Nos Estados Unidos, polícia poderá ter robôs com “permissão para matar”

Nos Estados Unidos, polícia poderá ter robôs com “permissão para matar”

As três leis da robótica de Isaac Asimov:

  • Um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal;
  • Os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que essas ordens entrem em conflito com a primeira lei;
  • Um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.

Parece que o Departamento de Polícia de São Francisco (SFPD), nos Estados Unidos, não liga muito para as três leis universais da robótica, criadas por Isaac Asimov, no famoso livro Eu, Robô, publicado em 1950. Eles estão com um projeto para equipar robôs com armas e usá-los como força letal.

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Robôs armados só serão usados em último caso

Obviamente que o projeto levantado pelo SFPD gerou uma série de críticas e questionamentos. No entanto, o departamento se justificou dizendo que os robôs só serão usados em situações de risco de morte iminente, seja para policiais ou civis. Além disso, a ideia é que os robôs assassinos só sejam usados quando não houver uma opção menos drástica.

Na verdade, essa ideia até já foi posta em prática, em 2016. A Polícia de Dallas equipou um robô de desarme de bombas com uma bomba (olha que ironia) para matar um homem que já havia tirado a vida de cinco policiais e ferido vários outros. Na ocasião, o responsável pela operação disse que não viu outra opção para resolver o caso.

Mas esse foi um caso isolado. O que a SFPD quer é institucionalizar o uso de robôs equipados com armas. Mesmo com o argumento de que eles só serão usados em último caso e em situações extremas, o projeto levanta preocupações de ordem ética e de segurança pública.

O que diz a Boston Dynamics

Quando falamos em robôs autônomos e com habilidades impressionantes de locomoção, logo lembramos da Boston Dynamics e seus robôs quadrúpedes. Curiosamente, a empresa é contra o uso de robôs como força letal. A companhia se uniu a outras do setor e publicou uma carta aberta para criticar o projeto:

Nós acreditamos que adicionar armas a robôs operados remotamente ou de modo autônomo, amplamente disponíveis ao público e capazes de alcançar lugares previamente inacessíveis em que pessoas vivem e trabalham, gera novos riscos de danos e sérios problemas éticos.

O curioso é que a Boston Dynamics já desenvolveu alguns robôs que podem ser facilmente equipados com armas de fogo. O caso mais clássico é o do cão-robô Spot. Esse robô autônomo pode subir escadas, andar em terrenos acidentados e, em um local plano, pode correr mais rápido que um humano.

Mas, ao que parece, as coisas estão realmente caminhando para o uso de robôs como força letal. O exército dos Estados Unidos, inclusive, já fechou uma parceria com a Ghost Robotics, que também fabrica robôs quadrúpedes. Inclusive, foram divulgadas algumas imagens de um robô produzido por eles com uma arma tão grande e intimidadora que parecia saído do filme Exterminador do Futuro.

Entidades temem uso indiscriminado de robôs como força letal

O estado da Califórnia possui uma lei que tem por objetivo tornar a atividade policial mais transparente. E, segundo essa lei, o departamento policial do estado deveria definir o que pode e o que não pode ser feito com os robôs. Além disso, eles deveriam listar todos os robôs que a força policial tem à disposição e o uso de cada um deles.

Inicialmente, a polícia de São Francisco definiu que os policiais não podiam usar os robôs para ferir qualquer pessoa, mesmo que fosse um criminoso. Mas eles mudaram de ideia e alteraram essa definição. Na nova definição está prevista a possibilidade de usar robôs como força letal quando houver risco à vida de policiais ou civis.

Robô armado da Ghost Robotics

Autoridades, entidades defensoras dos direitos civis e até mesmo advogados são fortemente contra a ideia. Eles temem que a aprovação do projeto da SFPD seja o primeiro passo para o uso indiscriminado de robôs como força letal. Além disso, há a possibilidade que a aprovação do projeto abra brecha para o desenvolvimento de robôs pensados especificamente como armas, o que torna tudo ainda mais perigoso.

Tifanei Moyer, do Comitê de Advogados pelos Direitos Civis de São Francisco, diz que “estamos vivendo em um futuro distópico, onde discutimos se a polícia pode usar robôs para executar cidadãos sem julgamento, júri ou juiz”.

A proposta do Departamento de Polícia de São Francisco será discutida por um conselho de supervisores no próximo dia 29 de novembro. Ela pode ser aprovada, derrubada ou revista.

Isso tudo só me lembra o episódio “Metalhead”, da série Black Mirror. Em um futuro distópico, os poucos humanos que restaram são perseguidos e caçados por um cão-robô altamente letal. Curiosamente, ele se parece bastante com o Spot, desenvolvido pela Boston Dynamics.

Fontes: Mission Local, The Verge, TechCrunch e Boston Dynamics

Sobre o Autor

Cearense. 34 anos. Apaixonado por tecnologia e cultura. Trabalho como redator tech desde 2011. Já passei pelos maiores sites do país, como TechTudo e TudoCelular. E hoje cubro este fantástico mundo da tecnologia aqui para o HARDWARE.
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