A decadência

O PalmOS já foi o sistema operacional mais usado em palmtops. Com o início da era dos smartphones, a Palm lançou a linha Treo, baseada no PalmOS 5.4 (Garnet), que acabou sendo o último major release dentro da plataforma. Devido a um conjunto de problemas internos, o desenvolvimento do PalmOS está praticamente parado desde 2004, o que torna o futuro do sistema bastante incerto. A Palm continua lançando novos modelos baseados em versões levemente atualizadas do Garnet, mas os quatro anos sem grandes atualizações pesam sobre o sistema, fazendo com que ele seja deficiente em diversas áreas. Tanta coisa não funciona que seria mais fácil enumerar o que ainda não está quebrado.

Um bom exemplo é o suporte a Java. A plataforma Palm nunca teve uma implementação do Java completamente funcional, mas a Palm distribuiu uma versão portada do IBM WebSphere entre 2004 e o início de 2008, que funcionava de forma precária, rodando apenas alguns aplicativos mais simples. Mesmo aplicativos populares, como o OperaMini e o Gmail Mobile, produziam erros que travavam os aparelhos, obrigando o dono a fazer um soft-reset e esperar mais de um minuto até que o aparelho reiniciasse e sintonizasse a rede, para só então poder voltar a trabalhar.

Os problemas de instabilidade eram crônicos no Treo 650, onde o Java era simplesmente inutilizável e menos severos (embora ainda presentes) no Treo 680 e no Palm Centro. Entretanto, visando cortar custos, a Palm decidiu não renovar a licença e encerrar a distribuição em janeiro de 2008:

A boa notícia é que os usuários passaram a não mais perder tempo com uma implementação do Java que não funciona como deveria. A má é que a plataforma deixou de ser compatível com o Java, deixando de rodar aplicativos que tomamos como certos, como o OperaMini e o Gmail Mobile. O lento e limitado Blazer passou a ser a única opção de navegador, e as únicas formas de acessar sua conta do Gmail passaram a ser a interface web, e o acesso via POP/IMAP usando o VersaMail.

Uma última esperança é este tópico do Java.Net, onde voluntários para um porte do phoneME para o Garnet estão sendo recrutados: http://forums.java.net/jive/thread.jspa?messageID=283248

Apesar de tudo, os Palms ainda rodam os aplicativos nativos do PalmOS, uma reserva nutritiva acumulada na época em que ainda se desenvolvia para a plataforma. Antigamente, Palm era sinônimo de organizador pessoal e a plataforma era a preferida pelos desenvolvedores. Entretanto, a plataforma começou a definhar com o crescimento do Symbian, do Windows Mobile e do Java. O PalmOS continuou sendo usado apenas nos aparelhos da própria Palm, que representavam apenas uma pequena fatia das vendas de smartphones.

Em 2003, a Palm foi dividida em duas: a Palm One, que ficaria responsável pelo hardware, e a Palm Source, que ficaria responsável pelo desenvolvimento do sistema. A divisão acabou sendo fatal, pois as duas empresas não conseguiram coordenar os esforços e acabaram por se tornar concorrentes.

A Palm Source foi comprada pela Access (uma empresa japonesa especializada em soluções móveis) em 2005, que rapidamente anunciou que o Garnet seria substituído pelo Access, uma nova plataforma, baseada em Linux. Com isso, os poucos desenvolvedores que ainda programavam para a plataforma paralisaram as atividades, esperando pelo novo sistema. O Access foi então sucessivamente adiado; inicialmente para 2006, depois para 2007, depois para 2008 e agora para 2009, o que fez com que mesmo os mais insistentes migrassem para outras plataformas.

Nesse tempo, muita coisa mudou. O Windows Mobile cresceu em aceitação, o Symbian se tornou open-source e o Google anunciou o Android, outro sistema aberto, que também é baseado em Linux. Mesmo que o Access realmente veja a luz do dia em 2009, a procura por ele será pequena.

Em outras palavras, o PalmOS está morto e é improvável que deixe descendentes. Tanto os usuários quanto os desenvolvedores já migraram ou estão migrando para outras plataformas. Uma frase que definiria a atual situação seria: “o último que sair apague as luzes”.

A Palm One (a divisão de hardware, que mais tarde voltaria a se chamar apenas “Palm”), por sua vez, ficou limitada a licenciar o Palm OS Garnet, sem ter como fazer grandes modificações ou atualizar o sistema. Isso explica porque o Treo 650 (lançado em 2004), o Treo 680 (lançado em 2006) e o Palm Centro (lançado em 2007), são virtualmente idênticos com relação ao software. A Palm se esforçou em recauchutar e remendar o sistema, instalando alguns aplicativos e módulos adicionais (como a versão nativa do Google Maps incluída no Centro), sem conseguir ir muito longe.

Com isso, o Palm Centro acabou sendo uma opção muito ruim de smartphone. Novos usuários se deparavam com um aparelho caro (US$ 399 nos EUA e R$ 1.099 no Brasil) e limitado, que não era sequer capaz de rodar aplicativos em Java, enquanto usuários antigos da plataforma Palm, que dependiam de alguns aplicativos específicos, preferiam simplesmente manter seus aparelhos antigos, já que o Centro não oferecia grandes vantagens em relação aos modelos anteriores.

A Palm, ciente da implosão da plataforma, mas sem muitas escolhas, passou a fabricar aparelhos baseados no Windows Mobile, como o Treo 700w, o Treo 750w e o recém anunciado Treo Pro. Com isso, ela acabou se tornando apenas mais uma empresa que produz smartphones baseados na plataforma da Microsoft, se esforçando para se manter competitiva frente a concorrentes muito maiores, como a HTC e a Samsung.

Com a falência generalizada da plataforma, sobram os usuários que ainda dependem dos milhares de aplicativos desenvolvidos para o PalmOS. Se você é um deles, tem basicamente duas opções. A primeira é simplesmente manter seu aparelho atual, enquanto busca alternativas. A Palm ainda deve continuar fabricando aparelhos baseados no PalmOS por algum tempo, e sempre existe a opção de comprar outro aparelho usado, caso o seu pare de funcionar por defeitos de hardware.

Outra solução é rodar os aplicativos sobre um aparelho com o Windows Mobile ou com o Symbian, usando o StyleTap, disponível (US$ 49, com trial de 14 dias) no https://styletap.com/:

Como todo emulador, ele possui um overhead relativamente alto em termos de desempenho, mas isso não é um problema no caso de aplicativos desenvolvidos para os Palms antigos, que utilizam processadores de 40 MHz ou menos.

Uma limitação é que a maioria dos aparelhos com o Windows Mobile ou Symbian utilizam telas QVGA, enquanto os Palms utilizavam telas de 160×160 ou 320×320. Com isso, o emulador é obrigado a escalonar a imagem, o que prejudica a legibilidade.

O StyleTap funciona melhor nos Pocket PCs, que utilizam telas sensíveis ao toque, já que os aplicativos do PalmOS são todos baseados no uso da stylus. Nas versões para o Windows Mobile Standard e para o S60, você precisa controlar um cursor virtual usando o direcional, o que não é prático.

Enquanto escrevo, o StyleTap para Symbian ainda está em versão beta, e você precisa se cadastrar para baixar a versão de demonstração. Está em desenvolvimento também uma versão para o iPhone.

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