Steve Jobs não queria que o iPod fosse compátivel com Windows, mas teve que mudar de ideia

O ano é 2001. A Apple, cada vez mais afastada da crise que quase a levou a falência, em meados da década anterior, apresentou um dispositivo que mudou radicalmente o consumo de música de maneira portátil de forma tão impactante quanto a Sony fez nos anos 70, com o Walkman. Estamos falando é claro do iPod.

Do desenvolvimento até a apresentação emblemática, conduzida por um ávido Steve Jobs, muita “água passou por debaixo desta ponte”. Fatos e curiosidades que raramente chegam ao conhecimento do grande público.

Felizmente, Tony Fadell, que esteve na linha de frente do desenvolvimento do iPod, em virtude da promoção do seu livro sobre empreendedorismo, Build (ainda sem tradução para o Portugês),  esta concedendo uma série de entrevistas com revelações interessantíssimas dos bastidores de alguns dos grandes projetos que esteve envolvido. Numa dessas entrevistas, para Jon Fortt da CNBC, ele relata algumas passagens curiosas em torno do desenvolvimento do iPod.

Em 2001, Fadell era vice-presidente sênior da divisão iPod. Ele era o responsável por supervisionar todo o hardware, software e demais detalhes sobre o produto, e, assim como tantas outras decisões de projeto de outros produtos lançados pela Apple ao longo da história, aconteceu um ligeiro choque de ideias entre a liderança do projeto e Steve Jobs.

O sempre lembrado cofundador da Apple, era reconhecido por seu modo implacável e agarrado em certas convicções. Uma dessas convicções (que tinha também uma pitada de ego no meio) aconteceu ao longo do projeto iPod.

Steve Jobs simplesmente não queria que o iPod fosse compatível com PCs Windows. Isso representava um afunilamento de mercado bem severo, já que o iPod teria compatibilidade apenas com computador da Apple, o Mac. De acordo com Fadell, Jobs queria seguir por esse caminho por pensar que essa estratégia faria aumentar as vendas do Mac. Fadell discordava dessa visão, mas não teve jeito: o iPod chegou ao mercado sem compatibilidade com o Windows.

Fadell lembra que Jobs chegou a afirmar que enquanto ele estivesse vivo o iPod não seria compatível com Windows. É curioso como Jobs seguiu até onde fosse possível essa linha de pensamento. Realmente ele não curtia o Windows, diversas de suas declarações públicas deixam isso bem claro. Em parte, por Jobs ter se sentido traído por Bill Gates, quando o magnata da Microsoft lançou o Windows. Fato que deu origem a uma das tretas mais engraçadas da história da tecnologia. 

O feeling de Jobs falhou dessa vez. A restrição do iPod ao Mac não aumentou as vendas do computador como a Apple esperava. De tabela, as vendas do próprio iPod acabaram sendo prejudicadas, já que uma pessoa interessada no dispositivo, e que ainda não tivesse um Mac, teria que cogitar a compra de um outro equipamento.

Era preciso corrigir o curso desse navio. Fadell entrou em contato com o jornalista Walt Mossberg, que era amigo de Jobs. Talvez um amigo conseguisse convencer Jobs a mudar de ideia. E não é que ele conseguiu? O iPod Classic de segunda geração, lançado em 2002, foi o primeiro compatível com o Windows.

Fadell diz que Jobs não queria admitir estar errado, mas seu amigo Mossberg mostrou-lhe que tornar o iPod compatível com Windows seria o caminho para o sucesso. Eles estavam certos. Até mesmo o primeiro iPod, que chegou a receber uma versão atualizada, acabou ganhando compatibilidade com o Windows.

Além do iPod, Fadell esteve envolvido diretamente com o desenvolvimento do iPhone, outro sucesso arrebatador da Apple. Em 2008 deixou a Apple para fundar a Nest Labs, focada no desenvolvimento de dispositivos inteligentes. Em 2014 essa empresa foi comprada pelo Google por US$ 3,2 bilhões.