A saga dos netbooks, parte 1: UMPCs, MIDs e outros bichos

A saga dos netbooks, parte 1: UMPCs, MIDs e outros bichos

Conforme a tecnologia foi avançando, os computadores deixaram de ser mastodontes do tamanho de armários para se tornarem desktops e depois notebooks. Temos ainda os smartphones, que desempenham uma função complementar, servindo como dispositivos de comunicação e gerenciamento pessoal.

Em 2005 a Intel passou a investir nos UMPCs, uma nova categoria de dispositivos, desenvolvidos com o objetivo de preencher o espaço vago entre os notebooks e os smartphones. A idéia era que eles fossem mais portáteis que os notebooks, mas ao mesmo tempo mais poderosos que os smartphones, capazes de rodar versões completas do Windows ou de distribuições Linux atuais.

Originalmente, a plataforma UMPC era um projeto desenvolvido por um conjunto de fabricantes, com destaque para a Intel e Microsoft. O interesse de ambos era óbvio: a Intel pretendia vender mais processadores e chipsets e a Microsoft queria vender mais cópias do Vista.

A idéia era boa: criar uma plataforma de PCs ultra-compactos, menores, mais leves e com uma maior autonomia que os notebooks, equipados com processadores dual-core, aceleração 3D, wireless e, opcionalmente, também a opção de se conectar à web via 3G ou WiMAX. Com um UMPC, você teria um PC que poderia levar com você o tempo todo, carregando seus aplicativos e arquivos, o que permitiria que você se conectasse à web ou assistisse vídeos em qualquer lugar.

Dentro da idéia inicial, até o final de 2006 teríamos UMPCs a preços acessíveis, criando um nicho intermediário entre os notebooks e os smartphones. Quem realmente precisasse de um PC completo, poderia comprar um notebook, enquanto quem quisesse apenas ter um PC portátil, para rodar tarefas leves, poderia usar um UMPC.

Embora a maioria dos protótipos de UMPC não tivesse teclados embutidos, você poderia utilizar um teclado e mouse USB ou Bluetooth, aproveitando para plugar também um monitor externo enquanto estivesse em casa ou no escritório e utilizar o teclado onscreen no restante do tempo.

Apesar disso, o plano não deu muito certo. Os poucos modelos disponíveis inicialmente eram muito caros e as vendas ínfimas, tornando a plataforma mais um objeto de curiosidade, do que uma alternativa real.

Um dos UMPCs mais bem sucedidos até a primeira metade de 2007 (pelo menos do ponto de vista técnico) foi o Sony VGN-UX1XN:

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Ele era baseado em um processador Intel Core Solo (um antecessor single-core do Core 2 Duo), de 1.33 GHz, com 1 GB de memória DDR2 e vídeo Intel GMA 950 integrado. A tela tinha apenas 4.5 polegadas, mas mesmo assim usava resolução de 1024×600. Devido ao tamanho reduzido, o HD foi substituído por um SSD de 32 GB, o que também tornou o aparelho mais resistente a impactos.

Medindo apenas 15 x 9.5 x 3.5cm e pesando apenas 500 gramas, ele se encaixa muito bem no conceito proposto inicialmente. Embora não seja um topo de linha, ele possuía uma configuração poderosa o suficiente para rodar aplicativos gerais.

O problema todo se resumiu a uma única palavra: preço. O VGN-UX1XN custava, em maio de 2007, nada menos que 2000 euros, uma verdadeira bolada. Caso ele chegasse a ser vendido no Brasil, não custaria menos de 10.000 reais.

O mesmo problema afetou todos os outros UMPCs lançados. Ou eles eram muito caros (a maioria dos modelos custava a partir de US$ 1.600), ou possuíam uma configuração muito fraca, ou ainda ambas as coisas combinadas, o que fez com que, sem exceção, todos tivessem vendas medíocres. A realidade mostrou que construir um UMPC com um processador dual-core, capaz de rodar o Vista (ou mesmo o XP) por US$ 500 era uma idéia um pouco à frente de seu tempo.

Apesar disso, a Intel não desistiu de criar uma nova plataforma que se encaixe entre o notebook e o smartphone e seja capaz de reforçar suas vendas. Surgiram então os MIDs (abreviação de “Mobile Internet Device”):

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A grande diferença entre os MIDs e os UMPCs da safra anterior eram os componentes usados. Em vez de utilizarem processadores Core Solo ou Core Duo, os UMPCs são baseados no Atom, uma plataforma de baixo custo e baixo consumo, que permitiria desenvolver aparelhos mais leves e mais baratos. Em vez de manter a parceria com a Microsoft, a Intel optou por incentivar o uso do Linux, patrocinando o desenvolvimento no Moblin, que oferece uma interface otimizada para as dimensões reduzidas da tela e a ausência do teclado.

Embora alguns modelos tenham sido lançados, os MIDs também falharam em atrair muita atenção, passando a serem vistos mais como uma curiosidade do que como uma alternativa real de compra. A Intel continua investindo na plataforma, incluindo o desenvolvimento do Moblin, mas o interesse por parte do público continua sendo pequeno.

É nesse ponto que chegamos aos netbooks, que conseguiram roubar a cena, fazendo sucesso onde os UMPCs e MIDs falharam.

Segundo uma pesquisa da DisplaySearch os netbooks corresponderam a quase 20% do total de notebooks e portáteis vendidos no primeiro trimestre de 2009, um crescimento espantoso considerando que eles são uma febre recente.

Muitos argumentam que os netbooks são inadequados para uso prolongado, já que as telas e os teclados pequenos são desconfortáveis, sem falar no baixo desempenho dos processadores e outras limitações. Entretanto, é muito raro encontrar alguém que usa um netbook como PC primário. Quase sempre, ele é usado como um PC secundário, fazendo par com um PC ou um notebook maior. Essa divisão permite que eles se especializem em tarefas rápidas, como navegar e checar os e-mails.

Nada impede também que você ligue o netbook a um monitor externo e use um teclado e mouse USB quando estiver em casa.

Apesar da enorme oferta de modelos, todos os netbooks da safra atual possuem um antepassado comum: o Intel Classmate, sobre o qual escrevi em 2007.

A idéia do Classmate era oferecer um notebook de baixo custo para uso em escolas de primeiro e segundo grau, construído usando componentes da Intel. Como o objetivo da equipe era oferecê-lo para governos e escolas por menos de US$ 200 a unidade, ele acabou sendo montado usando os componentes mais baratos que a Intel tinha à disposição na época, combinando uma versão castrada do Celeron ULV de 900 MHz (com o cache L2 desabilitado), um chipset Intel 915GMS, 256 MB de RAM e um SSD de 2 GB (com chips de memória Flash MLC e ligado ao barramento USB para não precisar adicionar uma interface SATA).

O desempenho não era nada espetacular, mas ele atendia ao que se propunha, oferecendo um mini-notebook relativamente barato e leve:

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O projeto do Classmate foi disponibilizado aos fabricantes de hardware, que ficaram livres para produzir versões próprias do Classmate, usando processadores e chipsets da Intel.

O Classmate propriamente dito nunca chegou a ser produzido em volume, o que fez com que o preço de venda ficasse bem acima dos US$ 200 propostos e ele acabasse sendo usado apenas em alguns projetos piloto em escolas (com resultados variados). Entretanto, a decisão de permitir que os fabricantes desenvolvessem versões modificadas acabou se revelando decisiva, dando origem aos inúmeros de modelos de netbooks que invadiram o mercado.

O primeiro deles foi o Eee PC 701, que todos conhecemos. Ele surgiu como uma versão “de consumo” do Classmate, um mini-notebook de baixo custo (inicialmente se falava em um preço final abaixo dos US$ 200), leve e fácil de transportar:

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Embora tenha chegado ao mercado com um atraso de quase 6 meses e bem mais caro que o esperado, o Eee PC acabou se tornando um sucesso instantâneo. Embora a tela fosse minúscula, o touchpad terrível e o teclado bastante desconfortável de usar (sem falar do SSD de apenas 4 GB) ele desempenhava bem o papel de segundo micro, permitido acessar os e-mails e fazer tarefas rápidas sem precisar carregar um notebook de 3 kg na mochila.

Pouco depois, foi lançado o Eee PC 900, que manteve o mesmo formato básico, mas se tornou um pouco maior, acomodando uma tela de 8.9″ de 1024×600 e um touchpad mais confortável, que corrigiram duas das principais limitações do Eee original:

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Outra mudança foi a inclusão de um segundo SSD de 8 ou 16 GB, complementando o SSD primário de 4 GB. A divisão permitiu que a Asus utilizasse chips de memória Flash mais lentos (porém mais baratos) no segundo SSD, reduzindo os custos.

Assim como em um HD com duas partições, a idéia era que o SSD de 4 GB fosse usado para instalar o sistema e o outro fosse usado exclusivamente para armazenar arquivos, tarefa onde a baixa velocidade de gravação não atrapalhasse muito.

Outra diferença entre os dois modelos era o clock do processador. Ambos eram baseados no mesmo Celeron ULV de 900 MHz, mas no Eee 701 ele era underclocado para 630 MHz, o que comprometia o desempenho.

Vendo toda a onda de interesse em torno dos netbooks a Intel se apressou em finalizar o Atom, que chegou ao mercado no segundo semestre de 2008, rapidamente substituindo o Celeron ULV em quase todos os modelos.

Embora o desempenho de um Atom de 1.6 GHz não seja muito diferente do oferecido pelo Celeron ULV de 900 MHz usado na safra anterior (o Atom chega a perder para o Celeron em algumas tarefas, apesar do clock mais alto), o consumo elétrico mais baixo e todo o hype criado em torno da plataforma acabaram fazendo com que ele se tornasse um sucesso instantâneo.

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