Vamos refletir e nos divertir digerindo esse texto, que transporta para o curso de Análise de Sistema, todo o universo desses vícios básicos que afligem a existência humanda desde os primordios dela.
1. Um pouco de história
Poucas pessoas sabem, mas não há relato dos sete pecados capitais na Bíblia, eles nasceram da cabeça de um tiozinho chamado Evágrio do Ponto (346-399/400). Ele era monge católico e exerceu sua vida monástica no Egito. Inicialmente pontuou o que chamou de os 8 males do corpo: Gula, luxúria, avareza, tristeza, acedia, raiva, soberba e orgulho.
Gregório Magno
Os sacerdotes adoraram a idéia e ela acabou fazendo tanto sucesso que alguns anos depois caiu nas graças do então papa, Gregório Magno (540-604).
Gregório adaptou-as para o ocidente chamando-as de Os sete pecados capitais: Orgulho, inveja, ira, melancolia, avareza, gula e luxúria.
São Tomás de Aquino
Por fim, alguns teólogos como São Tomás de Aquino (1225-1274) colocaram ordem no boteco criando uma lista definitiva:
2. Inveja;
3. Ira;
4. Preguiça;
5. Avareza;
6. Gula;
7. Luxúria;
A coisa não parou por aí, na idade média um poeta cristão chamado Aurelius Prudentius Clemens (348-405/413) criou um poema épico chamado Psychomachia (não! não tem nada a ver com festa rave), nele eram pontuados as Sete virtudes, em contraponto aos pecados capitais:
2. Caridade;
3. Paciência;
4. Diligência;
5. Generosidade;
6. Temperança;
7. Castidade;
Mas, onde elas entram no curso de Análise e desevolvimento de sistemas? Vamos analisar… mas, alterando a ordem dos pecados para uma mais coerente com a realidade cibernética…
Belphegor (Preguiça)
1.1. Preguiça
Pois é, o relato mais ouvido entre os professores do curso é justamente a falta de vontade dos alunos em aprender. Infelizmente, muitos conteúdos essenciais para a boa compreensão da informática acaba passando despercebido por chegarem numa hora cuja necessidade não parece evidente.
Lá no fundo, o ser humano é um grande preguiçoso, veja o caso da escada rolante, do controle remoto, de máquinas e mais máquinas que poupam nosso esforço físico fazendo tudo por nós. É uma pena que com a mente a coisa não funcione assim, pois ainda não desenvolvemos um dispositivo que deposita no cérebro o conhecimento pretendido. Esse precisa ser buscado a duras penas, ser lapidado. Há a necessidade de lutarmos diariamente com a nossa ignorância a fim de vencê-la com a força da compreensão.
No outro lado da moeda está a preguiça perante as novidades. Quando conhecemos bem o funcionamento de um sistema operacional ou um programa, tememos as novidades e passamos longe de saídas alternativas, mesmo que elas sejam para o nosso bem. Um exemplo clássico é a resistência que os acadêmicos tem de usar o OpenOffice frente a supremacia popular do Microsoft Word, ou mesmo o Linux frente ao Windows.
Na outra mão temos a diligência, que é a virtude oposta a preguiça. Quem assistiu o filme Ratatouille deve se lembrar de quando o crítico gastronômico disse que a maior crítica do mundo não significava nada, ou seja, que qualquer ato por menor que fosse com certeza a suplantaria. Isso é importante saber e analisar. As vezes refestelados em nossas camas, sentindo-nos protegidos e aquecidos, tendemos a movermos o mínimo possível o corpo mas pensamos demais. Pensamos em como somos pequenos e diante dessa pequenisse o quanto não vale a pena corrermos atrás de nossos sonhos. Saiba que qualquer progresso, por mínimo que seja é importantíssimo e muito mais efetivo do que o mais proféticos dos maus pensamentos, seja ele dito por uma pessoa ou mesmo por uma divindade. Em outras palavras… estuda menino!
Lúcifer (Vaidade)
1.2. Vaidade
O aluno aprende o Linux, aprende a linguagem C e acha que está podendo. Que é o ser mais inteligente da terra e o pior de tudo, que o simples fato de olhar para um micro com o Windows rodando seja sinônimo de vergonha e indignidade. Aí está a peçonha da vaidade a consumir mais uma alma e milhares de oportunidades que aparecerão. Profissional que é bom não permite que um pré-conceito oculte o brilho de uma saída brilhante perto de um problema, ainda mais nessa época em que a agilidade é o carro-chefe do sucesso e da competência.
Não é indigno utilizar um programa ou sistema que facilite a vida do usuário, ao contrário, é uma prova de multidisciplinalidade e adaptação frente aos desafios que aparecem no desenrolar dos objetivos.
Lá vem a humildade apresentar-se como redenção. O efêmero prazer de sentir-se grande em nada se compara a inenarrável glória de conhecer-se a si mesmo. A humildade é uma dádiva que traz a paz ao coração diante das flutuações desagradáveis que o mar da vaidade costuma provocar. Só com ela veremos que as vezes não é inteligente parecer grande ou permitir que o orgulho malogre uma oportunidade que dificilmente se repetirá. O Linux pode ser um sistema mais confiável, o C pode ser uma das linguagens mais poderosas e utilizadas apenas pela “elite” dos programadores, mas se fossem tão bons e tão completos assim, com certeza existiriam apenas eles e não tantos outros que disputam o mercado.
Belzebu (Gula)
1.3. Gula
Querer aprender todas as liguagens de programação sem se preocupar com a lógica. Baixar vários sistemas operacionais e instala-los sem compreender direito como a coisa funciona, essas são as características da gula. O importante aqui é a quantidade e não a qualidade. O desejo de acumulação é em muito superior a necessidade de aprender. Assim como o indivíduo que dentro do sistema captalista procura preencher seu vazio comprando como louco, ao invéz de simplesmente adquirir aquilo que precisa o guloso cibernético perde seu precioso tempo e energia colecionando títulos para suprir a sua falta de objetivo.
Temperança, a virtude que opõe-se a gula lembra auto-controle, moderação. Precisamos organizar nossas mentes, ter a tranquilidade de escolher objetivamente o que deveras precisamos diantes de tantas opções. Quanto mais pontos miramos, mais perdemos o nosso foco. Reduzir as escolhas e o campo de ação não denota limitação intelectual, ao contrário, é uma insígnia de maturidade, preparo e sapiência.
Mammon (Avareza)
1.4. Avareza
“Eu sei, sofri demais para aprender e os outros que se virem para encontrar as suas respostas“. Assim como os milhonários mão-de-vacas, pães-duros e munhecas-de-samambaia os avarentos cibernéticos não compartilham aquilo de mais precioso que um ser humano pode possuir… seu conhecimento. Para eles, ensinar o seu modus operandis é o fim da picada, é como entregar o ouro ao mais temeroso dos concorrentes, ainda que uma parte substancial desse conhecimento tenha sido adquirido acessando o de terceiros e de forma aberta.
Uma coisa que percebemos quando passamos a conviver com pessoas deveras inteligentes e boas naquilo que fazem é que elas são acessíveis e bastante generosas no quesito troca de conhecimento. Veja o exemplo dos grandes físicos que disponibilizaram seus estudos mais impressionantes sobre parte da realidade que nos rodeia. Veja o movimento opensource que oferece a quem possa interessar a oportunidade de ver o que se passa por baixo dos panos binários do computador. Experimente você mesmo principiar a compartilhar seu conhecimento com os amigos ou a comunidade a qual pertence, não é mágica mas é como se fosse. De repente coisas boas começam a acontecer na tua vida intelectual. Parece que a cada conceito que ensina aprende outros cem.
Satã (Ira)
1.5. Ira
“Maldito computador! Ele só faz isso quando eu mais preciso dele!!!”. Até parece que o computador tem vida e faz parte de uma conspiração mundial para te deixar doidinho da vida. Quando as coisas não correm como esperávamos somos tomados de um senso de irracionalidade que nos cega, despreparando-nos para fazer o que mais precisamos diante de um computador: resolver problemas.
Paciência é a virtude mais óbvia, o comportamento mais coerente que precisamos cultivar para lutar contra as intempéries diárias, causadas por situações que saíram do nosso controle. Nossa vida nunca estará livre de eventuais problemas, felizmente temos o poder de não nos deixarmos abater por eles.
Leviatã (Inveja)
1.6. Inveja
“Aquele babaca se acha só por que entende de manutenção mais do que eu”.”Aquele sisteminha da empresa tal só é tido como bom por que qualquer macaco pode usar, não é como o meu, específico para mentes privilegiadas”.
Como bons Homo sapiens sapiens, não estamos livres do avassalador e destrutivo sentimento de inveja. As vezes ele é representado por pessoas que deveríamos gostar o que traz muita dor ao coração. Calma, você não é um et ou monstro por causa disso. Ao invéz de lamentar-se pelo fato de saber menos, ser inferior ou coisa parecida, procure aprender um pouco com essa pessoa que te desperta a inveja. No fundo ela pode ser uma profunda admiração. Se admiramos nossos ídolos e procuramos ser iguais a eles em algum sentido, o que nos impede de fazermos o mesmo com nossos objetos de inveja?
Caridade é a virtude oposta. Ela remete-nos a idéia de Auto-satisfação, compaixão, amizade e simpatia sem causar prejuízos. Se estamos auto-satisfeitos e nutrimos tantos bons sentimentos no coração, por que haveríamos de ansiar pelo mau do próximo? Fica aí um ponto para reflexão.
Asmodeus (Luxúria)
1.7. Luxúria
Vai dizer que você nunca perdeu algumas horas conversando no Msn quando deveria estar trabalhando? Ou mesmo futucando no Orkut alheio vendo as idas e vindas da pessoa que te apetece… ou ainda, jogando por dias aquele Rpg maneiríssimo ao invés de terminar a monografia. Sim, eu sei que no caso do Msn era um momento único, pois aquela(e) gatinha(o) lhe deu moral como nunca e você esperava aquilo a tempo. Que o Orkut é viciante e possibilita ter informaçõs preciosas sobre as pessoas que gosta e aquelas que detesta. Que diante de tanta coisa desagradável no seu dia-a-dia é difícil não resistir ao delicioso prazer de se entreter diante de uma tela de game.
Voltamos ao bom e velho dilema sobre aquilo que queremos e o que precisamos.
Castidade, sim, isso mesmo, ela é a virtude oposta. Remete a idéia de manter-se puro, de abster-se de práticas não apenas sexuais mas também sociais, ou seja, de ficar longe do Msn e do Orkut. O que não é muito fácil, mas necessário quando precisamos terminar um trabalho importante ou mesmo concentrarmo-nos por um longo espaço de tempo.
2. Conclusão
Veja que interessante, o diabo era um anjo. Uma criatura que em tese era para ser boa, converteu-se num problema para o Senhor Todo-Poderoso. Se você leu até aqui viu as várias figuras que pontuam esse artigo, elas são os demônios que representam cada pecado. Demônio vem do grego daymon que significa “repleto de conhecimento”. Platão dizia que Sócrates, talvez o filósofo mais apreciado de todos os tempos, comunicava-se com um espírito invisível chamado demônio. Estranho não? Meio confusa essa história de mitos, essa realidade maniqueísta de um lado bom e outro ruim. Dois lados que parecem como água e óleo… jamais se misturam.
Mas talvez a coisa não seja bem assim. Talvez essa confusão histórica mostre que lá no fundo, as duas posições sejam uma só, ou, a resposta às inquietações que oscilam entre os “pecados” e as “virtudes” esteja no meio do caminho, na harmonia que permeia.
A inveja é também admiração, a luxúria é um ápice que não dura e depois de um tempo ensina que as coisas são passageiras. A avareza quando aplicada nos momentos certos pode nos tirar de problemas no futuro. Enfim, só muita tentativa e erro pode nos trazer a experiência que remete ao bom senso de ver o que é melhor fazer em um dado momento.
Já que temos um longo caminho a percorrer, cheio de altos e baixos, por que não fazê-lo pleno de diversão? Talvez o conceito de divertimento seja o meio caminho entre o marasmo total e a felicidade extrema… nem oito nem oitenta.
Grande abraço!
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