Capítulo 5: Ubuntu

Diferente de distribuições como o Debian e o Fedora, que seguem um modelo comunitário, ou de distribuições como o Slackware, que seguem o modelo de “ditador benevolente”, o Ubuntu é desenvolvido por uma empresa, a Canonical, que possui um modelo de negócios em torno do sistema, baseado na venda de suporte e contratos para uso em empresas e servidores. Isso faz com que o desenvolvimento do sistema seja centralizado e bem organizado, com um fluxo de trabalho constante, já que além de voluntários, o sistema conta com uma grande equipe de desenvolvedores pagos. Também existe uma grande rede de suporte em torno do sistema, com fóruns, documentação, múltiplos links de download e assim por diante, centralizados no ubuntu.com. A Canonical oferece até mesmo o Ubuntu One, um serviço de armazenamento em nuvem para os usuários do sistema, nos moldes do Dropbox.

Na versões recentes, o sistema vem se tornando surpreendentemente bem integrado, com um bom suporte de hardware (incluindo detalhes como suporte a teclas especiais nos notebooks, gráficos híbridos e assim por diante), com boas ferramentas para configuração de impressoras, rede, bluetooth, e assim por diante. Grande parte disso pode ser atribuído ao fato de o sistema ser distribuído na forma de um sistema Live, que é essencialmente uma imagem pré-instalada do sistema que roda a partir do CD e pode ser também instalada, diferente de distribuições mais tradicionais, onde o sistema é fornecido “desmontado” na forma de pacotes e o instalador se encarrega de montar tudo baseado nas suas escolhas. O modelo live facilita o desenvolvimento na parte da experiência de uso e os desenvioladores do Ubuntu têm tirado proveito disso para oferecer um sistema bem integrado.

Embora o Ubuntu seja atualizado de seis em seis meses, quem está interessado em estabilidade deve se limitar às versões LTS, que são lançadas a cada 18 meses (com dois releases “normais” antes de cada novo LTS) e são suportadas por nada menos do que 5 anos, permitindo que você instale o sistema uma vez em um PC novo e simplesmente continue usando-o por toda a vida útil do equipamento, apenas instalando as atualizações de segurança, sem nunca precisar reinstalá-lo.

A disponibilidade das versões LTS e do longo ciclo de suporte para elas é um dos principais pontos fortes do Ubuntu, que torna o sistema recomendado para uso profissional e também para a instalação em PCs destinados a familiares, escolas e etc., onde você quer instalar o sistema uma vez e mantê-lo funcionando com pouco esforço.

Todas estas vantagens entretanto têm um preço, que são o fato de o desenvolvimento do sistema estar atrelado aos interesses de uma empresa, lembrando em alguns quesitos o modelo de desenvolvimento da Apple, oferecendo um sistema bem acabado, mas que é por outro lado menos personalizável que outras distribuições e que não necessariamente segue os rumos que a maioria dos usuários desejam.

Um bom exemplo disso foi a adoção do Unity como interface padrão, substituindo o GNOME ao qual os usuários estavam mais acostumados. O Unity surgiu da estratégia da Canonical de levar o Ubuntu a tablets e outros dispositivos, oferecendo uma interface com melhor suporte a gestos e a telas touch, um movimento que lembra um pouco o Metro e a ênfase em tablets que a Microsoft adotou no Windows 8. Além de não terem tido muita voz no processo, os usuários enfrentaram tempos difíceis nas versões 11.04 e 11.10, enquanto o Unity ainda não estava suficientemente polido e carecia de opções básicas de configuração. As coisas voltaram aos eixos no 12.04 LTS, onde além de termos uma versão mais bem acabada do Unity (com direito a algumas opções de configuração através do MyUnity) é possível voltar ao visual clássico com a instalação de um único pacote, o “gnome-panel”.

Em resumo, o Ubuntu pode não ser a distribuição mais personalizável e (com a possível exceção das versões LTS) nem a mais estável. Entretanto, a grande disponibilidade dos CDs de instalação e toda a estrutura de suporte criada em torno da distribuição, acabaram fazendo com que ele se tornasse uma espécie de “default”, uma escolha segura, que a maioria acaba testando antes de experimentar outras distribuições. Esse conjunto de fatores faz com que ele seja a distribuição com mais potencial para continuar a crescer entre usuários “normais”, sem muito embasamento técnico.

Ele é, sob diversos pontos de vista, o oposto exato do Slackware. No Slack, a principal dificuldade é entender como o sistema funciona, conseguir configurá-lo e instalar os aplicativos que quer usar. A estrutura é relativamente simples e você tem total liberdade para fuçar e brincar com o sistema (já que consertá-lo é quase tão fácil quanto quebrá-lo), mas, em compensação, quase tudo precisa ser feito manualmente.

O Ubuntu, por outro lado, segue uma lógica completamente diferente, tomando decisões por você sempre que possível, mostrando apenas as opções mais comuns e escondendo a complexidade do sistema. Isso faz com que ele seja usado por um volume muito maior de usuários, uma vez que oferece respostas para dificuldades comuns, como instalar o sistema, configurar a rede wireless, instalar uma impressorae assim por diante.

Apesar disso, essa abordagem tem também seus problemas, já que a estrutura mais complexa torna mais difícil solucionar problemas inesperados, ou configurar o sistema de formas incomuns. O grande volume de serviços carregados por padrão e o grande volume de bibliotecas e componentes, fazem com que o sistema seja mais pesado e consuma mais memória do que distribuições mais espartanas (como no caso do Slackware ou mesmo do Debian), o que torna imprático o uso em máquinas muito antigas, ou com menos de 512 MB de RAM. Como pode ver, nenhum sistema é perfeito e é justamente por isso que temos várias distribuições. Vamos então aos detalhes sobre a configuração do Ubuntu de um ponto de vista mais técnico.

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