Steve Jobs era obcecado por proteger o que a Apple produzia. Para ele, poucas coisas eram mais graves do que sentir que uma ideia da sua empresa havia sido copiada. Essa obsessão marcou duas das maiores rivalidades de sua vida: primeiro contra Bill Gates e a Microsoft, depois contra Eric Schmidt e o Google.
A acusação de “roubo”
Curiosamente, em ambos os casos, o motivo era o mesmo — Jobs acreditava estar diante de um roubo descarado.
A relação entre Steve Jobs e Bill Gates começou bem antes das brigas. Eles se conheceram em abril de 1977, durante a primeira West Coast Computer Faire, em San Francisco.
A Apple estava lá para apresentar o Apple II, com direito a estande chamativo, projetor exibindo gráficos coloridos e a logomarca recém-criada da maçã mordida. Bill Gates, à frente da jovem Micro-soft (ainda com hífen), também participava do evento.
Enquanto Jobs chamava a atenção no estande, Gates aproveitava para prospectar negócios. Seu interesse maior, no entanto, estava em Steve Wozniak: o “outro Steve” da Apple. Woz havia desenvolvido uma versão própria do Basic para o Apple II, mas ela só lidava com números inteiros — uma limitação séria.
Gates enxergou a oportunidade e ofereceu o Applesoft Basic, mais completo, como licenciamento para a Apple. O acordo foi fechado e se tornaria um dos primeiros negócios entre as duas empresas.
Assim nasceu uma relação que misturava colaboração estratégica e rivalidade latente. Uma tensão que explodiria poucos anos depois.
Xerox, o vizinho “rico” que mostrou o futuro
Antes de brigar com Gates, Jobs teve contato com a fonte original de várias das inovações que definiriam o Mac. Em 1979, ele visitou o Xerox PARC, centro de pesquisas em Palo Alto. Ali conheceu o mouse e a interface gráfica — tecnologias revolucionárias que a própria Xerox não sabia aproveitar.
Jobs ficou fascinado. Como gostava de repetir, citando Picasso: “Bons artistas copiam, grandes artistas roubam.”
A Apple pegou a ideia, refinou e colocou no Macintosh. Mas essa mesma decisão abriu espaço para a primeira grande crise de confiança entre Jobs e Bill Gates.
Jobs x Gates: a metáfora da TV roubada
Nos anos 80, a Microsoft era parceira da Apple no desenvolvimento de softwares para o Macintosh. Bill Gates chegou a visitar Cupertino e viu de perto como funcionava a interface gráfica do novo sistema.
Quando a Microsoft anunciou o Windows em 1983, Jobs explodiu. Chamou Gates ao seu escritório e acusou a Microsoft de traição. A resposta de Gates virou uma das metáforas mais famosas do Vale do Silício:
“Steve, acho que a situação é a seguinte: nós dois tínhamos um vizinho rico chamado Xerox. Eu invadi a casa dele para roubar a TV e descobri que você já tinha feito isso antes.”
O aparelho de TV era a interface gráfica. Para Jobs, era roubo. Para Gates, apenas inevitável. O resto da história é conhecido: o Windows acabou dominando o mercado, enquanto o Mac ficou com uma fatia menor.
Jobs x Google: a “guerra termonuclear”
Décadas depois, a cena se repetiria com outro personagem. Em 2006, Eric Schmidt, CEO do Google naquela época, entrou para a diretoria da Apple. Ele acompanhou de perto o desenvolvimento do iPhone, lançado em 2007.
Pouco tempo depois, em 2008, o Google anunciou o Android. Para Jobs, as semelhanças com o iOS eram evidentes demais: tela sensível ao toque, navegação por gestos, loja de aplicativos. Foi a gota d’água.
A fúria de Jobs foi registrada em reuniões privadas: “Android é um produto roubado. Vou destruir isso. Estou disposto a iniciar uma guerra termonuclear contra o Google.”
O rompimento foi inevitável. Schmidt deixou a diretoria da Apple em 2009 e começou uma das maiores batalhas jurídicas da história da tecnologia, com a Apple processando fabricantes de Android em várias partes do mundo.
A cultura do confronto
Nem toda relação de Jobs com empresas externas terminava em acusação de roubo. Com a NVIDIA, o tom foi outro — mas não menos explosivo.
Na Macworld 2001, a empresa impressionou Jobs ao rodar em tempo real o curta “Luxo Jr.”, da Pixar, usando uma GPU GeForce 3. Jobs aprovou o chip nos Macs, mas antes de encerrar o encontro soltou uma provocação: “Vocês precisam trabalhar em tecnologia móvel. A ATI está chutando a bunda de vocês em notebooks.”
Quando a NVIDIA ousou desafiar Steve Jobs, e conquistou a Apple!
Chris Diskin, diretor da NVIDIA, rebateu na hora: “Na verdade, Steve, acho que você está enganado.”
A ousadia funcionou. Horas depois, a Apple chamou a NVIDIA para uma reunião emergencial, e em poucos anos os chips da empresa passaram a equipar 85% dos notebooks da Apple. Jobs respeitava quem o confrontava com argumentos — mas nunca perdoava quem, segundo ele, roubava suas ideias.
A visão de Bill Gates sobre Jobs
Apesar das brigas, Bill Gates reconhecia qualidades únicas em Jobs. Em entrevista ao programa Opening Bid, afirmou:
“Jobs não era engenheiro, não sabia programar, mas era genial em escolher as pessoas certas.”
Gates disse invejar a intuição de Jobs para design e estética, algo que ele próprio não tinha. A relação entre os dois sempre oscilou entre admiração e ressentimento, mas Gates nunca negou: sem Jobs, a indústria da tecnologia seria bem diferente.
Para ir além: livros que ajudam a entender Jobs
As disputas com Gates e Schmidt mostram apenas uma das muitas camadas de Steve Jobs. Sua personalidade contraditória já foi explorada em várias biografias e relatos.
Se você quiser mergulhar mais fundo, reunimos em outro artigo 4 livros essenciais sobre Steve Jobs que explicam seu lado genial, obsessivo e polêmico.