Quatro das maiores distribuições Linux trabalhando em conjunto para desenvolver uma grande distribuição destinada ao mercado corporativo. Esta é a proposta da United Linux, a recém anunciada associação de desenvolvedores que conta atualmente com a participação da Conectiva, SuSE, Caldera e Turbo Linux, mas que está aberta para a participação de outras distribuições. As portas estão abertas sobretudo para a Red Hat, Mandrake e Red Flag Linux (a distribuição mais usada na China).
Este anúncio pegou muita gente de surpresa e despertou reações diversas, tanto favoráveis quanto desfavoráveis. De um lado os que viram a notícia como uma possibilidade de finalmente termos um Linux padronizado, enquanto outros viram como a ameaça de um Linux comercial, com potencial para dominar o mercado.
Mas, por enquanto os objetivos do projeto são bem mais modestos. A idéia é simplesmente unir forças em torno de um núcleo comum, o tal United Linux, que será a base para todas as distribuições associadas. Cada uma continuará com seu próprio mercado, poderá incluir seus diferenciais, mas a localização dos arquivos de configuração, o instalador e a maior parte dos pacotes serão comuns à todas. Todas as distribuições serão vendidas com um selo “Powered by United Linux”, ou algo semelhante, dando a certeza que o pacote segue o padrão.
O United Linux não é a princípio um projeto destinado ao mercado doméstico, mas sim ao mercado corporativo que atualmente é muito mais lucrativo. Criando uma base comum e unificando seus esforços para oferecer um bom suporte e treinamentos, a associação terá seguramente melhores condições de competir com a Sun, IBM, além da Red Hat, que atualmente é a distribuição mais usada no mercado corporativo dos EUA.
A possibilidade de uma concorrência direta entra as quatro é remota, pois cada uma atua em uma região específica do globo. A SuSe é forte na Alemanha e outros países da Europa, a Conectiva tem participação na América Latina, a Red Flag é a mais usada na China, enquanto a Caldera é mais proeminente nos EUA.
Além do efeito técnico técnico, a união nasce como uma estratégia de Marketing, para tentar posicionar o produto como “o” Linux, “o” padrão, e não apenas mais uma distribuição. Em última análise, tudo vai depender da qualidade que conseguirem alcançar, mas se conseguirem enfiar esta idéia na cabeça de um número considerável de consumidores, a estratégia pode dar certo.
A questão mais polêmica em torno do United Linux entretanto é o anúncio de que o código continuará aberto, respeitando os termos da GPL, mas as distribuições serão apenas vendidas e distribuídas em código fonte. Ou seja, ou você compra a caixinha, ou terá que compilar uma a um os pacotes e se virar para transformá-los num sistema utilizável, sem a ajuda do instalador ou outros programas proprietários incluídos no pacote.
Não será possível simplesmente baixar os arquivos ISO via Web, os CDs não poderão ser copiados e distribuídos pois conterão alguns pacotes proprietários e qualquer outra distribuição construída com base no código fonte distribuído não poderá usar o nome “United Linux”.
A única brecha é uma possível versão gratuíta para uso não comercial, que seria lançada junto com a versão final, planejada para o final deste ano.
É algo semelhante ao que temos com o SuSe Linux atualmente, onde não existe muita alternativa senão comprar a caixa, já que o único download gratuíto é de um demo, que roda a partir do CD, servindo apenas para checar a compatibilidade do hardware e apresentar o sistema. Apesar de ser permitido instalar o sistema em várias máquinas, não é permitido distribuir cópias dos CDs.
O objetivo é claro fazer com que os usuários realmente comprem as caixas e assinem os planos de suporte e treinamento. Lembre-se que estamos falando de um sistema destinado ao mercado corporativo, onde a confiabilidade do sistema e o acesso a suporte do fabricante é muito mais importante que o custo.
Veja o caso do Star Office 6, que incrivelmente está tendo uma aceitação muito maior entre as empresas do que quando era gratuíto. A diferença é que apesar de agora pagarem 79 dólares por cópia, as empresas têm acesso ao suporte técnico da Sun. Esta idéia de “ter com quem contar” parece ter um grande efeito psicológico.
A idéia é claramente transformar, finalmente, a venda de distribuições Linux num negócio rentável. Com, a possível excessão da SuSe, todas as integrantes do grupo passam por problemas financeiros. A situação na Conectiva por exemplo já é crítica. A estratégia deles até agora foi basicamente a venda de caixinhas, um negócio que se mostrou pouco rentável, já que os CDs podem ser livremente copiados.
Vendo ângulo, o simples fato de ver as distribuições crescendo novamente já é um alívio. A questão é com a ênfase no mercado corporativo as versões domésticas das distribuições têm tudo para ficar em segundo plano, como no caso da Red Hat.
Se isto realmente acontecer, ficaremos com praticamente apenas mais três grandes distribuições: Mandrake, Debian e Slackware.
Apesar de ter sido convidado para se integrar ao grupo, a chance da Mandrake Soft também aderir é pequena, pois ao contrário dos demais o Mandrake é uma distribuição desenvolvida para o mercado doméstico e com um plano de negócios mais cooperativo, que se baseia mais nas contribuições financeiras dos usuários do que na venda das caixinhas propriamente ditas. O Debian e o Slackware não são mantidos por empresas, por isso não haveria muito motivo para aderirem à associação, pelo menos nos termos atuais.
Na minha opinião, não existe nada a temer. Um pouco mais de padronização e um produto mais maduro só ajudarão no desenvolvimento do Linux. Mesmo que as quatro resolvam abandonar o desenvolvimento das suas versões domésticas, seguramente surgirão novas distribuições para cobrir a lacuna. Veja o caso do Lycoris (http://www.lycoris.com) e do Gentoo Linux (http://www.gentoo.org/) por exemplo, duas distribuições recentes mas que já atingiram um nível de qualidade muito bom.
Veja mais detalhes sobre o United Linux em: http://www.unitedlinux.com/
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