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Monica Gurzoni
Monica Gurzo... Membro Senior Registrado
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Internet via cérebro, chip na cabeça

#1 Por Monica Gurzo... 25/05/2010 - 11:45
Pessoal, esse texto não é notícia, mesmo porque é de 1999. Mas, achei bastante relevante...

Internet via cérebro


Byte-papo com Flávio Joaquim de Souza, doutor em Inteligência Computacional

Internet via cérebro, chip na cabeça, homens vivendo por mais de 500 anos. Enquanto muitas previsões anunciam um amanhã medonho e apocalíptico para a humanidade, alguns pesquisadores apostam em um futuro otimista. Imagine a cena: você está andando no calçadão da praia e recebe, telepaticamente, uma mensagem de um amigo norueguês. Imediatamente, o chip acoplado em sua nuca recebe a informação de um neurônio para que entre em contato com a Noruega via Internet usando o cérebro como modem. Pura ficção? Você ainda não viu nada...

Aguce mais sua criatividade: imagine aquele dia em que acorda com um baita mau-humor. Depois de escovar os dentes, dá um pulinho na cozinha para tomar o café da manhã. Ao chegar lá, recebe um bom dia bem feliz do James, um andróide que faz o serviço doméstico na sua casa. Como você não está muito para conversa, dá aquela resposta atravessada a ele, e percebe que feriu os sentimentos do robô. Será um filme futurista? Não. É a ciência prevendo o futuro.

Uma breve introdução

Buscando tornar os computadores cada vez mais semelhantes ao homem, a Ciência da Computação, uma área pouco conhecida no Brasil, começa a ganhar terreno. Se o ser humano é capaz de reconhecer o rosto de outra pessoa, fazer classificações, enfim, atividades que demonstrem um grau de inteligência, a Ciência da Computação investe na máquina para auxiliar na evolução do homem. É a Inteligência Computacional, nome atualmente preferido para o que antigamente era conhecido como Inteligência Artificial.

Através de suas técnicas, a Inteligência Computacional permite às máquinas utilizarem sistemas que permitam tomadas de decisões, reconhecimento de imagens, controle e automação industrial, entre outras coisas, contribuindo para serviços mais eficientes e velozes. Batemos um papo com Flávio Joaquim de Souza, doutor em Inteligência Computacional pela PUC-Rio e professor do Departamento de Sistemas e Computação da Faculdade de Engenharia da UERJ, que nos explicou como a tecnologia pode ajudar o homem no futuro.

? - Qual a sua previsão para o futuro?
Flávio Joaquim de Souza - Sou bem otimista quanto ao futuro, mas há até pouco tempo não era. Ultimamente algumas coisas começaram a clarear para mim. Vejo que a atual tecnologia de Internet, computadores e telefonia celular vão se integrar numa única coisa. O computador do futuro será bem diferente do que estamos acostumados. Podemos pensar em algo bem menor (0,5 mm por 5mm), mais leve e com menos consumo de energia. Muitos pesquisadores da área prevêem que será um pequeno chip embutido na nossa nuca. Parece loucura, mas isso ficou mais nítido para mim quando Bill Gates, há uns três anos, foi perguntado em uma entrevista sobre como seria o computador do futuro. Ele respondeu que seria um chip de silício embutido atrás da nuca.

? - E o que faremos com estes chips implantados?
FJS - Usando este chip, que deverá ser bem barato, por volta dos US$ 50 ou menos até, com Internet e telefonia celular implantadas nele, seremos capazes de enviar mensagens telepaticamente. Esta já é uma potencialidade que temos em nosso hardware (o cérebro) e não a utilizamos por falta de desenvolvimento de software mental. É como o surdo que acaba mudo por não ouvir outros falando para imitar. Quando formos capazes de produzir programas mentais que ativem estas partes do cérebro, isso tudo será possível. Com a aproximação homem e máquina, poderemos desenvolver novas aptidões que já temos e não usamos.

? - Seria uma nova forma de pensar o homem e a máquina?
FJS - Se imaginarmos o computador como uma parte material - hardware - e outra imaterial - software - que controla a material, estaremos no caminho correto. O ser humano é semelhante. É hardware - o corpo - e é software - a mente. O erro de Descartes foi separar corpo e mente. Com isso, perdeu-se a idéia do todo. A ciência da computação veio mostrar ao homem, principalmente aos materialistas, que o imaterial controla o material. Hoje em dia, por exemplo, os sistemas financeiros, de segurança nacional (controle de mísseis) e de energia elétrica são todos controlados por computadores. Estes, por sua vez, são administrados por softwares, que são imateriais. Você não pode tocar em um programa. O máximo que faz é pegar o disquete ou CD, ou fazer uma transferência de arquivos via Internet. Mas esses são apenas suportes físicos. O computador sem os programas é como o homem com o cérebro sem oxigênio. Nada faz.

? - A idéia de que só utilizamos 10% do cérebro está com os dias contados?
FJS - Sim. Teremos que desenvolver outras áreas desconhecidas dessa parte de nosso corpo. Imagine que, através da telepatia induzida, não teremos mais a necessidade do telefone. Basta pensarmos em uma determinada pessoa que, portando o mesmo chip, poderá no momento em que eu esteja pensando nela, se conectar ao meu pensamento e conversar comigo telepaticamente, enviando inclusive imagens, sensações, cheiro, gosto.

? - Como será a telepatia?
FJS - O cérebro estará conectado ao chip (computador do futuro) via terminações nervosas (neurônios) e, através de pensamentos, mandaremos um comando cerebral por um neurônio que ativará o chip. Este, por sua vez, ligado por telefonia celular à Internet, vai conectar um endereço de um outro chip acoplado à nuca de outra pessoa. Automaticamente estas pessoas vão entrar em contato direto. Passaremos a usar somente o nosso hardware: o cérebro.

? - Que tipos de impactos isso pode trazer à humanidade?
FJS - Serão transformações muito fortes. As pessoas não vão poder mais se esconder umas das outras através de máscaras. Teremos que desenvolver a tolerância e a compreensão, virtudes bastante esquecidas hoje em dia. Além disso, essa nova convivência deixará todos muito mais próximos uns dos outros. Não fisicamente, e sim em pensamento. Percebemos que a tendência hoje é valorizar o indivíduo. No futuro, o coletivo é que ganha espaço.

? - Como será este período de transição?
FJS - Inicialmente vai ser um período bem difícil. Será o momento em que as máscaras cairão. Desde crianças criamos uma imagem exterior para viver em sociedade. Muitas vezes nós mesmos não conhecemos nosso verdadeiro "eu". Teremos que viver a cruel experiência de nos mostrarmos como somos. Isso vai revolucionar toda a nossa vida. A humanidade precisa de uma mudança interior. Essa mudança será possível através desta tecnologia e da aproximação homem e máquina. Não digo que a tecnologia seja o único caminho. Algumas pessoas naturalmente chegarão lá, mas a maioria precisa do auxílio da tecnologia para atingir a mudança.

? - Será o fim do desemprego?
FJS - O emprego em si vai acabar. O trabalho não. Terá muito trabalho para ser feito. Só que não da maneira a qual estamos acostumados, que alguém contrata o outro para explorar. As pessoas farão o que gostam. Cada vez mais a criatividade, o lazer e a arte serão desenvolvidos e trabalhados. O uso humano dos seres humanos deverá acabar.

? - E as profissões de hoje?
FJS - Os médicos já estão com os dias contados. Em talvez duas décadas, já teremos sistemas de computadores ligados à Internet e a bancos de dados que serão capazes de diagnosticar com muito mais precisão e complexidade que qualquer médico que conhecemos. Hoje, alguns deles já usam sistemas baseados em técnicas de inteligência computacional diagnosticar. No futuro, o médico vai se transformar em terapeuta e o diagnóstico vai ficar a cargo dos computadores. Para alívio e felicidade de muita gente, outra carreira desnecessária no futuro é a dos políticos. A tendência é de que todo cidadão que quiser auxiliar ou propor uma lei, possa colocar o texto na Internet em um determinado site e, através de um plebiscito previamente marcado, essa lei, uma vez aprovada, seja incorporada ao sistema. Chama-se democracia participativa.

? - O que mais poderemos fazer com o minicomputador?
FJS - A visão à distância. Como estaremos ligados na Internet mentalmente, poderemos ter acesso às webcâmeras que já existem espalhadas por todo o mundo e buscar uma imagem de onde quisermos. Além disso, podemos nos conectar ao cérebro de outra pessoa e, através dos olhos dela, obter imagens captadas por estes. Isso serve para todos os sentidos.

? - Como será a convivência entre homem e computador?
FJS - A máquina vai ficar cada vez mais parecida com os seres humanos. Existirão os andróides (Andro = homem, Óides = semelhantes) que falarão diretamente com você, ouvirão sua voz e interpretarão seus sentimentos, fazendo coisas que você determinar.

? - Esses andróides terão emoção também?
FJS - A gente não pode dizer que a máquina terá emoção. Mas podemos dizer que haverá mecanismos que simulem estados emocionais na máquina. Só assim a máquina pode ser sensível ao estado emocional do homem e ficar cada vez mais próximo e semelhante ao seu criador.

? - Isso não é perigoso?
FJS - Sim, isso me preocupa. Tem um artigo da Universidade de Varsóvia que propõe um modelo baseado em lógica nebulosa, uma das técnicas da inteligência computacional (ver coluninha), que permitirá ao computador ter um comportamento variado, mudando conforme seu estado emocional. Desta forma, não poderemos prever as ações e as respostas dos andróides para todas as situações. Isto nos leva a temer reações por parte da máquina que nos causem danos físicos.

? - Que problemas poderemos ter com essas mudanças?
FJS - Vamos ter que lidar com invasores e vírus de mentes. Na verdade, acho que já existe isso tudo. Nossas mentes já são influenciadas pela mídia. O que são os boatos, senão vírus mentais? Até que sejam desfeitos, geram muitos conflitos. No futuro, os problemas serão os mesmos, só a dimensão que será diferente. Não há muito como prever.

? - Seremos capazes de viver por quantos anos?
FJS - Na sociedade livre das máscaras e sem doenças psicossomáticas, causadas por desequilíbrios de sentimentos e mentais, poderemos viver uns 500, 600 anos. A obra de Wilhelm Reich, discípulo de Freud, nos dá uma primeira pista nesse sentido, mostrando que as couraças de caráter impedem nossa plena saúde. Com essa tecnologia toda, você será obrigado a se mostrar como é, desmanchando essas couraças. Em algumas gerações isso já será realidade.

? - E os computadores? Se tornarão obsoletos?
FJS - Acredito que o computador vire peça de museu somente quando o homem for capaz de utilizar toda a capacidade do cérebro. Falta apenas desenvolvermos o nosso software - a mente - para que ela nos permita usar o nosso cérebro em todo seu potencial. A ciência dos computadores, combinada com outras áreas de pesquisas, ajudará o homem neste caminho da evolução, até que os computadores possam ser dispensados. Eles serão muito lentos para a mente do homem.

Retirado da Internet.br de Agosto de 1999
(Internet.br foi uma revista brasileira de informática e Internet, publicada pela Ediouro. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet.br)

[Fonte: http://orbita.starmedia.com/~rafavilas/1_cabeca.htm]
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