Activision: funcionários exigem saída do CEO Bobby Kotick, mas sem apoio do alto escalão da empresa

Bobby Kotick, CEO da Activision, é o principal alvo dos protestos dos funcionários da empresa. Os desenvolvedores demandam a saída do chefe após uma recente divulgação de que ele sabia dos problemas ocorridos no ambiente de trabalho do estúdio.

Ontem (17) a Activision Blizzard vivenciou o seu pior momento desde o início da crise enfrentada pela empresa após a divulgação de práticas inadequadas no ambiente de trabalho do famoso estúdio.

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Na última terça-feira (16), após a publicação de uma matéria no Wall Street Journal, as redes sociais foram infestadas de postagens exigindo que Bobby Kotick renunciasse ao seu cargo de CEO da Activision Blizzard.

A matéria do jornal também causou espanto no chefe do PlayStation, Jim Ryan, e desencadeou um protesto realizado por funcionários da Activision. Mais de 100 funcionários da Activision Blizzard se reuniram em frente à sede da empresa demandando a renúncia de Bobby Kotick.

O grupo de funcionários das empresas do grupo Activision Blizzard e King, através de uma postagem no Twitter, afirmou que continuarão a protestar até que o CEO Bobby Kotick seja removido do cargo.

https://twitter.com/ABetterABK/status/1460671347382755329

Com isso, ontem (17), um grupo de acionistas, liderados pelo fundo de pensão SOC Investment Group, oficializariam um pedido de renúncia de Bobby Kotick do cargo de CEO da Activision. Além disso, esse grupo exige que dois membros do conselho de diretores sejam aposentados compulsoriamente.

A carta foi assinada por outros grupos de investimento, que visam proteger os direitos femininos no ambiente corporativo.

No entanto, de acordo com o jornalista Jason Scheirer, o grupo representado pelo SOC Investment Group detém apenas 0,6% das ações da Activision Blizzard. Por outro lado, Kotick possui mais de 60% das ações da empresa.

Principais executivos da Activision ficam do lado do CEO

Mesmo após as revelações, os 10 membros do conselho executivo da Activision, se posicionaram ao lado de Kotick.

Em uma reunião do conselho com os funcionários da Actvision, Blizzard e King, com o fim de esclarecer as novas revelações sobre o CEO da empresa, os principais executivos ressaltaram confiar em Kotick.

“O conselho executivo da Activision Blizzard se mantém compromissado com o objetivo de tornar a Activision Blizzard a empresa mais acolhedora e inclusiva da indústria de games. Sob a liderança de Bobby Kotick, a companhia já está implementando mudanças nunca vistas antes na indústria, como uma política de tolerância zero aos casos de assédio”, escreveu a Activision em nota aos investidores.

Em outra reunião realizada ontem (17), os membros do conselho voltaram a proteger Bobby Kotick. Um funcionário perguntou se a nova política de tolerância zero se aplicaria também ao CEO da empresa e, surpreendentemente, obteve uma resposta negativa.

Obviamente, a pergunta foi feita com base nas revelações de assédio cometidos pelo próprio CEO, que os executivos da Activision afirmam não ter evidências concretas.

Os executivos afirmaram que Kotick se esforçará para recuperar a confiança dos funcionários da empresa. De acordo com o Bloomberg, o presidente da Activision, Rob Kostich afirmou que Bobby Kotick não renunciará ao cargo de CEO.

Bobby Kotick sabia da cultura de assédio na Activision

Anteriormente, Bobby Kotick, em reunião com os diretores e executivos da Activision, havia afirmado não ter conhecimento das alegações de má conduta e assédio no ambiente de trabalho dos estúdios da gigante publisher de games.

No entanto, tal afirmação foi refutada após a imprensa americana publicar que o CEO já tinha conhecimento sobre a cultura de assédio que infestou sua empresa. Além disso, o próprio CEO fazia parte dessa cultura.

De acordo com a matéria do Wall Street Journal, em julho de 2018, Kotick recebeu um email de um advogado representando uma ex-funcionária do estúdio Sledgehammer Games, subsidiária da Activision.

No email, o advogado afirmou que, em 2016 e 2017, sua cliente foi estuprada pelo seu então supervisor. Os casos ocorreram após ela ter sido pressionada a consumir uma grande quantidade de álcool em eventos da empresa e, até mesmo, nos escritórios da companhia.

A ex-funcionária, segundo o seu advogado, reportou o caso ao RH do Sledghammer games e a outros supervisores, mas nenhuma atitude foi tomada.

De acordo com fontes do jornal, após o CEO receber o email do advogado, a Activision entrou em um acordo extrajudicial com a ex-funcionária. No entanto, Bobby Kotick não informou aos membros da diretoria da empresa sobre os supostos estupros, nem sobre o acordo extrajudicial, de acordo com documentos obtidos pelo jornal.

Esses documentos incluem memorandos, emails, requerimentos judiciais e entrevistas com ex-funcionários refutam as alegações de Kotick.

CEO da Activision também possui histórico de assédio sexual

O jornal aponta que, além de não informar aos membros do conselho da Activision, o próprio Bobby Kotick foi acusado de assédio por várias mulheres. Os casos ocorrerram tanto no ambiente de trabalho quanto externamente.

Em 2006, uma de suas assistentes se queixou dos assédios que sofria pelo CEO da empresa. O resultado disso foi uma mensagem de voz enviada à assistente por Kotick ameaçando matá-la. Mas, de acordo com fontes ligadas ao assunto, novamente o CEO da Activision resolveu o problema de maneira extrajudicial.

Uma porta-voz da Activision afirmou que Bobby Kotick se desculpou rapidamente após o envio da mensagem inapropriada e que, até os dias de hoje, o CEO “se arrepende profundamente do exagero que cometeu.”

Com 58 anos, Bobby Kotick está entre os CEOs com maiores salários de empresas americanas de capital aberto. Em 2020, Kotick recebeu US$ 154 milhões, incluindo salários, bonificações e benefícios.

No mês passado, após as polêmicas -sobretudo após o Wall Street Journal questionar a Activision sobre as informações da matéria ainda não publicada – Kotick anunciou aos funcionários da Activision que iria pedir aos diretores que reduzissem suas bonificações anuais para US$ 62 mil.