RawTherapee: the newest open source raw photo editor
Autor original: Nathan Willis
Publicado originalmente no: lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft
Gábor Horváth vem desenvolvendo sozinho o conversor de fotos raw RawTherapee para Linux e Windows desde 2006. O aplicativo sempre foi freeware, e Horváth aceitava doações pelo site do projeto, via Paypal. Apesar das mudanças expressivas trazidas pela versão 3.0 alpha, anunciada no dia 4 de janeiro, a maior novidade mesmo é que agora o projeto migrou para a GPLv3.
O RawTherapee é um utilitário para conversão e edição de imagens raw com suporte aos formatos de arquivo nativos de praticamente todas as câmeras digitais, cortesia do projeto dcraw. Ele oferece controle de exposição, realce e recuperação de sombra, equilíbrio e ajustes de cores e tonalidades, aguçamento e redução de ruído, além de ferramentas básicas de recorte e rotação. No aspecto do fluxo de trabalho, há suporte a gerenciamento de cores e etiquetas IPTC, classificação de qualidade, processamento em lote, gravação de snapshots e envio de imagens para um editor externo, para trabalhar em detalhes.
Começando
Há builds da versão versão 3.0 alpha 1 disponíveis para Linux e Windows, e pela primeira vez há também pacotes tar compactados com os fontes. Os builds para Linux são apresentados na forma de binários independentes para 32 e 64 bits; basta extrair o pacote e rodar ./rtstart
pela linha de comando para começar. Não há verificação de dependências, mas a compilação do RawTherapee é vinculada às bibliotecas comuns do GTK+ e do GNOME. Uma lista mais completa de dependências pode ser encontrada em um tópico do fórum que trata da compilação dos fontes no Linux. As únicas bibliotecas que servem a fins específicos são a libtiff e a libiptcdata, que provavelmente já foram instaladas junto com outros pacotes de edição de imagens modernos.
RawTherapee editando uma imagem em uma nova aba, demonstrando a janela pop-up flutuante de ampliação
Em uso, o RawTherapee se comporta como a maioria dos outros conversores de imagens raw, apresentando uma janela com três painéis: há um navegador de arquivos na coluna da esquerda, um visualizador de imagens no meio e uma caixa de ferramentas para ajuste de imagens na direita. A ampla maioria dos conversores de imagens raw usa a mesma abordagem, apresentando os controles de ajuste de imagens na forma de controles deslizantes e caixas de verificação empilhados. Talvez os novatos devam se familiarizar com a terminologia para se sentir à vontade mexendo nas muitas configurações, mas o lado bom da coisa é que o RawTherapee não é destrutivo – ou seja, ele salva os ajustes sem modificar a imagem original, armazenando um arquivo “reserva” na mesma pasta.
O RawTherapee oferece uma paleta completa de controles, com vários algoritmos de aguçamento de imagem selecionáveis pelo usuário, controles deslizantes de redução de ruído de luminosidade e de cores, um mixer para o canal RGB e vários algoritmos de desmosaico (demosaicing). E o layout das ferramentas é bem organizado, oferecendo uma sensível divisão de controles que poderiam causar confusão em quatro guias principais (exposição, detalhe, cor e transformação) e subdividindo cada guia em grupos. As operações em lote são fáceis de enfileirar, com a opção de escolher uma pasta de saída ou um modelo definido pelo usuário, pelo qual você pode renomear e armazenar os arquivos de saída com base em seu nome e diretório originais.
Navegador de arquivos do RawTherapee 3.0 alpha 1. Esta versão tem alguns bugs que afetam as miniaturas das imagens, como se pode ver nas pré-visualizações JPEG.
O RawTherapee difere de outros conversores em algumas áreas, como no uso de janelas com guias. A partir da versão 3.0, as imagens que você abre para editar são abertas em uma guia separada. Com isso, é possível manter várias sessões de edição abertas ao mesmo tempo sem ter que fazer a exportação, e esse é um recurso muito interessante. Não há painel exibindo miniaturas de outras imagens do diretório atual; a única maneira de abrir uma imagem nova e editá-la é através do gerenciador de arquivos – uma diferença que alguns usuários não vão achar muito conveniente. O RawTherapee também oferece uma lupa para dar zoom em partes específicas da imagem, recurso que nem todos os editores oferecem.
Os usuários do Linux vão notar algumas excentricidades na interface, como a falta de menus (convencionais ou não). O mais perto que se chega disso são os botões de texto para preferências e saída, no canto inferior direito. E os usuários de mouses com rodinha precisam ter cuidado ao rolar a caixa de ferramentas vertical para não desregular acidentalmente um controle deslizante, caso o cursor passe sobre ele. Também faltam tooltips nesta versão; seria ótimo para os novos usuários poder ler uma breve descrição de cada função ao passar o mouse sobre ela.
Se você for usar o RawTherapee Para trabalho “de verdade”, é essencial levar a sério o estado “alpha” desta versão. O 3.0 alpha 1 é dado a travamentos, os arquivos reserva de ajuste que ele cria automaticamente não são compatíveis com a série 2.x. Ou seja: quem usa a versão estável atual do RawTherapee (2.4.1) deve fazer backup de seu trabalho antes de testar a versão 3.0.
Código aberto e futuros desenvolvimentos
Horváth apontou três fatores para a mudança de licença do RawTherapee: falta de tempo, a dificuldade de reproduzir e resolver os bugs relatados e o interesse em dedicar seu tempo aos recursos de base de processamento de imagens do programa, e não na interface e em outros componentes. Ele criou um projeto para o RawTherapee no Google Code, incluindo acesso via Subversion aos fontes, instruções de compilação e um tracker de problemas. Criou também um fórum de discussões para desenvolvedores no site do RawTherapee.
O código do programa está dividido em três partes: a biblioteca de processamento de imagens, uma biblioteca de apoio Exif e a interface em si. Os relatos de bugs e solicitações de melhorias já começaram a aparecer no site do Google Code; Horváth declarou como prioridade principal do momento resolver alguns probleminhas com o sistema de compilação CMake.
A intenção de Horváth de se focar no núcleo do processamento de imagens é um componente essencial nos planos da série 3.x. Embora isso não seja visível aos usuários, parte da reescrita que levou à versão 3.0 alpha consiste na separação do componente de edição para facilitar a adição de algoritmos, como outras opções de desmosaico e redução de ruído, além de novas ferramentas para correção de distorção de perspectiva e fringing [N.T.: aquela aura colorida que por vezes envolve o objeto fotografado].
A julgar pelo estado do RawTherapee e por sua base de usuários, a decisão de lançar o código sob uma licença de código aberto sem dúvida foi acertada. O aplicativo já tinha uma comunidade ativa, incluindo muitos usuários do Linux e voluntários traduzindo a interface. Mas como Horváth descobriu durante o tempo em que manteve o código do projeto fechado, dar suporte aos relatos de bugs da comunidade de usuários e às solicitações de suporte era algo que demandava cada vez mais tempo conforme a popularidade do projeto crescia – um fato que muitos desenvolvedores “solitários” talvez não levem em consideração ao iniciar um projeto.
Horváth quer se concentrar na parte do código que julga mais interessante, composta pelos algoritmos de ajuste de imagem. Ao adotar uma licença de software livre, o RawTherapee pode conseguir “fazer um regime”, trocando alguns de seus componentes por bibliotecas abertas já existentes (como a libexiv, em substituição a sua própria biblioteca Exif).
Existe bastante espaço para o que Horváth quer fazer com o RawTherapee na área gráfica do código aberto. O conversor de imagens raw mais parecido com o RawTherapee, o Rawstudio, tem uma abordagem diferente, tentando tornar mais acessível a edição de imagens raw para os fotógrafos não técnicos. A decisão do RawTherapee de dar ao usuário a oportunidade de escolher entre vários algoritmos disponíveis para diversos controles vai torná-lo mais atraente a outro público, o público que gosta de experimentar ou que tem opiniões muito específicas sobre a edição de imagens. Há outros editores e aplicativos para imagens raw, como o Digikam, que dão maior ênfase ao gerenciamento de coleções de imagens, edição de imagens raster e outras funções.
De modo geral, o RawTherapee vem mostrando há anos um bom desempenho no Linux e no Windows. Ele se destacava como uma das poucas opções gratuitas em um espaço dominado por aplicativos caríssimos. Levando-se em conta que as bases de sustentação da edição de imagens raw – leia-se: dcraw, Exif, IPTC e os muitos algoritmos matemáticos – não são proprietárias, faz sentido surgirem boas soluções de código aberto nessa área. É bom ver que o RawTherapee 3.0 será uma dessas soluções.
Créditos a Nathan Willis – lwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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