Linux numa revista de negócios

Mais um artigo apontando o crescimento do Linux na América Latina, desta vez numa revista de negócios voltada para a América Latina, a AmericaEconomia.

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Tecnologia
O pingüim ataca outra vez!

Pior para a Microsoft, que sofre com o avanço do Linux e do software livre. Brasil e América Latina são o novo campo de batalha

Max Alberto Gonzales e Francisca Vega
São Paulo, Brasília e Santiago

Num auditório localizado no subsolo de uma empresa estatal em Brasília, no início de dezembro, cerca de duzentos diretores, gerentes e programadores de software ligados à administração pública brasileira arregalam os olhos quando surge um rosto não muito conhecido no telão. Trata-se do professor da Universidade de Stanford Lawrence Lessig, consultor do governo norte-americano no processo antitruste movido contra a Microsoft Corporation, no final dos anos 90. Lessig preside a Free Software Foundation (FSF), entidade defensora do software livre, cujo maior símbolo é o pingüim que representa o sistema operacional Linux. "O passo que o Brasil dá hoje é extremamente significativo", diz, em voz entrecortada pela transmissão via satélite. "O Brasil reconhece que o código produzido pelas pessoas pode ficar disponível para todos", completa Lessig, sob aplausos eufóricos da platéia, esmagadoramente pró-Linux e anti-Microsoft, o ícone do software proprietário.

A cena tem grande simbolismo na arena tecnológica latino-americana. Ao anunciar que seria o primeiro país do mundo a homologar oficialmente a Licença Geral Pública (CC-GPL) da FSF, que permite compartilhar programas livremente, o governo do Brasil avança na política oficial para adotar massivamente o Linux — o sistema operacional cujo código-fonte é aberto e qualquer pessoa pode usá-lo e modificá-lo, sem obrigatoriamente de pagar royalties ou licenças.

O ato brasileiro colocou um pouco mais de lenha na fogueira de uma verdadeira guerra santa tecnológica entre a Microsoft e os defensores do modelo de software livre baseado em Linux. "Nosso negócio não é perder tempo com o passado (na plataforma Windows), mas garantir que o Linux se afirme", diz Sérgio Amadeu da Silveira, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), criado pelo governo Lula para gerir a política tecnológica oficial e implementar o software livre na administração pública. "Queremos reduzir o pagamento de licenças de computador, que chega a US$ 1 bilhão por ano", diz Amadeu, referindo-se ao valor pago pelo Brasil em software estrangeiro. O próprio governo brasileiro não sabe exatamente quanto gasta, pois as licenças estão embutidas em diversos itens do Orçamento da União.

Enquanto isso, em uma envidraçada sala de reuniões, no 31º andar de um moderno prédio em São Paulo, a Microsoft reage, classificando a questão de "ideológica". "Nós brigamos para que não haja leis que imponham uma solução tecnológica. Os dois sistemas (Windows e Linux) estão aí para ficar e nós queremos competir", diz Lisa Poloni, diretora de Assuntos Institucionais da Microsoft Brasil. Ela refere-se ao projeto de lei 2.269/99 que está na fila de votação no Congresso Nacional. Se aprovada, a lei obrigará a administração pública a adotar preferencialmente soluções em software livre.

Em Curitiba, Rodrigo Stulzer, diretor de produtos da Conectiva, a maior distribuidora latino-americana de software Linux, diz que a Microsoft chora de barriga cheia. "Havia muitos absurdos, como licitações públicas exigindo Word, Excel ou Windows, o que fere a lei. É como fazer uma licitação de caminhões, desde que sejam Volkswagen", diz Stulzer. "É preciso colocar funcionalidades (dos programas), aí se compete em pé de igualdade."

A questão é como o governo irá separar tecnologia e ideologia em uma avaliação que ainda divide as empresas. O certo é que na América Latina, onde os governos vivem falidos, o pingüim escancaradamente quebrou a vidraça da janelinha da Microsoft.