Enquanto o mercado de MSX fervilhava em 1984, a Sony decidiu seguir um caminho diferente. Em vez de competir por especificações, ela apostou em design. O resultado foi o HB-101, conhecido também como Hit-Bit Mezzo. Computador que muitos consideram o mais bonito já fabricado (me incluo nessa lista!).
Disponível nas cores vermelho, preto e marfim, o HB-101 trazia o mesmo coração dos MSX da época, mas se destacava pelo que se via por fora: a estética. Curvas suaves integravam teclado e corpo, dando a sensação de unidade. Nada parecia fora do lugar.
HB-101 e o DNA da Sony: design como diferencial competitivo
Em um tempo em que computadores pessoais ainda eram novidade, a Sony queria que seu MSX parecesse mais com um produto de consumo do que com um equipamento técnico. O designer Mikio Miyashita foi claro: o objetivo era quebrar a imagem “séria” da marca e criar algo que parecesse moderno, acessível e divertido.
O HB-101 inspirou futuramente a linha My First Sony, voltada para crianças, e pavimentou o caminho para o pensamento de design que culminaria em produtos como o VAIO, o AIBO e até o PlayStation 4.
O que era o MSX — e por que tantas marcas apostaram nele?
O HB-101 fazia parte de uma grande família: os computadores MSX. Essa sigla, que ganhou diferentes interpretações ao longo do tempo (como MicroSoft eXtended ou Machines with Software eXchangeability), batizava um padrão de computadores pessoais lançado em 1983, fruto de uma parceria entre a ASCII Corporation (do Japão) e a Microsoft japonesa, lideradas por Kazuhiko Nishi.
A proposta era ambiciosa: estabelecer um ecossistema unificado — como se fosse um “videocassete dos computadores”. A ideia era permitir que máquinas de fabricantes diferentes compartilhassem o mesmo sistema básico, rodando os mesmos jogos e programas, graças a uma arquitetura padronizada.
Na prática, isso significava que modelos da Sony, Panasonic, Yamaha, Toshiba, Philips, Sanyo e tantas outras marcas falavam a mesma “língua MSX”. Cada fabricante podia personalizar o design e incluir recursos exclusivos, mas todos seguiam um conjunto fixo de especificações técnicas — como o processador Zilog Z80A, vídeo gerado por chip da Texas Instruments, som PSG AY-3-8910 e o sistema MSX-BASIC, desenvolvido pela própria Microsoft.
Cada fabricante podia personalizar o design e incluir recursos extras, mas todos falavam a mesma “língua MSX”. Foi uma solução especialmente importante no Japão e na Europa, ajudando a democratizar o acesso à computação doméstica nos anos 80.
O padrão se tornou referência para escolas, entusiastas e até desenvolvedores de jogos, gerando uma biblioteca riquíssima de software — incluindo títulos icônicos da Konami, Compile, Falcom e ASCII.
No Brasil, o MSX também deixou sua marca. Modelos como o Gradiente Expert e o Sharp HotBit fizeram sucesso nos anos 80, tornando-se porta de entrada para muitos jovens no mundo da informática.
Versão japonesa e europeia
Na versão japonesa, um pequeno joystick analógico embutido entre as teclas de cursor adicionava um toque funcional. O botão “Pause”, uma adição rara nos MSX da época, permitia interromper temporariamente a execução de programas — útil tanto em jogos quanto durante a digitação. Tudo isso em uma carcaça que transmitia uma aura premium, reforçada pelo acabamento em dois tons.
A versão europeia, o HB-101P, trouxe pequenas diferenças: RAM expandida para 32 KB (em vez de 16 KB), ausência do joystick embutido e teclado adaptado com o símbolo da libra esterlina. Ainda assim, manteve o mesmo foco em portabilidade e design sofisticado.
Abaixo algumas imagens do Mezzo postadas no fórum IRIX Net.
Sony, Seiko e o charme da publicidade japonesa dos anos 80
Na campanha do HB-101, a Sony foi além: escalou Seiko Matsuda, uma das maiores celebridades do Japão, para apresentar o computador nos comerciais de TV. Seu carisma ajudou a aproximar a tecnologia do público doméstico — e revelou o quanto a empresa investiu na construção de um produto realmente icônico.
Curiosamente, foi necessário quebrar regras internas da própria Sony Music para que isso acontecesse. A decisão partiu de Nobuyuki Idei, então responsável pela divisão Hit-Bit, que viria a se tornar presidente da Sony.
Já que passamos pelos temas design e Sony, você sabia que o design do PS1, PS2 e PS3 são de autoria da mesma pessoa? Isso mesmo. Temos uma matéria sobre a trajetória de designer japonês Teiyu Goto. Clique abaixo para conferir.
Ele é o responsável pelo design do PS1, PS2 e PS3 (incluindo o controle bumerangue)
Esta postagem foi modificada pela última vez em 11/07/2025 13:15