Hoje é domingo e, pouco mais de 2 meses da morte de meu pai, lembro dos meus domingos de criança.
Era o dia que ele ia na banca de jornais comigo e comprava uma revista do Capitão Marvel ou do Mandrake ou do Fantasma ou do Homem de Borracha. Só podia escolher uma, o dinheiro era curto. Éramos uma família pobre de um suburbio da Leopoldina, no Rio de janeiro que, naquela época era, de fato, uma cidade maravilhosa.
Para ele, comprava uma revista encadernada em papel brilhoso, chamada Seleções do Reader's Digest.
Eu, sempre sedento de leituras, também a lia, em especial a um artigo chamado "Meu tipo inesquecível", onde o autor relembrava alguém que o havia impressionado durante a vida.
Durante minha vida também tive meus tipos inesquecíveis, um deles, que homenageio agora, foi meu tio, por parte de mãe.
Solteirão convicto, profissão torneiro mecanico, morava como inquilino no porão de uma casa no suburbio do Méier, onde residiam um médico, sua mulher e a empregada.
Do porão, participava da miséria daquele casamento, onde o médico era oprimido pela mulher e pela empregada.
Apaixonado pela cantora Nora Ney, nunca se deu bem com as mulheres. Era um misantropo.
Mas, uma pessoa de caráter impecável.
No dia do meu casamento, disse que não ia assistir minha desgraça. E não foi.
Como tinha poucos pecados, morreu cedo e sozinho, de causa desconhecida. Eu, um eterno caminhante, estava fora do país e, não pude ir a seu enterro. Preservo, assim, intacta na retina, sua imagem como sempre o conheci.
C-47
Zumbi
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Meu tipo inesquecível
#1 Por C-47
04/08/2019 - 13:46