de reserva de mercado implantado no Brasil na época da ditadura, porém muito melhor planejado e aplicado em um país que tem um parque tecnológico e um mercado suficientemente grandes para sustentar algo do tipo.

Ao que tudo indica, o passo seguinte será criar uma arquitetura unificada de processadores, que deverá ser utilizada em todos os projetos implantados com dinheiro público o que no caso da China significam verbas na casa das dezenas de bilhões de dólares.

O primeiro passo em tal padronização é a escolha do ISA, ou seja, do conjunto de instruções a ser adotado. Até o momento, tudo aponta para a escolha do MIPS, velho conhecido de quem trabalha na área de tecnologia. Apesar de ter perdido a corrida para a ARM no mercado móvel e para a Intel nos desktops, a MIPS vem produzindo alguns designs interessantes, competitivos com os ARM Cortex low-end em matéria de desempenho e economia de energia. O governo Chinês já tem uma boa experiência com o MIPS, incluindo o processador Loongson, que equipa computadores em escolas e até mesmo servidores na China:

loongson

A MIPS vem passando por dificuldades financeiras e tem um preço de mercado relativamente baixo, o que permitiria que o governo chinês simplesmente comprasse a empresa e passasse a desenvolver tudo dentro de casa.

Outro concorrente seria a UPU, uma arquitetura desenvolvida por desenvolvedores chineses, que implementa algumas ideias revolucionárias, com uma arquitetura que combina CPU e GPU em um único encapsulamento, oferecendo um conjunto de instruções que permite explorar os recursos de ambas simultaneamente, sem diferenciação. O projeto ainda está na infância (desenvolver uma nova arquitetura demanda um volume fabuloso de trabalho, já que além do ISA e do hardware é necessário desenvolver compiladores, bibliotecas e várias outras camadas de infra-estrutura) mas espera-se que o projeto possa evoluir mais rapidamente com dinheiro governamental.

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O uso de processadores ARM parece estar quase descartado, já que apesar da ARM licenciar os designs em uma licença que inclui acesso quase completo aos projetos e ferramentas, as licenças para os processadores recentes são caras, com a licença para o Cortex A5 girando em torno de US$ 5 milhões, um valor que nem todas as empresas chinesas fabricantes de eletrônicos poderiam pagar.
 

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