Integrante do seleto grupo de empresas com valor de mercado na casa dos trilhões de dólares, a Microsoft vem construindo sua trajetória desde a década de 70. Mais precisamente desde 1975, ano de sua fundação.
De sua posição modesta no seu berço de origem, Albuquerque, no Estado do Novo México, Estados Unidos (em 1979, a sede da Microsoft passou a ser em Seattle, Washington), a companhia ganhou o mundo e se consolidou como um verdadeiro titã na indústria do software.
Neste artigo veremos sua fase inicial, um olhar sobre a ideia de dois amigos que saiu do papel e basicamente criou o que temos hoje como conceito de uma indústria do software.
Quem criou a Microsoft?
A Microsoft foi fundada no dia 04 de abril de 1975 por Bill Gates e Paul Allen. Amigos desde o fim dos anos 60, Gates e Allen já eram parceiros antes mesmo da criação da Microsoft.
Três anos antes de dar início a empresa que mudaria a vida de ambos, fundaram a Traf-O-Data, que projetou um computador para medir o tráfego rodoviário. Allen insistia na ideia de que eles precisavam investir numa empresa de software.
E assim foi feito. Gates abandonou os estudos na Harvard University e Allen abandonou a Universidade Estadual de Washington, para que o foco fosse essa nova empreitada, a Microsoft, que, no início, adotava uma grafia diferente da que estamos acostumados hoje.
A empresa respondia por Micro-Soft. O hífen separava o que era a abreviação de duas palavras compondo o nome da companhia. Micro, de microprocessador, conceito criado pela Intel com o lançamento do Intel 4004 em 1971, e Soft, de software, a parte lógica que gerencia atribuições do hardware.
Popular Electronics: a revista que deu o start
No dia 1º de janeiro de 1975, Allen conseguiu a edição mais recente da revista Popular Electronics, que falava sobre o kit de montagem do computador Altair 8800 da MITs, lançado no final de 1974. A publicação taxara de o primeiro kit de minicomputador a rivalizar com modelos com preços bem mais elevados.
Allen ficou tremendamente empolgado com a publicação, e compreendeu que estava diante de uma avalanche de novos computadores que iriam usufruir do microprocessador.
A empolgação de Allen com a publicação era tão grande que ele saiu às pressas para encontrar Bill Gates em Harvard e convence-lo que deveria a largar a faculdade para que pudessem investir e não perder o timing dessa revolução que se avizinhava. Allen chegou a sacudir Gates e dizer “ei, isto esá acontecendo sem a gente”.
A corrida pelo BASIC
Após Gates terminar de ler o artigo sobre o Altair 8800 na publicação Gates concordou que estavam diante de algo disruptivo. Como é explicado no livros os “Inovadores” (Companhia das Letras /2014), o que Gates e Allen decidiram ao ler aquela edição da Popular Electronics foi criar o software para computadores pessoais.
Não apenas isso, eles vislumbravam que o modelo de negócios podia ser transformado. O hardware se tornaria pura e simples uma mercadoria intercambiável, enquanto aqueles que criavam os sistemas operacionais e os apps ficariam com a maior parte dos lucros.
Antes mesmo do nome Micro-Soft ser o escolhido para aquela empresa ainda insipiente, Gates e Allen já estavam no jogo. A primeira cartada foi escrever o software que tornaria possível para que os apaixonados por seus Altair 8800 conseguissem criar programas para ele.
Eles desenvolveram um interpretador para a linguagem de programação BASIC, linguagem criada pelos professores John Kemeny e Thomas Kurtz em 1964.
Esta linguagem, que ajudou a moldar o primeiro produto da Micro-Soft como empresa, foi a primeira linguagem de programação de alto nível para o computador da MITS que rodava com o segundo microprocessador lançado pela Intel, o 8008.
A corrida contra o tempo causou apreensão em Gates e Allen. Obviamente que eles não eram os únicos que estavam a espreita querendo se integrar neste que seria um dos momentos que definiu a computação pessoal.
Quando Gates, disfarçando a voz, e se apresentando como Paul Allen, ligou para Ed Roberts, fundador da MITs e criador do Altar 8800, dizendo que tinha um BASIC para o Altair que estava praticamente pronto e que gostaria de apresentá-lo. Ouviu de Roberts que recebia muitas ligações como aquela e que a primeira pessoa que chegasse lá com um BASIC funcionando ficaria com o contrato.
Sem um Altair 8800 pra trabalhar em cima, recorrendo a uma emulação no PDP-10 de Harvard, a dupla dedicou oito semanas intensas para a codificação. O objetivo era que o programa tivesse menos de 4 KB, máximo de memória do Altar 8800. Eles conseguiram encaixar em 3,2 KB.
O acordo dos sonhos
Paul Allen voou para Albuquerque, cidade do Novo México, onde ficara o escritório da MITS. Era lá o lugar em que a história de Gates e Allen mudaria para sempre.
Na manhã do dia seguinte à chegada de Allen na cidade, chegara a hora de mostrar o BASIC para os figurões da MITS. A máquina demorou quase 10 minutos para carregar o código do interpretador BASIC da, ainda não batizada, Micro-Soft.
O sarcasmo velado do pessoal da MITS já prevendo um fiasco dessa tentativa corria pela sala. Mas deu certo. Num dos testes Allen escreveu “print 2+2”. E a máquina respondeu “4”. Era uma simples demonstração que deixou Roberts embasbacado. Era o momento em que um software estava rodando num computador doméstico.
Da sua chegada a Albuquerque à apresentação do interpretador BASIC a reputação de Allen mudou de maneira instantânea. Ele saiu de uma possível chacota e um adeus com um tapa aberto de mão irônico de Ed Roberts e seus colegas para o representante respeitado que estava tornando possível algo que os representantes da MITS estavam custando acreditar.
O acordo foi fechado. A MITS licenciaria o interpretador BASIC da empresa de Bill Gates e Paul Allen para todas as máquinas Altair. Allen chegou a ganhar um emprego na MITS como diretor de software.
Uma coisa incomora Gates: a ausência da formalidade do acordo. Allen e Roberts concretizaram a aliança para o licenciamento com um aperto de mãos. Era preciso muito mais do que isso. O acordo formal foi estabelecido e aqui já aparece a primeira cartada de mestre da Microsoft:
- Bill Gates e Paul Allen ficariam com a propriedade do software, a MITS teria o direito apenas do licenciar;
- A MITS também se comprometia a sublicenciar o software para outros fabricantes, dividindo os lucros com Bill Gates e Paul Allen.
Como previram antes da possibilidade do acordo com a MITS, o software estaria regulando o mercado, não o hardware. Com o plus que o software de Gates e Allen não ficaria preso a um parceiro. Essa mesma estratégia foi repetida anos depois. Mas dessa vez o acordo foi com a lendária IBM, leia mais sobre esse acordo lendário aqui.
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Bill Gates e Paul Allen, caminhos distintos, legado em conjunto
Em 1983, Allen deixou sua função executiva na Microsoft. Foi neste ano em que ele descobriu linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer, batalha que travou com resistência e dignidade até o último momento. Allen faleceu em 2018.
A relação entre esses personagens cruciais para a história da tecnologia teve seus altos e baixos. Chegaram a ficar um ano sem se falar, mas resolveram suas diferenças.
O último grande momento de ambos juntos em público, registrado numa bela fotografia, aconteceu em 2013, recriando uma foto que eles tiraram em 1981. Paul Allen e Bill Gates rodeados daquilo que faz parte do legado que eles construíram em conjunto. Os computadores!
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