A first look at Haiku (alpha)
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Quando se fala em agendamento do kernel e capacidade de resposta do desktop, é comum ouvir pessoas na comunidade técnica lembrarem com nostalgia do BeOS, um sistema desktop da década de 1990. O BeOS tinha a merecida reputação de oferecer aos usuários um desktop bem acabado e uma interação suave, mesmo quando o processador estava sob cargas pesadas. Infelizmente, o produto não foi um sucesso comercial, e o BeOS praticamente sumiu dos computadores dos usuários. O projeto Haiku tenta retomar o BeOS de onde ele parou. Embora o Haiku inclua pouquíssimo código do BeOS original, ele se empenha em manter uma interface de usuário com o mesmo estilo e velocidade.
Baixei a imagem de instalação do Haiku, que tem por volta de 400 MB e funciona tanto como mídia de instalação quanto como live CD. Ao inicializar pelo CD, o Haiku abre um ambiente gráfico e pergunta ao usuário se ele quer executar o instalador ou ir para o desktop live. A segunda opção leva o usuário a um desktop de visual bastante convencional. O papel de parede tem um azul da cor do céu, como o logotipo do Haiku. No canto superior esquerdo, temos ícones para navegação nos diretórios do usuário e do sistema. Também há ícones apontando para as notas de versão e para o manual. Por fim, há um ícone que inicia o instalador. No canto superior direito temos uma combinação compacta de menu de aplicativos (representado por uma pena azul), bandeja do sistema e barra de tarefas. Por padrão, a bandeja do sistema exibe um relógio digital e um monitor do sistema. Clicando no monitor do sistema, o usuário gerencia os processos em execução.
Considerando-se que esta é a primeira versão alfa do sistema operacional, o Haiku traz uma boa quantidade de aplicativos. A maioria são aplicativos pequenos e simples, mas há uma boa variedade deles. O menu oferece links para um navegador web (que parece ser um Firefox 2 com nome e logotipo diferentes), um editor de textos, calculadora, compactador de arquivos, um aplicativo para a webcam (que não conseguiu detectar a minha), lupa, media player, gerenciador de tarefas, terminal de linha de comando e cliente de email. Também há ferramentas disponíveis para ajudar o usuário a configurar o sistema, incluindo ferramentas para alterar a aparência do desktop, ajustar o mouse, gerenciar impressoras, escolher protetores de tela, acertar a hora, configurar a conexão de rede e gerenciar a memória virtual. Tentei tocar algumas músicas e reproduzir vídeos; ao abrir um arquivo de música o player era iniciado, mas não consegui extrair nem imagem nem som do programa. O sistema também não parece ser capaz de reproduzir DVDs, e não traz o Flash instalado.
Navegando na web com o Haiku
Para meus testes com o Haiku, usei um desktop genérico (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA), meu laptop HP (CPU dual core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel) e uma máquina virtual do VirtualBox com 512 MB de RAM. A capacidade do Haiku de lidar (ou não) com o meu hardware foi o que mais me surpreendeu. Nos dois computadores, o sistema cuidou perfeitamente da placa de vídeo. Também não tive problemas no reconhecimento de dispositivos USB, como mouse e teclado. O touchpad do meu laptop funcionou sem problemas, e a placa de rede do meu desktop foi detectada corretamente. Por outro lado, não consegui som em nenhum dos dois computadores, a placa de rede e a rede wireless do laptop não foram detectadas e meu modem USB Novatel não foi detectado. Não consegui imprimir nem na impressora de PDFs do Haiku. Já no ambiente virtual as coisas funcionaram bem, exceto pela conexão de rede. Alguns testes revelaram que o Haiku não conseguia detectar a interface de rede padrão do VirtualBox; era preciso oferecer a ele uma das opções de placas da Intel.
Além do sistema de arquivos Be, o Haiku tem suporte a alguns tipos comuns de partições. O sistema conseguiu detectar uma partição NTFS e minhas partições ext3, mas não a minha partição ext4. Rodando do live CD, o Haiku não monta automaticamente as unidades locais, mas há uma opção para montar partições compatíveis. Quando uma partição é montada, um ícone correspondente a ela é criado no desktop do usuário.
Quando disparamos o instalador do sistema, uma documentação sobre o processo de instalação é exibida. Mais especificamente, o usuário é avisado de que talvez o instalador não seja capaz de manipular partições e que a partição do Haiku deve ser criada de antemão. Também há instruções sobre como adicionar o Haiku a um menu de inicialização já existente do GRUB. Como acontece em boa parte da documentação, o usuário é alertado sobre os riscos de uso de software em estágio pré-alfa. Passando dessa tela, chegamos ao instalador em si. Ele tem um layout conciso, que deve atrair aos usuários mais técnicos. A partir daí, o usuário pode escolher a mídia de origem (que por padrão é o live CD) e a partição de destino.
Há um botão que exibe o editor de partições. Só que, ao menos nesta versão, parece que o editor só serve para formatar uma partição já existente com o sistema de arquivos Be. Depois que uma partição adequada é selecionada, o usuário pode optar por usar o gerenciador de boot do Haiku. Há um botão para a instalação de componentes adicionais, mas a lista de extras está vazia. Com tudo resolvido, o instalador copia o sistema live para a partição de destino. O processo de cópia é rápido, levando poucos minutos, e ainda tem um bônus: se o usuário tiver criado arquivos no ambiente live antes de executar o instalador, esses arquivos são copiados automaticamente para o disco rígido.
O instalador do Haiku em ação
Quando o instalador conclui seu trabalho, o usuário pode reiniciar e rodar seu novo sistema Haiku a partir do disco local. Esse processo é bem parecido com o de executar o Haiku a partir do CD, só que é bem mais rápido e o ícone de instalação não aparece mais no desktop. Quando instalado localmente, o sistema operacional usa por volta de 100 MB de memória para tarefas simples e o sistema continuou respondendo bem após a conclusão do processo de inicialização, mesmo quando eu exigia mais dele. Não fiz nenhuma comparação científica, mas o sistema me pareceu ter um desempenho no mesmo nível de um ambiente de desktop Linux de nível médio, como o Xfce.
Em nenhum momento da instalação me perguntaram se eu queria criar contas de usuário, definir uma senha ou confirmar as configurações. Na hora da inicialização, o usuário é logado automaticamente no desktop e tem o controle total do sistema operacional. O Haiku usa programas de linha de comando e um layout de sistema de arquivo familiar a quem trabalha com a família UNIX, então foi fácil para mim criar novas contas de usuário e definir senhas pela linha de comando. Mas isso não impede que o administrador, chamado de “usuário”, seja logado automaticamente após a inicialização. Na verdade, não parece haver nenhuma maneira de fazer login localmente como outro usuário. No momento, acredito que as contas de usuário sejam usadas apenas para serviços de rede, como o SSH. Se não for isso, então o Haiku é efetivamente um sistema de usuário único. E por falar em serviços de rede, o Haiku não parece rodar nenhum por padrão, impedindo que meninos e meninas mal-intencionado(a)s acessem seu computador remotamente.
Depois de procurar no menu de aplicativos e no fórum da comunidade Haiku, não achei nenhum gerenciador de pacotes ou utilitário de atualização que funcionasse. Em outras palavras, o usuário não conta com atualizações de segurança. Para instalar novos programas ou patches, o usuário tem que baixar e compilar o software em questão manualmente. Para ajudar nesse processo, o Haiku vem com o GCC 2.95.3, e com outras ferramentas para desenvolvedores, como o GNU Make. Esses utilitários funcionam bem, e consegui criar pequenos programas, mas não consegui compilar os poucos pacotes que baixei. Acho que versões incompatíveis de bibliotecas e a idade avançada do GCC 2.95.3 talvez sejam os principais motivos para os problemas na compilação de software.
Usando a linha de comando no Haiku
Como a documentação do projeto sempre destaca, o Haiku ainda está em estágio alfa. Ele pode ser muito divertido para desenvolvedores, mas definitivamente não está em condições de partir para os desktops domésticos ou de entrar no mercado corporativo. O sistema é suficientemente rápido e é promissor, mas faltam a ele muitos recursos disponíveis em sistemas operacionais modernos. Sob certos aspectos, o Haiku ainda está preso aos anos 90. Contas de usuário individuais, gerenciamento de pacotes e uma maior variedade de aplicativos ajudariam bastante a tornar o Haiku mais atraente. Espero que isso tudo seja incluído depois. Agora que a versão alfa ganhou mundo e que o sistema está equipado com ferramentas de desenvolvimento, acho que novos programas e ports devem começar a pipocar rapidamente. Concluindo:
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Projeto em alfa;
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Um bom começo;
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Não está pronto para uso diário.
Créditos a Jesse Smith – distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
Veja também:
Haiku, o BeOS Open Source
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