PC/OS – O BeOS do mundo Linux

Introdução

Há poucos dias eu baixei o novo PC/OS 8.04 release candidate 1. Fiquei sabendo dessa distro pelo Linux.com e tenho ouvido falar nela cada vez mais em discussões na Internet e em canais para “novatos.” Eu fui usuário do BeOS por muito tempo, e quando vi uma foto do PC/OS pensei que encontraria apenas um Xfce com um tema especial, mas encontrei bem mais que isso.

O PC/OS é uma distribuição muito jovem, tendo apenas 60 dias desde seu lançamento público. Mas depois de conversar com seu criador, Roberto Dohnert, descobri que ela tinha começado a vida como sua distribuição de uso particular. O site do PC/OS afirma que “este sistema operacional se concentra em trazer a facilidade de uso e um desempenho inigualável à arena dos desktops e servidores” e que “ele oferece todos os codecs multimídia integrados, e uma interface simplificada e fácil de usar.” Também do site do projeto: “Ótima compatibilidade com hardware antigo para ajudá-lo a aproveitar por mais tempo seus investimentos em hardware e software. Sendo baseado no Ubuntu, todo software e hardware compatível com o Ubuntu também é compatível com o PC/OS.” E quando mais e mais distribuições Linux prometem a mesma coisa, o que diferencia o PC/OS?

O desktop

O desktop é bem diferente. Seu layout é bastante parecido com o do desktop do BeOS. É um desktop com um visual bonito e muito simples, baseado no Xfce. Não tem todos os efeitos 3D do Ubuntu e o Composite vem desabilitado por padrão. O PC/OS oferece um tema BeOS para o Xfce em diferentes cores: Mint (um tema verde), Metal (metálico), Be yellow (que é o padrão) e um tema rosa-metálico que, como consta no blog do desenvolvedor, “é para as meninas.” O PC/OS 7.10 usava o tema de ícones Echo, de visual cartunesco e nem um pouco profissional. Com o PC/OS 8.04, o autor trocou o tema dos ícones pelo “industrial”, do openSUSE, que é baseado no Tango e traz um visual agradável e profissional ao desktop. O tema ajuda a conferir ao PC/OS seu visual moderníssimo.

O PC/OS 8.04 também usa o estilo Nodoka do Fedora nas barras de rolagem, nos gradientes de azul e na interface de usuário. Vem com um sutil papel de parede verde, baseado em um papel de parede do GNOME. O layout do desktop é de dois painéis. O painel de cima contém o applet “Places” (Locais), renomeado “Tracker”, que lista o diretório home, o sistema de arquivos e todas as mídias removíveis, bem como o utilitário de busca Catfish. Tem um aplicativo de anotações, do qual eu gosto muito. Também estão incluídos applets para área de transferência, data e hora, monitor do sistema e lista de janelas, que lista os aplicativos abertos em cada desktop. O painel de baixo, maior que o painel superior, oferece os applets para exibir o desktop, lista de tarefas e pager (para alternar entre as áreas de trabalho), além dos ícones dos aplicativos, como terminal, Thunderbird, Firefox, a área de notificação, o controle de volume e a lixeira.

O menu tem todos os aplicativos, assim como duas seções que não vi em outras distribuições. Um submenu “Mobile” com links para serviços online diversos, indo de e-mail a mapas, e um menu extra de aplicativos contendo Lightscribe, Zenmap (uma interface gráfica para o nmap), o visualizador de documentos Evince, o calendário Sunbird 0.8 e um aplicativo de agendamento que é uma interface gráfica para o cron.

Os aplicativos

O PC/OS tem um vasto e maravilhoso conjunto de softwares. Como sou desenvolvedor e técnico de TI, dou muita importância a ferramentas de desenvolvimento. Para desenvolvimento temos o Glade, crucial para programação GTK+, e o OpenLDEV, clone do Geany e provavelmente a ferramenta mais útil. O PC/OS também vem com o RealBasic Standard, uma ferramenta RAD que tem tudo para conquistar os desenvolvedores de Visual Basic. Além das ferramentas de desenvolvimento, a distribuição também oferece o OpenOffice.org 2.4 e o Scribus, ambos excelentes para desktop publishing e trabalhos de produção. Na área de entretenimento, MPlayer, Rhythmbox, VLC e mais alguma ferramentas para edição multimídia como SoundConverter, Audacity, Kino, OpenMovie editor e o velho favorito GIMP. O Cheese, clone do Photobooth, também está incluído. Todos esses programas funcionaram muito bem e assisti a vídeos em vários formatos, incluindo OGG, QuickTime e Windows Media. O Rhythmbox tocou todos os meus MP3s e outros arquivos de áudio sem que eu tivesse que baixar codecs da Internet e perdesse tempo com configurações.

Java e Flash também estão no pacote e funcionaram perfeitamente com o YouTube e com todos os programas Java baseados em browsers que eu precisei rodar. No trabalho, programamos principalmente em Java e o PC/OS lidou bem com todos os aplicativos que criamos. O Firefox 2.0.0.14 é o navegador padrão no PC/OS 8.04 (ao contrário do Ubuntu 8.04 que oferece o Firefox 3 beta) e o Thunderbird é o cliente de email padrão. Também incluído, o Likewise Open é um utilitário de configuração que simplifica a autenticação de uma máquina Linux em um domínio do Active Directory. Gostei do Wine vir com o PC/OS, para rodar aqueles aplicativos que preciso do mundo Windows.

Na área de redes e Internet, Skype 2.0 e gFTP – este último pode se conectar a um servidor remoto usando SSH, FTP e alguns outros protocolos. O Transmission se encarrega dos downloads via BitTorrent e o Remote Desktop Viewer também está presente.

Suporte a Hardware

Todo o meu hardware funcionou com o PC/OS, incluindo impressora, scanner e câmera. Muitos dos meus dispositivos de rede que não funcionavam no Ubuntu 7.10 funcionaram no PC/OS 8.04. Instalei a distribuição em dois laptops, um Gateway, de 3 anos, e um Dell Inspiron mais recente, e também no meu novo desktop, um Sony VAIO, e num velho Compaq Deskpro com um processador de 600 MHz e 256 MB de RAM. Mesmo neste último ele funcionou muito bem. Com o Xsane eu pude digitalizar imagens e editá-las. Também consegui editar imagens e filmes da minha câmera. Minhas fitas e mídias removíveis funcionaram direitinho no PC/OS. Pretendo instalá-lo no Toshiba da minha esposa, e já prometi que vou deixar o tema rosa do XFWM, ela gostou da cor. O PC/OS teve alguns problemas com o chipset NVIDIA Gateway, mas consegui resolver. No VAIO, o mixer do Xfce não detectou a placa de som, mas mesmo assim o som funcionou.

Versões

O PC/OS está disponível como uma imagem iso de DVD e como um CD de instalação mínima, que deve ser uma versão com menos coisas, para caber num CD. Eu pretendo escrever uma análise sobre a versão para servidores que estou baixando agora, e encomendei uma cópia do PC/OS “Appliance”, que é uma versão mais leve para uso em quiosques de Internet e em subnotebooks como o Eee PC.

Desvantagens

As poucas desvantagens do PC/OS foram herdadas do Ubuntu. O recurso de drivers proprietários funciona mal mas o PC/OS compensa incluindo o Envy, que me permitiu configurar minha placa da NVIDIA corretamente. O Rhythmbox exibe erros ao iniciar, relacionados à Magnatune e outras lojas musicais, como ocorre no Ubuntu 8.04. Em um dos meus laptops com placa da NVIDIA, a tela do PC/OS ficou preta, o que também aconteceu no Ubuntu 8.04, mas corrigi o problema pela linha de comando. Uma desvantagem que ele não herdou do Ubuntu foi a falta de suporte a 64-bits. O PC/OS é para arquiteturas x86, e eu não pretendo testá-lo no meu sistema de 64-bits.

Conclusão

O PC/OS se tornou minha distribuição favorita. Não apenas por sua viagem nostálgica à era do BeOS, mas porque, conforme anunciado, tudo funcionou direto. Eu o instalei em quatro sistemas (dois laptops e dois desktops), e ele está funcionando muito bem em todos eles. Se você é novato no Linux, eu recomendo o PC/OS. Se for um veterano, experimente. Se for um órfão do BeOS, vale a pena dar uma espiada. O PC/OS tem um futuro brilhante pela frente. Talvez daqui a um ano ele seja o número 1 do DistroWatch. O desenvolvedor é um cara legal, muito técnico e disposto a ajudar se você tiver algum problema, além de entender as necessidades dos usuários desktop. Minha experiência com o PC/OS foi muito positiva e, como sempre, eu encorajo você a participar não apenas desta distribuição como do mundo do Linux e do código aberto em geral. Pode-se dizer que o PC/OS foi o dólar mais bem gasto da minha vida.