First look at Absolute Linux 12.2.5
Autor original: Caitlyn Martin
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Em janeiro, Chris Smart entrevistou Paul Sherman, desenvolvedor do Absolute Linux, para o DistroWatch Weekly. Sherman falou sobre o desenvolvimento e sobre os objetivos do Absolute Linux. Na semana passada eu decidi fazer uma análise aprofundada do Absolute 12.2.4 para esta edição do DistroWatch Weekly. No sábado, a nova versão 12.2.5 foi anunciada, e eu corri a instalá-la em dois dos meus sistemas para fazer um teste rápido. A minha ideia era pegar a análise que fiz da versão 12.2.4, dar uma acertadinha nela e publicá-la hoje. Para minha surpresa, não foi isso o que aconteceu.
O Absolute Linux é um derivado do Slackware, a mais antiga distribuição Linux ainda em atividade. Uma coisa que diferencia o Absolute das distros baseadas no Slackware é que ele acompanha o Slackware “Current” (a versão atual em desenvolvimento), e não a versão estável mais recente. Apesar disso, ele mantém a compatibilidade com os pacotes do Slackware 12.2. Na entrevista que deu ao DistroWatch Weekly, Sherman também observou que o Absolute Linux é voltado para o desktop, e não para os servidores, e que foi feito para “instalar tudo de uma vez sem selecionar pacotes e chegar a um desktop com o X sem que os usuários tivessem que aprender nada”. Outros objetivos da distro incluem desempenho otimizado em hardware ultrapassado, facilidade de uso e a adoção de aplicativos e ferramentas únicos que não dependam do GNOME nem do KDE. Ao contrário do Slackware “puro”, o Absolute Linux inclui algumas bibliotecas e aplicativos do GNOME.
A versão 12.2.5 implementa o novo sistema de empacotamento TXZ, adotado recentemente pelo Slackware. Isso permitiu que a nova versão voltasse a ser encaixada em uma imagem ISO que ocupa apenas um CD (a versão anterior ocupava duas imagens ISO). O único ambiente de desktop oferecido no momento da instalação é o gerenciador leve de janelas IceWM. O Fluxbox também está disponível no repositório “extra” do Absolute, após a instalação. Os usuários que preferirem um ambiente de desktop completo, porém mais pesado, podem instalar os pacotes do KDE ou do XFCE a partir do repositório oficial do Slackware.
Eu consegui arranjar tempo para testar a nova versão em dois dos meus sistemas: o netbook Sylvania g Meso (processador Intel Atom N270 de 1,6 GHz , 1 GB de RAM, HD de 80 GB) que eu comprei em janeiro, e o meu velho (seis anos e meio) Toshiba Satellite 1805-S204 (processador Intel Celeron de 1 GHz, 512 MB de RAM e HD de 20 GB). Os dois sistemas atendem aos requisitos mínimos de qualquer distribuição Linux atual, e ambos têm hardware que costuma dar trabalho a algumas distribuições. O laptop Toshiba pareceu particularmente apropriado para esta análise, já que um dos objetivos declarados do Absolute Linux é ter bom desempenho em hardware antigo.
Instalação e configuração
O instalador do Absolute Linux é uma versão modificada do instalador em ncurses (modo texto) do Slackware. O único idioma suportado pelo instalador é o inglês. Eu iniciei pelo CD que queimei e fui recebida por uma página cheia de texto e por um prompt de linha de comando. A página explica que se for necessário particionar o disco você pode usar o cfdisk pelo prompt de comandos. Do contrário, basta pressionar “Enter” para aceitar o kernel padrão e começar a instalação ou digitar o kernel escolhido seguido de quaisquer parâmetros de que você precisar para seu hardware específico. Infelizmente, ele não explica que parâmetros são esses, nem oferece acesso a uma tela de ajuda. Há um guia de instalação (em inglês) no site do Absolute Linux baseado na versão 12.1.05 que oferece um exemplo, mas não vai muito além disso. Felizmente a opção padrão funciona para a maioria dos usuários com sistemas i686 (Pentium II ou melhor).
Depois que o instalador é iniciado, surge um menu com as etapas para a configuração do sistema. AUTOSETUP, a primeira opção da lista, usa todo o disco rígido. Se estiver fazendo uma instalação limpa em um sistema “virgem” ou se não se importar em apagar o HD, essa opção oferece uma forma realmente simplificada de botar o Absolute Linux para rodar. Além de pular o particionamento do disco, ela também autoconfigura e instala o gerenciador de boot LILO sem a interação do usuário. Do contrário, você terá que passar por cada etapa, incluindo a configuração de uma partição para swap, de uma partição raiz e dos pontos de montagem para as outras partições que quiser usar. A etapa INSTALL, na qual são instalados vários pacotes no disco rígido, foi bastante simplificada. Não há opções de escolha de pacotes individuais ou grupos de pacotes. Todas as instalações do Absolute Linux são, ao menos a princípio, exatamente iguais.
Após a instalação dos pacotes, você terá a oportunidade de configurar e instalar o LILO (o GRUB não é oferecido) e de configurar a rede. Também será exibida uma lista de serviços, onde é possível escolher quais serão disparados durante a inicialização. O instalador do Absolute Linux, assim como o do Slackware, não configura usuários e senhas, exceto pela conta root. O sistema aconselha a fazer login como root após reiniciar para concluir a configuração do sistema.
Depois de reiniciar, o Absolute Linux configura automaticamente o X. Isso foi feito corretamente no meu netbook Sylvania, e a resolução correta (1024×600) foi escolhida. O Absolute Linux se dá bem com netbooks. Já o meu velho Toshiba, com seu chipset de vídeo esquisitão Trident CyberBlade XPi, não se saiu tão bem. O resultado foi um pequeno desktop cercado de espaço em preto, como eu descrevi no artigo da semana passada sobre o Debris Linux. Isso acontece porque a ferramenta de configuração usa um valor incorreto para a taxa de atualização vertical ao gerar o arquivo xorg.conf. Já tive o mesmo problema em outros derivados do Slackware, mas os que usam o vconf (originário do Zenwalk Linux) ou uma versão recente do vxconf do VectorLinux configuram corretamente o X no laptop Toshiba. Resolvi o problema usando um arquivo /etc/X11/xorg.conf que eu sei que funciona nesse laptop. Depois de configurado, o X é iniciado automaticamente e o desktop IceWM padrão é exibido.
Absolute Linux 12.2.5 com o desktop IceWM padrão
Na primeira inicialização, uma janela do Firefox é aberta com um conjunto claro de instruções de uso das ferramentas fornecidas com o Absolute Linux para concluir a configuração do sistema. Por padrão, o Absolute Linux respeita as patentes de software vigentes em alguns países, incluindo os Estados Unidos, e não instala os codecs do Windows, a biblioteca necessária para reproduzir DVDs e o suporte a MP3. O guia de introdução aponta para a entrada “Install MultiMedia Files” (instalar arquivos multimídia) do menu. Essa opção pega o código fonte desses codecs e bibliotecas “restritos”, compila, monta pacotes para o Absolute Linux e os instala automaticamente. Isso lembra mais o Gentoo Linux e outras distribuições baseadas no código fonte do que o Slackware, e pode demorar bastante em hardware mais antigo. Como a audiência do DistroWatch é bastante internacional, resolvi testar essa etapa para a minha análise. Testei os aplicativos o suficiente para determinar que tudo correu bem, e que de fato tudo funcionou conforme o esperado. Felizmente, o próximo item do menu é “Un-Install Multimedia Files” (desinstalar arquivos multimídia), o que mais uma vez pôs o meu sistema em conformidade com a lei norte-americana.
A próxima etapa do guia de introdução é a criação de contas de usuários comuns. O Absolute Linux tem sua própria ferramenta gráfica escrita em Python para isso, e ela funcionava bem nas versões anteriores. Desta vez, quando cliquei na entrada do menu nada aconteceu. Tentei rodar o aplicativo pela linha de comando, e o resultado foi este:
root: ~ > absAdduser.py
Traceback (most recent call last):
File "/usr/local/sbin/absAdduser.py", line 12, in
import gtk, xdialog, sys, os, string, commands, crypt, gobject, re
ImportError: No module named xdialog
O anúncio de lançamento do Absolute Linux 12.2.5 fala em uma versão atualizada do Python. Infelizmente, as ferramentas gráficas escritas especificamente para o Absolute Linux não foram atualizadas para usar a nova versão e portanto não funcionam. Quase nenhuma ferramenta gráfica de administração funciona nesta versão. Tive que concluir a configuração do meu sistema à moda antiga, usando ferramentas de linha de comando. Embora isso não seja problema para usuários experientes do Linux, particularmente os que sabem como o Slackware funciona, acaba arruinando o objetivo de tonar o Absolute Linux fácil de configurar e administrar para os que são relativamente novatos. A maioria das ferramentas do sistema e dos menus de configuração tornaram-se inúteis.
O Absolute Linux usa o wicd para o gerenciamento da rede. Durante a instalação eu escolhi a opção de rodar o daemon wicd automaticamente ao inicializar. Foi muito agradável ver que minha placa de rede sem fio havia sido configurada corretamente. Só tive que digitar a senha da minha rede WPA criptografada e ela funcionou.
O Absolute Linux 12.2.5 em uso
Uma vez configurado o sistema, decidi ver do que ele era capaz. O Absolute Linux inclui vários aplicativos bastante comuns, além de diversos programas e widgets únicos da distro. Infelizmente, descobri que não são apenas as ferramentas de configuração do sistema que não funcionam mais. Esta versão também atualizou o Qt, e os aplicativos que precisam da biblioteca Qt antiga também pararam de funcionar. Isso inclui o abschart, uma das ferramentas leves personalizadas de Paul Sherman. Mais uma vez, eu tentei rodá-la pela linha de comando. Eis o resultado:
abschart:
root: ~ > abschart
abschart: error while loading shared libraries: libqt-mt.so.3: cannot open shared object file:
No such file or directory
Eu uso o AbiWord para boa parte do que escrevo. O Absolute Linux vem com a versão 2.6.6, que está atrasada algumas revisões em relação à versão atual do programa. Já usei o AbiWord 2.6.6 com sucesso em outras distribuições. No Absolute Linux o programa pareceu funcionar bem quando eu criei um documento novo. Mas quando tentei abrir um documento já existente, nativo do AbiWord, só obtive um cursor e uma tela vazia. Nunca vi isso acontecer antes, mas o fato é que isso torna o AbiWord fornecido pelo Absolute Linux inútil. Já o OpenOffice.org 3.1.0 funciona direito nesta versão.
Também fiquei intrigada com a ausência de uma funcionalidade presente na maioria das outras distros, mesmo nas mais leves. Quando eu conecto um pendrive, um cartão SD ou outras mídias removíveis, não aparece o ícone no desktop. A mídia é montada automaticamente e de maneira correta, e aparece no PCManFM, o gerenciador de arquivos padrão. O VectorLinux Light, que também usa o IceWM como desktop padrão e o PCManFM para gerenciar o desktop, inclui essa funcionalidade, tanto rodando o daemon HAL (como acontece por padrão no Absolute Linux) quanto sua alternativa leve, o VL-Hot. Há até uma solução na forma de script para o XtDesk, um gerenciador de ícones ultraleve para gerenciadores de janelas minimalistas, capaz de exibir um ícone quando o pendrive é inserido. O XtDesk é o gerenciador de ícones que foi usado por muito tempo pelo Damn Small Linux. Não oferecer essa funcionalidade básica em uma distro que afirma ser fácil de usar e apropriada para novatos não faz muito sentido para mim.
Também experimentei o subconjunto de aplicativos leves e widgets personalizados que ainda funcionam no Absolute Linux 12.2.5. O widget de controle de volume para o painel do IceWM funciona bem, e é um bom acréscimo. O HTMLpage, editor simplista de HTML, também funciona conforme o esperado. Por algum motivo estranho, o HTMLpage também aparece duas vezes na seção de desenvolvimento do menu, em mais um pequeno bug.
HTMLpage, um editor leve de HTML
Dentre os aplicativos incluídos nessa versão temos o GIMP 2.6.6, o software de contabilidade pessoal HomeBank 4.02, o diário de desktop RedNotebook 0.7.2, o gravador de CDs e DVDs K3b 1.63.0 e uma boa variedade de aplicativos multimídia, jogos leves e programas para a rede.
Não importando quais aplicativos eu rodava, o desempenho do sistema, tanto no netbook quanto no velho laptop Toshiba, de modo geral era excelente. Preciso de mais tempo para fazer medições e comparar o Absolute Linux a outras distribuições otimizadas para o desempenho, mas de forma subjetiva, achei que essa versão é rápida e responde bem mesmo no meu sistema ultrapassado. O ajuste de desempenho no kernel 2.6.29.4 personalizado parece ter sido muito bem feito. O Absolute Linux usa uma versão mais antiga do X.org, portanto, nenhum dos problemas de configuração ou desempenho encontrados em algumas distros lançadas recentemente apareceu. A única desvantagem em usar um servidor X mais antigo é que algumas placas de vídeo e chipsets mais recentes podem não ter suporte.
Gerenciamento de pacotes e repositórios
O Absolute Linux usa o APT do Slackware (o slapt-get na linha de comando e o gerenciador gráfico de pacotes gslapt, que devem ser bastante familiares aos que já trabalharam com outras distros derivadas do Slackware). O slapt-get e o gslapt funcionam de modo bem parecido com o apt-get e o synaptic em distribuições baseadas no Debian. Eles oferecem suporte total à resolução automática de dependências, mas isso eu não pude testar porque parece haver um problema significativo no repositório do Absolute Linux no momento. Eis o resultado da minha tentativa de atualizar a lista de pacotes no gslapt:
Erro retornado pela função de atualização do gslapt
O Absolute Linux mantém um repositório bem pequeno de aplicativos extras compilados especificamente para a distro. Se quiser mais do que isso, você vai ter que procurar no repositório oficial do Slackware, que não suporta a resolução automática de dependências. Também há vários sites que oferecem uma seleção muito boa de pacotes prontos para o Slackware 12.2. Os maiores e mais famosos repositórios de pacotes para o Slackware mantidos por terceiros são o Slacky.eu e o Linuxpackages.net. Eu percebi que a qualidade dos pacotes desses sites com suporte da comunidade varia muito. Além disso, ativar esses repositórios no gslapt pode causar conflitos e problemas de dependências.
Muitos usuários do Slackware preferem compilar o software a partir do código fonte a usar pacotes nos quais não confiam. Muitas vezes a compilação pode ser simplificada por sites que oferecem scripts de compilação, automatizando o processo. O site mais conhecido para scripts de compilação para o Slackware, e que é o único site desse tipo recomendado no site oficial do Slackware, é o Slackbuilds.org. Eu sempre considerei a necessidade de recorrer a sites de terceiros e a falta de um repositório oficial grande e bem suprido uma grande desvantagem do Slackware. Embora outros derivados do Slackware tenham conseguido criar e manter esse tipo de repositório, o Absolute Linux não conseguiu, ao menos por enquanto.
Conclusões
Eu admito que fui pega de surpresa pelo lançamento da nova versão do Absolute Linux no sábado. Achei a versão anterior, 12.2.4, muito confiável. Havia poucos bugs, e eles eram pequenos. Eu esperava que a versão 12.2.5 fosse uma versão de manutenção, e não que a atualização de algumas bibliotecas seria um problema tão grande. Acontece que as atualizações foram um problema considerável, causando uma quebradeira significativa. Para ser justa com o Absolute Linux, nenhum dos bugs que eu descrevi, com exceção do repositório que não funciona, é de parar o trânsito. Nenhum dos bugs quebra a compatibilidade com hardware nem impede o Absolute Linux de funcionar. Mas eles limitam sua capacidade de configurar o sistema pela interface gráfica, ou de usar alguns dos aplicativos e ferramentas únicos, escritos especialmente para o Absolute Linux.
Minha análise original da versão 12.2.4 teria sido mais favorável, é claro. Presumo que logo haverá correções para os bugs que eu encontrei, e a versão 12.2.6 chegará rapidamente. Porém, mesmo presumindo que tudo seja resolvido, não encontrei muitos motivos para recomendar o Absolute Linux. Claro que ele é rápido e tem bom desempenho, mas as outras distros leves também são assim, incluindo vários derivados do Slackware. Algumas dessas distros têm desktops mais bem acabados e com maior apelo visual, além de oferecerem mais funcionalidades. Algumas oferecem repositórios bem maiores de software com verificação automática de dependências. Algumas têm instaladores mais flexíveis, porém igualmente fáceis de usar. A principal razão para se recomendar o Absolute Linux seria se alguém estivesse procurando por uma maneira fácil e rápida de botar para rodar um sistema baseado no Slackware “Current”.
Minha conclusão original foi a de que não havia nada de errado com o Absolute Linux, mas que ele não era uma distro particularmente convincente. O problema é que não há nada que faça com que ele se destaque das outras distros. Some a isso um monte de aplicativos e ferramentas de configuração defeituosos e um problema com os repositórios, e agora teremos uma razão convincente para ignorar essa versão. Se os conceitos que Paul Sherman detalhou em sua entrevista parecem interessantes para você, aconselho experimentar a versão 12.2.4 ou esperar pela 12.2.6, na esperança de que seja significativamente melhor.
Créditos a Caitlyn Martin – http://distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>
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