Três sabores de Wine

Existem atualmente três sabores do Wine. O original, encontrado no http://www.winehq.com é um projeto cooperativo, patrocinado por algumas empresas interessadas nas possibilidades abertas pelo software, como a Transgaming.

Originalmente, o Wine era disponibilizado com uma licença própria, semelhante à do Free BSD, que permitia que outras empresas utilizassem o código para portar seus aplicativos para o Linux, como foi o caso do Corel Draw e do Corel Photopaint, mas sem que estas tivessem a obrigação legal de compartilhar os avanços feitos com os desenvolvedores.

Mas, depois de alguns problemas com a Corel, decidiram disponibilizar todos os novos avanços sob a licença LGPL, que possui termos muito semelhantes à da licença GPL. Ou seja, quem utilizar o código do Wine para desenvolver algum novo produto, terá de devolver os avanços feitos à árvore de desenvolvimento.

Os outros dois projetos, o Codeweavers e o Wine-X são mantidos por empresas, que naturalmente pretendem ganhar algum dinheiro vendendo os produtos ou licenciando tecnologia.

A Codeweavers desenvolve uma versão aperfeiçoada do wine, que possui uma instalação mais fácil e oferece compatibilidade com um número um pouco maior de aplicativos. Esta versão é gratuíta e pode ser baixada no http://www.codeweavers.com

Temos ainda dois produtos comerciais, o CrossOver Plug-in, que permite instalar o Windows Media Player, Shockwave, Real Video e outros plug-ins, tornando-os compatíveis com o Mozilla, Netscape e outros navegadores for Linux.

O CrossOver Office, cuja versão 1.1 foi lançada recentemente é o segundo filho, que permite rodar o Microsoft Office, Lotus Notes e mais alguns aplicativos. Na versão atual foi adicionado o suporte a Internacionalização, o que permite rodar o Office 2000 em português e foi melhorado o recurso de antialising das fontes, graças à tecnologia clear type licenciada da Apple, tornando-as tão legíveis quanto no Windows.

O CrossOver Office custa US$ 54,95 e o CrossOver Plug-in (que possui uma versão demo gratuíta, que pode ser usada por tempo ilimitado, mas que exibe uma janela cada vez que um dos plug-ins é inicializado) sai por US$ 24,95.

A equipe do Codeweavers contribui com uma grande quantidade de código para a árvore de desenvolvimento do Wine, apesar de não disponibilizar o código tanto do CrossOver Office quanto do CrossOver Plug-in.

O Wine-X, desenvolvido pelo Transgaming é uma outra história. O software permite rodar um grande número de jogos for Windows no Linux. O trabalho segue a mesma idéia do Cross-Over da Codeweavers: implementar uma a uma as chamadas e recursos utilizados pelos títulos a serem suportados. No caso do Wine-X o trabalho se concentra em adicionar suporte às chamadas Direct-X, convertendo-as em chamadas OpenGL, que são finalmente executadas pela placa de vídeo e no suporte às proteções anti-cópia usadas nos CDs dos jogos.

É justamente este último recurso o responsável por um grande problema do Wine-X. A maioria destes sistemas de segurança utiliza algum tipo de área protegida, ou algum sistema de autenticação incluído no CD original e verificado pelo executável do game ao ser executado. Sem suporte à verificação o executável pensa tratar-se de um CD pirata e não roda. Porém, para suportar estas chamadas é necessário incluir alguns módulos proprietários, que não podem ter seu código aberto devido ao DCMA, uma lei em vigor nos Estados Unidos que impede a distribuição de qualquer código que permita quebrar as proteções usadas pela indústria nos CDs e DVDs e em outros formatos de distribuição de conteúdo digital.

O DCMA é uma lei estúpida que está atrapalhando o desenvolvimento da informática em várias áreas e já foi responsável pela prisão de várias pessoas, como por exemplo do Russo Dimitri Sklyarov, que havia desenvolvido um software que quebrava a proteção dos e-books gerados usando o software da Adobe. O “Advanced E-Book Processor” era perfeitamente legal na Rússia, onde pela lei os usuários podem fazer cópias de segurança de qualquer conteúdo legalmente adquirido, mas não nos EUA. Ele acabou preso ao aceitar o convite para uma palestra em solo Americano.

Vários softwares popularmente usados, como por exemplo o libdvdread, que permite assistir DVDs protegidos no Linux são considerados ilegais nos EUA e só puderam ser desenvolvidos por que seus autores residem em outros países.

É preocupante ler comentários nas listas de desenvolvimentos de vários programas que usam chaves de encriptação forte, ou qualquer outra tecnologia que possa contrariar os interesses do governo Americano ou de qualquer grande empresa, discutirem a possibilidade de hospedarem seus sites na China, Rússia, ou em qualquer local remoto, onde não possam ser facilmente tirados do ar devido à processos ou outras ações desencadeadas pela parte mais forte.

Como a Transgaming é uma empresa Americana, eles não têm escolha a não ser manter proprietários os módulos que permitem ler os CDs protegidos. Isto impede que eles possam respeitar a licença LGPL do Wine, e conseqüentemente que utilizem todos os recentes avanços, disponibilizados na nova licença.

Como uma solução parcial, foi feito um acordo com os desenvolvedores do ReWind, uma “dissidência” do projeto Wine que mantém a licença antiga. Com a ajuda destes desenvolvedores a Transgaming pretende conseguir adicionar todos os recursos necessários para continuar o desenvolvimento do software, oferecendo em troca partes do código, que serão incorporados ao ReWind e através dele finalmente chegarão ao Wine.

De qualquer forma, a perspectivas são bastante animadoras. Um a um os principais jogos estão passando a ser suportados, numa lista que já inclui mais de 150 títulos, encabeçados pelo Warcraft 3, Counter Strike, Max Paine, Diablo II, The Sims, Mith, Caesar III e outros.

A longo termo a idéia é tornar os jogos compatíveis com outros sistemas operacionais, como o MacOS e outras plataformas de hardware, como handhelds e video-games que eventualmente tenham poder de processamento suficiente para rodar o software, criando uma espécie de plataforma universal para games.

A idéia do Cross-Over Plug-in e do Wine-X é justamente combinar o suporte a mais aplicativos com uma maior facilidade de uso. Afinal, por melhor que seja, um software difícil de usar dificilmente consegue uma grande penetração no mercado. Não é à toa que apesar de todos os problemas, os editores HTML WYSIWYG como o Dreanweaver e o Front Page fazem tanto sucesso.

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