Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 1990. Esse é o dia que marcou a chegada oficial da telefonia móvel celular no Brasil.
Do Aterro do Flamengo, no RJ, em posse do telefone móvel EZ-2400-A, da japonesa NEC, responsável por fornecer os equipamentos para a infraestrutura da rede, o Secretário Nacional de Comunicações da época, Joel Marciano Rauber, fez uma ligação ao Ministro da Infraestrutura, Osíris Silva, que estava em São Paulo, falando através de um telefone fixo.
Era o simbolismo da chegada da telefonia móvel celular ao país, e também o contraste entre a mobilidade do novo aparato com o tradicional telefone que precisava estar sempre no mesmo lugar.
A corrida pela telefonia móvel
O caminho do Brasil para a implantação da telefonia móvel começou algumas décadas antes a esse evento solene. No início dos anos 70, a telefonia móvel foi implementada no país por uma tecnologia anterior a criação do conceito de celular como conhecemos. Esse sistema era o IMTS (Improved Mobile Telephone Systems).
Na década seguinte, mais precisamente a partir de 1984, foi dado início ao processo de definição do padrão que seria implantado para a telefonia móvel celular no Brasil.
Assim como em outras regiões, a tecnologia escolhida foi aquela que é associada ao que conhecemos como a primeira geração (1G), essa tecnologia era a AMPS (Advanced Mobile Phone System), padrão norte-americano, sistema totalmente analógico. Era possível apenas a transmissão de voz.
6 anos depois chegamos no grande dia simbólico que marcou o início da telefonia móvel celular no Brasil.
Capitaneada pela Telerj Celular (atual VIVO), 17 estações de rádio base foram implementadas com a capacidade de atender cerca de 10 mil aparelhos, porém apenas 667 aparelhos estavam em operação no Brasil naquele momento.
Em 1991 o número de aparelhos subiu para 6.700 unidades (no momento atual são mais de 240 milhões!).
É importante pontuar o quão marcante foi esse dia para o Brasil. Estamos falando de 1990. Nessa época nem a internet estava funcionando ainda por aqui. E em relação às telecomunicações, nem mesmo a privatização do setor tinha acontecido.
Status x Status
É interessante também observar como a telefonia móvel alterou ao longo dos anos parte da representação de um símbolo de status de quem usufrui do serviço.
Quando o celular desembarcou no Brasil era preciso pagar para habilitar a linha – o mesmo acontecia com aqueles que queriam ter uma telefone fixo em casa. E não era nada barato.
De acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em 1990 a habilitação para uma linha de celular custava US$ 22 mil. O custo do aparelho também era caríssimo. Por muitos anos reservado a quem tinha muita bala na agulha (expressão antiga para combinar).
Hoje em dia a habilitação da linha é gratuita, o que eliminou completamente o símbolo de status social que uma linha garantia ao seu comprador. Esse símbolo permanece apenas com certos aparelhos. Ter um iPhone, por exemplo, agrega um certo valor social. Isso é um fato, goste você da Apple ou não.
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A corrida pelo celular
Outro elemento que se manteve ao longo dos anos foi a posição do celular como um dos eletrônicos mais cobiçados pelos brasileiros, mas com uma mudança de paradigma. Atualmente, a busca gira mais em torno da troca por um modelo melhor, que tenha uma bateria de mais capacidade, mais armazenamento, câmeras com maior definição e recursos ,entre outras coisas.
Em meados dos anos 90 essa corrida tinha como foco a aquisição do primeiro celular. Era o ponto de partida por essa inovação em terras tupiniquins.
Esta matéria da Folha de S. Paulo de 1994 revela que o mercado passava por uma queda significativa do preço médio do celular, o que aumentara loucamente o interesse dos brazucas. Em 1991 o preço médio do aparelho era de US$ 2.000. Em 1994 caiu para US$ 700. Época em que R$ 1 valia US$ 1, o famoso tempo do “um por um”.
Uma das empresa que mais surfou nesse boom absurdo dos celulares no Brasil foi a Motorola. Uma das companhias mais importantes da história do desenvolvimento da telefonia móvel, responsável por lançar o primeiro celular portátil, o Dynatac 8000X, em 1973.
Bem antes disso a própria Motorola também já tinha dado um passo pioneiro na telefonia móvel com a implementação dos sinais de rádio que viabilizou, em meados dos anos 40, a possibilidade de ter um telefone no carro nos EUA.
NEC, a precursora
O primeiro celular da Motorola que desembarcou no Brasil foi o PT-550. Este modelo era do famoso formato “abre a fecha” e foi apelidado por aqui de “tijolão” ou “tijorola”.
Diferentemente do que se fala em muitas matérias pela web, o Motorola PT-550 não foi o primeiro celular a chegar ao Brasil. Antes dele já tínhamos no país o modelo da NEC, utilizado para os testes oficiais de início das operações de telefonia móvel, e também o modelo da UNIDEN.
Especificamente o da NEC, que pode receber esse título de primeiro celular a chegar ao Brasil, ele tinha um formato que muitos hoje em dia jamais iriam associar a um telefone celular. Assim como o da UNIDEN, ele tinha uma base, que era quase como uma maleta, que interligava a parte do fone, equipado com um teclado numérico.
O formato era de um monofone, similar ao de um porteiro eletrônico. Este modelo da NEC chegou custando quase US$ 4.000. Comparado ao design do modelo da Motorola, o da NEC parece um objeto de um passado muito remoto.
NEC EZ-2400-A
O modelo da Motorola que deixou um grande legado no mercado brasileiro era um verdadeiro “tijolão” que pesava 384 gramas. O aparelho tinha 22,8cm de altura e só podia fazer e receber chamadas. A autonomia de bateria era de 2 horas de conversação ou 15 em stand-by. Muitos saiam por aí com seus tijolões pendurados na cintura.
Andar com o celular pendurado na cintura era quase como um código subliminar, o atestado de orgulho por estar em posse de um dispositivo que representava um futuro que, até algumas décadas atrás, estava materializado apenas na ficcão científica.
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