É dura a vida presa do software livre
(Elio Gaspari)
No ano passado o governo criou a Câmara Técnica de Implementação do Software Livre, ligada à Casa Civil da Presidência da República, comissariado onde trabalhava também Waldomiro Diniz. A idéia é boa, simples e barata. Trata-se de libertar a administração pública brasileira do alicate da Microsoft e do sistema Windows. O governo gasta cerca de R$ 3 bilhões anuais com produtos da empresa. Não se trata de exclui-la, nem de atrapalhar a vida de quem usa Windows. O negócio é permitir que o contribuinte use outras plataformas. Ele pode querer rodar um sistema Linux, no qual baixam-se quase de graça programas capazes de substituir o Office, o príncipe da Microsoft.
A iniciativa da câmara técnica caiu bem em alguns pedaços da administração, sobretudo no Serpro e, aos poucos quebraram-se algumas donatárias da Microsoft. Infelizmente, na semana passada o programa do governo federal sofreu um golpe.
Na vida do contribuinte, o principal momento de comunicação entre ele e o governo se dá entre março e abril, quando 17,5 milhões de pessoas devem fazer sua declaração de Imposto de Renda. Numa das mais monstruosas decisões tomadas durante o tucanato, as declarações só podem ser preenchidas por máquinas que rodem o sistema Windows. Ou seja: o governo brasileiro perfilhou um monopólio que movimenta 16,3 milhões de usuários de computadores.
Em 2001 a Receita começou a estudar um jeito de sair do alicate. Nada. Em 2002 chegou-se a fazer um esboço de programa. A partir do final do ano passado trabalhou-se na montagem da nova plataforma opcional.
Como sempre, a Receita batalhou com pouco dinheiro e pouca gente (seis pessoas para programar mudanças no ReceitaNet e para criar a nova plataforma).
Nesta semana a patuléia pode começar a baixar os programas para preencher suas declarações. Infelizmente, só Windows. Se tudo andar direito, a segunda plataforma entra no ar até 15 de abril. Corre-se o risco de detonar 25% do prazo dado aos contribuintes. Não se pode dizer que o atraso ocorreu por falta de recursos.
Ele poderia ter acontecido mesmo com mais dinheiro, gente e apoio da Casa Civil. O fato, porém, é que nenhuma das três ajudas apareceu.
Tudo isso poderia ser um daqueles atrasos que, como a chuva, acabam acontecendo. Um fato recente, contudo, oferece uma lição ao comissariado da Casa Civil. O repórter Rubens Valente revelou que aquele sujeito alto, contratado pelo comissário José Dirceu para cuidar das plataformas de deputados e senadores, era sócio de uma faculdade de informática em São Paulo, a Interfutura. Ele e mais uns parentes associaram-se à empresária Maria Estela Boner Léo, sócia da TBA, a maior revendedora de programas Microsoft para o governo federal. A TBA é dirigida por Maria Cristina, irmã de Estela.
Nas palavras da sócia de Waldomiro, "propostas de criação de projetos nos chegam por "n" caminhos. A gente sempre foi muito assediada".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2902200423.htm
Rehgis
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