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Carlos Alberto
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Presidente do ITI defende software livre

#1 Por Carlos Alber... 14/06/2003 - 02:58
Agora é oficial: o Brasil tem uma política para software livre. Representantes do governo federal estiveram presentes no último Fórum Internacional do Software Livre e a empolgação pelo uso de Linux na administração pública deixou claro o caminho brasileiro.

O governo quer adotar Linux nas escolas e nas organizações. Já foram criadas duas câmaras do governo eletrônico relacionadas ao tema: Inclusão Digital e Software Livre. O Instituto da Tecnologia da Informação (ITI), ligado ao Ministério da Casa Civil, será o catalisador das mudanças. O presidente do instituto, Sérgio Amadeu, contou para a Magnet como ocorrerá a transformação.

Magnet: Como o governo pretende formar mão-de-obra especializada em Linux?

Sérgio Amadeu: Se nós começarmos a comprar software livre, obviamente irá se ampliar o mercado e as empresas vão procurar cada vez mais esse tipo de profissional. Assim, será muito interessante ter formação em Linux e o mercado terá um movimento natural nesse sentido. Além disso, pretendemos fazer acordos com universidades para montar centros de excelência. Já estamos de olho em universidades com pesquisas em software livre mas a idéia de ampliar estes planos é recente. O primeiro convênio que temos é com a Cidade do Conhecimento da USP mas pretendemos criar outros. A aposta principal é juntar o que já existe de desenvolvedores da comunidade Linux para disseminar também o uso do software livre. Eles já são como um exército ao nosso favor.

M.: Quando o governo vai ter programas nativos para o Linux, como por exemplo o software da Receita Federal para o imposto de renda? E para Mac?

S.A.: O Serpro já está finalizando alterações no software atual e a partir do ano que vem deveremos ter isso. O Wolney (presidente) do Serpro havia dito que já estava pronta pelo menos a versão para Linux do software para o imposto de renda.

Eu defendo que o governo nunca obrigue um usuário a utilizar determinada plataforma. Deste modo, tudo o que pudermos fazer com outros sistemas operacionais e outros browsers faremos sem dúvida. Também defendo a inclusão da comunidade Mac em iniciativas tecnológicas. Não acho que o Mac OS seja o sistema ideal e nem é nossa idéia incentivar sistemas proprietários. Mas é um absurdo ignorar, tratar o usuário de Mac como se ele não existisse.

M.: Qual vai ser a politica com as universidades federais?

S.A.:Temos um plano para escolas que vai ser implantado gradativamente. As universidades federais têm autonomia universitária, contamos com elas para nos ajudar mas em nenhum momento podemos interferir com políticas diretas. Os responsáveis pelas universidades federais são os próprios reitores. Gostaríamos que todas utilizassem software livre também mas tudo tem seu ritmo de implantação e não podemos interferir nisso.

Na política para educação envolveremos também o MEC. O ministério será importante na conexão entre escolas e treinamento de professores e já participa ativamente da Câmara do Software Livre.

M.: Será feita a migração dos sistemas do governo federal?

S.A.: Sim. A idéia é preferir o software livre até porque os sistemas proprietários exigem atualizações que não fazem sentido pagar. Claro que podem haver exceções. Grandes sistemas antigos que funcionem com software proprietário sem problemas e não necessitem de atualizações serão mantidos.

O Rogério Santana (ex-Procempa), atual secretário de Logística do Ministério do Planejamento, deixou claro que talvez não seja interessante ou economicamente viável migrar esses grandes sistemas. Iremos migrar então o que pode ser uma transformação bem-sucedida e o que reduzirá custos. Também teremos parcerias internacionais e locais nessa migração e apenas o que for do interesse nessas parcerias será migrado. Queremos evitar implementação de atualizações. Mas temos sistemas antiquíssimos em software proprietário que não precisam de implementações, funcionam bem. Então, toda migração passará por uma avaliação. A migração não será feita, no entanto, com lentidão, mas com rigor.

M.: Quanto o Brasil gasta com licenças de software por ano?

S.A.: Não temos ainda o dado específico com licenças mas outros números podem ajudar a dar uma dimensão. Sabemos que o Brasil remete anualmente para o exterior cerca de US$ 1,2bi (gasto com TI) e US$ 1,1bi (gastos em royalties). Exatamente o quanto desses montantes é de licenças de software, eu pedi ao Banco Central para apurar. A estimativa é que pelo menos um terço disso seja dinheiro para licenças de software (US$ 760mi).

M.: Existe algum programa de ajuda a desenvolvimento de software livre?

S.A.: Ainda não, mas vai existir. Estamos conversando com a Softex e o BNDES e a idéia é incentivar o desenvolvimento de soluções em software livre.

M.: O governo pretende fazer parcerias com empresas produtoras de hardware, para que se possa comprar máquinas com o Linux instalado e certificado?

S.A.: Sempre pensei na questão do hardware. Não posso garantir que o governo teria como forçar isso mas com o começo da política de software livre, as empresas vão começar a pensar nisso. Atualmente o varejo imagina que as pessoas não vão comprar um PC com Linux porque não saberiam utilizá-lo. Quando notarem o incentivo ao software livre chegarão os primeiros PCs com Linux. E as pessoas comprarão estas máquinas porque elas serão muito mais baratas. E é aí que tudo vai mudar.

M.:Obviamente a decisão de apoiar o software livre irá incomodar empresas multinacionais que vendem software proprietário. Como você vê a oposição dessas empresas e como pretende responder às pressões para não utilizar software livre?

S.A.: Não estou preocupado com isso. É um absurdo que empresas sediadas nos EUA interfiram em compras do governo brasileiro. Ninguém está proibindo empresas como Microsoft, por exemplo, de participar das concorrências do governo. Mas para estar de acordo elas teriam que abrir o código de seus softwares para todos. A questão do software livre não é meramente técnica, é de autonomia na tecnologia nacional. Também não estamos fazendo isso ligado a interesses partidários, não é algo exclusivo do PT. Diversass forças políticas brasileiras estão envolvidas nisso, inclusive o PMDB. Todos os que preferem a autonomia tecnológica nacional.

Caso nos pressionem, serão pressões irrelevantes. A relevância aqui é clareza, a segurança e a redução de custos que o software livre proporciona. O software livre aumenta a autonomia tecnológica brasileira. Quem vier pressionar contra essa escolha tem que mostrar que oferece tantos ganhos como com o software livre. (Suspiro) Não consigo entender como uma empresa multinacional pode querer dirigir um país. Uma companhia tem que agir como tal e não como um lobby político querendo dominar um país.
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