Pouca gente sabe (ou lembra), mas o primeiro smartphone lançado com 2 câmeras na traseira foi o HTC One M8, em 2014. Porém, o recurso só iria se popularizar 2 anos depois, com o lançamento do iPhone 7 Plus, da Apple, em 2016.
De lá pra cá, houve uma enxurrada de smartphones com mais de uma câmera na traseira. Primeiramente, os top de linha traziam duas câmeras. Depois foi a vez dos intermediários. E não demorou para os fabricantes darem um jeito de colocar 3, 4 e até mesmo 5 câmeras no mesmo smartphone. O Samsung Galaxy Fold, por exemplo, conta com 6 câmeras no total!
Mas por que os smartphones têm mais de uma câmera? Qual o motivo para o mercado de tecnologia ter trilhado esse caminho? É sobre isso que iremos conversar neste artigo.
A importância da câmera em um smartphone
Originalmente, os smartphones não foram pensados para terem câmeras potentes e de alta qualidade. No começo, por volta de 2007 e 2008, as câmeras dos celulares tinham menos de 1 megapixel de resolução. Eram bem ruins mesmo. Por isso, muita gente ainda andava com aquelas câmeras PowerShot, que eram portáteis o suficiente para se carregar na bolsa e tinham uma qualidade aceitável.
Com o tempo, as fabricantes foram se dando conta da praticidade que era ter uma boa câmera disponível o tempo todo no seu bolso. Ao mesmo tempo, redes sociais altamente visuais, como Instagram e Pinterest, se popularizaram, tornando ainda mais importante e relevante ter uma boa câmera sempre à disposição.
Daí, com as câmeras ocupando uma posição de relevância cada vez maior entre o público, começou a corrida para melhorar a câmera dos smartphones. Inicialmente os fabricantes aumentaram o número de megapixels, depois aumentaram o tamanho do sensor, a abertura da lente e incluíram um complexo sistema de pós-processamento para melhorar a qualidade das fotos.
Mas… eles esbarraram em um problema.
É impossível ter uma câmera de celular tão versátil quanto uma DSLR
Apesar do salto de qualidade dado pelas câmeras dos smartphones, os fabricantes esbarraram em limites impossíveis de atravessar. Por exemplo, era impossível trocar de lente em um celular. Nas câmeras DSLR você pode trocar de lente à vontade, a depender da sua necessidade e do tipo de foto que você quer fazer.
Outro problema é o próprio limite físico dos smartphones. Ter uma boa câmera exige espaço. Espaço para acomodar um sensor grande, espaço para o flash, espaço para o chip de processamento de imagem, espaço para a lente e assim por diante. E os fabricantes de smartphones investem milhões de dólares em pesquisa para deixar os seus aparelhos cada vez mais finos e mais leves. Ou seja, um paradoxo.
E é justamente essa a resposta para a pergunta do título do artigo. A inclusão de mais câmeras no celular, cada uma fazendo uma função específica, foi a solução encontrada pelas fabricantes para contornar este problema. Hoje em dia existem diversos tipos de lentes nos smartphones. Vamos entender a função de cada uma.
Quais os tipos de lentes usadas nos smartphones?
Vamos entender agora quais são as lentes comumente usadas nos smartphone hoje em dia e qual a função de cada uma delas. Assim ficará mais fácil escolher um modelo de celular baseado no quesito fotografia.
Lente Grande-Angular (Wide Angle)
A lente do tipo grande-angular (Wide Angle) é geralmente usada no sensor principal do smartphone, ou seja, aquele com maior qualidade. As primeiras câmeras de smartphones não possuíam um ângulo de visão muito grande. Por vezes o fotógrafo, para conseguir enquadrar tudo o que queria, precisava fazer alguns “malabarismos”.
Daí as lentes wide angle surgiram para resolver esse problema, visto que elas eram mais “próximas” do olho humano, conseguem enquadrar mais elementos no quadro, devido ao seu campo de visão maior. É o equivalente a se dar um passo para trás para conseguir enquadrar mais pessoas ou objetos.
Lente Ultra Grande-Angular (UltraWide)
Digamos que a lente UltraWide seja a evolução da Wide Angle. Isso porque ela consegue enquadrar ainda mais pessoas e objetos na foto. Esse tipo de lente é perfeita para tirar fotos de paisagens, visto que ela tem um campo de visão bem mais aberto.
Essa também é a lente ideal para tirar fotos da família ou dos amigos reunidos. Inclusive alguns smartphones trazem uma lente UltraWide na parte frontal, permitindo que as selfies caibam ainda mais pessoas.
Entretanto, as lentes UltraWide provocam uma deformação no canto das fotos, em formato circular. Mas, atualmente, o pós-processamento aplicado na imagem pelo próprio celular trata de corrigir essa deformação. Dessa forma as imagens ficam com um aspecto mais natural e quase não é possível enxergar essa deformação.
Lente Teleobjetiva (Zoom)
A lente teleobjetiva, também conhecida como lente zoom, é própria para tirar imagens aproximadas. Se as lentes Grande-Angular e Ultra Grande-Angular inserem mais elementos na imagem, a lente teleobjetiva faz o contrário: ela diminui o campo de visão.
Com isso você pode tirar fotos de pessoas ou objetos que estejam longe, aproximando o quadro sem que você precise fazer isso fisicamente. Nas câmeras DSLR e digitais, a lente teleobjetiva costuma aumentar o seu tamanho, geralmente se projetando para fora da câmera.
O mesmo acontece nos celulares, mas de forma muito mais discreta. Por isso que os smartphones com esse tipo de lente possuem o “calombo” na parte da câmera, justamente para permitir que a lente teleobjetiva faça esse movimento.
Com isso é possível executar o zoom óptico, que usa a lente para fazer a aproximação da imagem. O zoom digital, por sua vez, é feito via software e resulta em uma imagem bem granulada e de baixa qualidade. Portanto, sempre que quiser tirar uma foto macro ou de algo que está distante, use a lente teleobjetiva, ativando o zoom óptico.
A lente teleobjetiva pode exercer quatro funções nos smartphones:
- Fazer zoom óptico e capturar imagens distantes;
- Alterar a perspectiva de uma foto, achatando o plano;
- Desfocar o fundo da imagem, gerando o efeito bokeh;
- Fazer fotos no modo Macro.
Lente Monocromática (Monochrome)
A lente monocromática, ou sendo tecnicamente mais preciso, o sensor monocromático, é capaz de capturar apenas fotos em preto e branco. Isso ocorre pois ele não possui o filtro de cor, que está presente nos sensores coloridos.
Mas qual a vantagem de ter um sensor que só tira fotos em preto e branco? Simples. O sensor monocromático tem um alcance dinâmico bem maior que o sensor colorido. Isso permite que ele capture a luz de forma mais eficiente, trabalhando melhor com os níveis de brilho e contraste.
Em geral, não é possível usar o sensor monocromático sozinho. Ele é usado em paralelo com a câmera principal. As informações de luz do sensor monocromático são usadas no sensor colorido, para melhorar os parâmetros de brilho, nitidez e contraste, deixando as fotos coloridas mais bonitas e mais fáceis de serem trabalhadas na edição.
Lente de Profundidade (Depth)
A lente (ou sensor) de profundidade é comumente usada para possibilitar o famoso Modo Retrato nos celulares. O Modo Retrato é aquele que desfoca o fundo e deixa a pessoa em evidência. É um efeito bem bonito que antes era possível fazer apenas com câmeras profissionais.
Existem várias maneiras dos smartphones fazerem o Modo retrato (também chamado de Efeito Bokeh). E uma delas é justamente usando o sensor de profundidade. Como o próprio nome já deixa claro, esse sensor calcula a profundidade de campo. Ou seja, ele mede a distância dos objetos. Assim, na hora do pós-processamento, ele desfoca os objetos em segundo plano e deixa em foco o que estiver em primeiro plano.
Outro uso para o sensor de profundidade são para aplicativos de realidade aumentada. Sabe os filtros do Instagram? Então, eles se beneficiam demais do sensor de profundidade. O mesmo ocorre com jogos como Pokémon Go.
Sensor ToF (Time of Light)
O sensor ToF (sigla que significa Tempo de Voo, em português) é a forma mais precisa e mais rápida para fazer o Modo Retrato. Esse sensor emite luz infravermelha para fazer um mapeamento 3D do ambiente e também medir a distância dos objetos. Por usar como base de cálculo a velocidade da luz, essa medição é muito mais rápida que os métodos tradicionais.
Mas além de fazer o Modo Retrato nas fotos, desfocando o fundo, o sensor ToF também é usado para o desbloqueio do smartphone através do reconhecimento facial. Ele também é usado em aplicações de realidade virtual e realidade aumentada, como também acontece com o sensor de profundidade.
Este sensor é tão avançado e preciso que é utilizado também em carros autônomos, robôs industriais e em outros tipos e aplicações mais sérias. Por isso mesmo ele só está presente em celulares mais caros, como o novo iPhone 12 Pro Max.
Conclusão
Quer dizer que quanto mais câmeras um smartphone tiver, melhor? Não, não é bem assim. O maior número de câmeras em um celular só vai te dar mais versatilidade para fazer diferentes tipos de fotos ou para fotografar em condições de luz variadas.
A qualidade das fotos depende muito da qualidade da câmera. e aí nós já entramos em outra conversa, que envolve qualidade do sensor, a quantidade de megapixels, o chip de processamento de imagem, as tecnologias embarcadas para processamento de fotos e assim por diante.
A grande vantagem de se ter mais de uma câmera no smartphone é a versatilidade que os diferentes tipos de lente proporcionam. Por isso é importante também que você conheça quais as lentes instaladas no seu smartphone e saiba tirar o melhor proveito delas.
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