“Se um construtor leva este telefone para um canteiro de obras, ele pode mostrar como é o local”. Essa foi uma das frases que a equipe de marketing da japonesa Kyocera utilizou em 1999 para promover aquele que ficou com o título de primeiro celular com câmera, o Kyocera VP-210.
Embora seu prestígio tenha se dissipado ao longo dos anos, a Kyocera, em idos dos anos 2000, chegou a figurar entre as 10 marcas que mais vendiam celulares, disputando palmo a palmo com Panasonic e Alcatel.
Porém, talvez o seu maior feito nesta área foi a aposta num telefone que entrou para o hall dos videophones.
Após 2 anos de desenvolvimento, a companhia anunciou em maio de 1999 o VP-210. Vendido como o primeiro telefone de vídeo portátil, o aparelho era a primeira tentativa, comercialmente falando, de colocar uma câmera num celular.
O VP-210 batia na tecla da interação a distância. Basicamente uma continuidade do árduo desenvolvimento das chamadas de vídeo, que ganhou sua primeira opção comercial com o serviço Picturephone, da operadora americana AT&T, apresentado em 1964.
O projeto da Kyocera foi iniciado em seu centro de pesquisa e desenvolvimento em Yokohama por Kazumi Saburi, um de seus gerentes. “Naquela época, os aparelhos celulares com capacidade de comunicação por voz e SMS eram considerados apenas uma entre muitas ferramentas de comunicação pessoal. Um dia, uma ideia simples nos ocorreu – ‘E se pudéssemos conversar com a pessoa observando seu rosto no visor?’ Tínhamos certeza de que tal dispositivo tornaria as comunicações por telefone celular muito mais convenientes e agradáveis.”, diz Saburi.
Vendido apenas no Japão, o Kyocera VP-210 vinha com uma tela LCD TFT de 2 polegadas, capaz de exibir 65.000 cores, e a câmera – apenas na frontal, era comandada por um sensor CMOs de 0,11 Megapixels. As chamadas de vídeo funcionavam a uma taxa de quadros de apenas 2 fps. E a operadora parceira da Kyocera, a DDI Pocket (atualmente Ymobile), ainda cobrava uma taxa adicional para o uso de dados. Em relação às fotos capturadas pelo aparelho, era possível armazenar até 20 fotos no formato JPEG.
Outra particularidade do Kyocera VP-210 é que ele foi projetado para funcionar como um aparelho que faz uso do Personal Handphone System (PHS), um sistema de transmissão sem fio criado no Japão para ser uma alternativa mais barata em relação ao celular e transmissões baseadas em CDMA e GSM. Um terminal PHS, como o VP-210, poderia ser utilizado como um telefone de casa, um aparelho interno para uma empresa, ou um aparelho móvel para ambientes outdoor.
No entanto, o alcance máximo, em termos de sinal, era de cerca de 500 metros, abaixo de outras tecnologias. Quando o VP-210 chegou ao mercado, as operadoras japonesas estavam tentando reacender o interesse dos consumidores em relação ao PHS, apostando na transmissão de dados. Chamar a atenção com um celular com uma câmera embutida poderia ser o tiro certeiro para reviver o interesse.
Entretanto, a Kyocera colheu apenas os louros de dizer que colocou no mercado o primeiro celular com câmera, o sucesso ficou aquém do que a companhia esperava. O aparelho chegou com um preço que estava acima da média de mercado, 40.000 ienes (cerca de R$ 2.807, em valor corrigido), e suas dimensões e peso também desagradou. O Kyocera VP-210 pesava 165 gramas, duas vezes mais pesado que os telefones portáteis utilizados no Japão naquele momento.
Demorou um bocado até que a ideia de câmeras em celulares se estabilizasse. Em junho de 2000 apareceu o segundo modelo com este recurso, o Samsung SCH-2000, e em novembro do mesmo ano a opção da Sharp, o J-Phone, deu o ar da sua graça.
Em 2002 alguns celulares com câmera já eram vendidos no Brasil, como o Sony Ericsson T68i e o Motorola 7650. No caso do modelo da Ericsson, a câmera era acoplada ao aparelho.
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De 2003 em diante o conceito se firmou. Foi neste ano que as vendas de celulares com câmeras superaram pela primeira vez as de câmeras digitais, e em 2006 foi a vez dos celulares com câmera ultrapassarem também as câmeras de filme.
Atualmente, as câmeras presentes nos celulares já são a principal ferramenta para o universo audiovisual, podendo substituir com uma certa facilidade as câmeras semiprofissionais em muitas situações. Progresso que segue tendo sua evolução calcada em hardware, com a evolução de sensores maiores, e também inovações por software, com o pixel binning, e algoritmos de pós-processamento cada vez mais aprimorados. O que vale é sair bem na foto!
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