Meta prioriza empresas em detrimento de usuários, revela Comitê de Supervisão

Meta prioriza empresas em detrimento de usuários, revela Comitê de Supervisão

O Comitê de Supervisão da Meta, após mais de um ano de estudos e análises, publicou um relatório em que afirma que a companhia favorece empresas, famosos e políticos em detrimento dos usuários comuns. A análise teve como alvo a política de verificação cruzada da empresa fundada por Mark Zuckerberg.

Caso você não saiba, a política de verificação cruzada é um método para moderação de conteúdo. Nele, um grupo considerado de “alta sociedade” é separado dos usuários comuns nos processos de moderação de conteúdo automática. Este método teve sucesso em evitar ataques de trolls, mas foi totalmente ineficaz no quesito remoção de conteúdo ofensivo.

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Pontos positivos e negativos da verificação cruzada

Meta
Verificação cruzada da Meta tem vantagens e desvantagens

No entanto, o Comitê de Supervisão da Meta aponta vantagens da política de verificação cruzada. Esse método beneficia especialmente jornalistas e ativistas em zonas de guerra ou em países ditatoriais. Por exemplo, sem a verificação cruzada o governo poderia realizar uma série de denúncias até que os posts de jornalistas e ativistas de oposição fossem removidos da plataforma.

Por outro lado, a verificação cruzada não é eficiente na remoção de conteúdos que são, de fato, inapropriados. Isso acontece pois este método de moderação de conteúdo ainda depende muito de análise humana. Portanto, é até natural que ele demore mais para analisar e remover os conteúdos inadequados para a plataforma.

Caso Neymar é um exemplo clássico

O Comitê de Supervisão usou como exemplo o caso de denúncia de estupro contra Neymar, atacante da seleção brasileira. O fato aconteceu em 2019. Para provar que era inocente, o jogador postou um vídeo onde mostrava toda a conversa de WhatsApp com a denunciante. No vídeo não apenas o nome da mulher, mas fotos dela nua também são mostrados.

Neymar
Exposição feita por Neymar era passível de banimento

Só no Facebook e Instagram o vídeo teve mais de 56 milhões de visualizações. O conteúdo ficou no ar por mais de um dia e logicamente foi baixado por milhares de pessoas. A justificativa da Meta é justamente o tamanho da fila de conteúdos para avaliar.

No entanto, o Comitê de Supervisão aponta uma incoerência nos métodos de avaliação da Meta. Se as contas com grande influência e alcance recebem um tratamento especial, por que elas também não são priorizadas na hora de avaliar os conteúdos publicados? Uma coisa é uma conta com 500 seguidores postar nudes. Outra coisa é o perfil do Neymar postar nudes. O alcance do segundo é infinitamente maior.

Segundo as políticas da Meta, a postagem do Neymar é passível de exclusão da conta. Mas obviamente que isso não aconteceu. E vale lembrar que em dezembro de 2021 o jogador assinou um contrato de exclusividade com o Facebook Gaming para fazer stream de jogos.

Dois pesos e duas medidas

Balança

Portanto, o relatório do Comitê de Supervisão da Meta é muito claro. A empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp prioriza os negócios ao invés da segurança dos usuários. Tendo em vista que Facebook e Instagram são redes sociais cuja receita vêm principalmente de anúncios, a política de verificação cruzada da Meta é montada para proteger os interesses comerciais.

Em outras palavras, quando o dinheiro está em jogo, vale a pena aplicar dois pesos e duas medidas. Um exemplo claro foi o banimento permanente do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Isso aconteceu após a tentativa de golpe que culminou na invasão do Capitólio e na morte de cinco pessoas. Esse ato violento foi clareamento incentivado por Donald Trump.

Mas essa não foi a primeira vez que Trump destilou discursos de ódio e incentivou seus seguidores a usarem da violência para conseguir as coisas. Durante anos a Meta fez vista grossa às violações e comportamento antidemocrático de Donald Trump.

Apoiadores de Donald Trump dentro do Capitólio dos EUA

Coincidentemente, somente depois da tentativa de golpe, a empresa se movimentou para banir o ex-presidente de suas redes sociais. Afinal de contas, havia o risco real de anunciantes e usuários abandonarem o Facebook ou Instagram. Quanto mais tóxico o ambiente, mais ele afasta as pessoas.

Já no caso do Neymar, como não havia risco da Meta perder receita, ela acabou fazendo vista grossa. Talvez a companhia já estivesse pensando no contrato de exclusividade que poderia firmar com o atacante no futuro.

Alan Rusbridger, membro do Comitê de Supervisão, disse o seguinte:

Eu realmente acredito que há muitas pessoas na Meta que acreditam nos valores de liberdade de expressão, em proteger o jornalismo e proteger a sociedade civil. Mas o programa que eles criaram não está fazendo isso. Está protegendo um número limitado de pessoas que nem sabe que está na lista [de integrantes da verificação cruzada]”.

Fontes: Engadget e The Verge

Sobre o Autor

Cearense. 34 anos. Apaixonado por tecnologia e cultura. Trabalho como redator tech desde 2011. Já passei pelos maiores sites do país, como TechTudo e TudoCelular. E hoje cubro este fantástico mundo da tecnologia aqui para o HARDWARE.
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