Tenho muito apreço pela história da computação pessoal. A corrida de inúmeros fabricantes para colocar computadores nos lares das pessoas conta com causos interessantíssimos. Dentre as empresas mais importantes nessa corrida está a Apple, que começou sua trajetória em meados dos anos 70 e foi essencial nesse mercado na década seguinte.
Além de ser uma participante crucial para o segmento da computação pessoal, inclusive servindo até mesmo de base para o desenvolvimento de situações que se tornaram o padrão na indústria em suas concorrentes, a Apple também é uma peça singular na revolução dos dispositivos móveis, com campeões de vendas, e de apelo midiático: iPod, iPhone e iPad.
No entanto, você já percebeu que há uma certa repulsa à Apple? Venho observando isso com mais frequência nas sessões de comentários aqui do site, e também de outros veículos.
Inegavelmente, parte desse bode com a Apple tem relação com a política de preços esdrúxula e patética aplicada pela companhia em seus produtos, que foge da esfera tecnológica e entra também na questão do status que os produtos com o logo da maçã possuem. Isso é incontestável.
Mas será que esse “ódio” é apenas pelo preço? É curioso isso. Outras marcas, de segmento diversos, também cobram muito alto por seus produtos, mas a onda de hate e torcida para que aquilo se lasque parece menor.
A Apple, ao mesmo tempo, que movimenta consumidores devotos e apaixonados por seus produtos, também atrai uma onda de pessoas que torcem contra e que usam argumentos risíveis, como “ah, meu aparelho intermediário faz o mesmo que o iPhone”. Ele pode fazer na questão de função, um aparelho intermediário tambpem tem uma câmera, por exemplo, assim como o iPhone, mas ele entrega a mesma qualidade? A experiência de uso é tão boa quanto?
Em seu livro “Steve Jobs e eu, Minha Carreira na Apple”, o 54° funcionário da história da empresa, John Couch, que foi fundamental para o desenvolvimento do Apple Lisa, e para a divisão de educação da Apple, argumenta que, a partir dos anos 80, um debate foi iniciado e ele segue até hoje: o que é melhor, sistemas customizáveis e abertos, como um PC ou sistemas fechados e de mais confiança, como o Mac.
Indo além das plataformas, e pensando no software, o mesmo vale para o embate entre Windows e MacOS ou Android e iOS. Couch diz que não há uma resposta certa ou errada para qual tipo de sistema é melhor, o que importa é o que o usuário valoriza mais: customização ou confiança.
Esse aspecto é interessante, porque realmente essa dualidade, entre os que preferem algo mais personalizável, com aqueles que valorizam a confiança de um ecossistema totalmente alinhado entre sistema e hardware, fomenta também o debate, e aquece os ânimos daqueles que são contrários à Apple.
Eu tenho convicção que muitos detratores da Apple nunca testaram um aparelho da empresa, como o iPhone. E falo isso sendo um usuário de Android.
Atualmente tenho um Galaxy S23 Ultra, e não trocaria ele por um iPhone. Em parte, por estar completamente adaptado ao Android, e também porque gosto de recursos que já estão maduros na linha Galaxy, como as câmeras, que apresentam resultados tão bons quanto o que é entregue pelo iPhone em fotografia. Em gravação de vídeo ainda prefiro o resultado dos aparelhos da Apple.
A grosso modo, além da questão de recursos, a diferença nas câmeras acaba sendo por uma espécie de “assinatura” que cada empresa tem. As imagens geradas no Galaxy costumam sempre ser mais saturadas, enquanto no iPhone a abordagem mais “flat” e natural é o que costuma imperar. No entanto, fotografando através do app Expert Raw, ou usando a captura em 200 MP, no Galaxy a reprodução das cores melhora consideravelmente.
Então, o iPhone pra mim está fora de cogitação. Agora, em outros ambientes, como no caso dos computadores, ou até mesmo do universo dos tablets, a Apple entrega uma experiência fantástica. Uma das minhas últimas aquisições foi um MacBook Air M1. Aparelho simplesmente incrível, no quesito duração de bateria, design e construção e performance geral.
É caro? Óbvio, mas aponte alguns modelos de notebooks com Windows, na mesma faixa de preço, que garantem o mesmo conjunto e experiência de uso, atualmente. Provavelmente, no Brasil hoje, o MacBook Air M1 é o produto mais “custo x benefício” da Apple, e também um dos maiores acertos da história da empresa e também de sua categoria.
Como gosto de desenhar, também me interesso bastante por um iPad. Futuramente espero comprar um. Já pude testar o iPad Pro rodando o software ProCreate, desenhando com uma Apple Pencil. Experiência única. É um produto incrível.
Quando passamos a vivenciar com mais intensidade essa questão dos comentários em conteúdo, é inevitável se deparar com uma série de argumentações e comparações estapafúrdias, e a Apple consegue fomentar isso. A ojeriza aos preços rendem críticas que acabam fugindo de uma certa racionalidade, o que importa é torcer para que o iPhone, e aqueles que compraram, se deem mal.
Também acredito que o ódio à Apple passa pelo ponto de vista do status que muitos atribuem a marca. Esse suposto ar de superioridade que o marketing do produto tenta vender incomoda muita gente. Causa um afastamento.
E o que falar então sobre a leva de frustrados? É difícil encontrar algo que gere tanto ódio quanto a frustração daqueles que querem ter algo, mas não podem. Esse detalhe tem que entrar na equação. Muitas críticas aos produtos da Apple advém também de uma leva de pessoas que gostariam de compartilhar daquela experiência – até mesmo para uma ostentação ou status que recriminam, mas não podem comprar.
O senso de uma espécie de culto a marca também está presente quando falamos de Apple, e não somente do ponto de vista de quem compra, mas também daqueles que vão a eventos cobrir os lançamentos da companhia.
É fácil encontrar jornalistas que quando vão a coberturas de eventos da Apple postam fotos exibindo orgulhosamente o crachá com o logo da maçã, e quando estão em lançamentos de outras empresa não há o mesmo entusiasmo e apelo. Direta, ou indiretamente, a Apple sabe muito bem incutir essa noção de que “somos diferenciados e faremos você valorizar nosso produto e nossa filosofia”.
Você até pode odiar isso, mas, tenho certeza, que adoraria que essa mesma devoção estivesse presente em algum empreendimento seu que já esteja em andamento, ou que ainda irá começar. Todo empreendedor anseia por consumidores fiéis.
Agora gostaria de saber a sua opinião. Você também percebe esse ódio à Apple? Somente a política de preços ajuda a explicar isso? Por que aparelhos topo de linha de outras marcas, e que também custam caro no Brasil, não recebem o mesmo tratamento? Deixe sua opinião nos comentários.
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