Uma olhada no PC-BSD 8.0

Uma olhada no PC-BSD 8.0
Taking a look at PC-BSD 8.0
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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No fim de 2009, peguei o FreeBSD 8.0 e botei para rodar em um PC antigo. A experiência deu tão certo que na mesma hora eu tive vontade de experimentar o PC-BSD, uma variação do popular sistema operacional FreeBSD. Infelizmente, a nova versão do PC-BSD ainda ia levar semanas para sair. Como uma criança pobre com a cara colada na vitrine de uma loja de doces, fui até o site do projeto.

O site do PC-BSD tem visual parecido com o do FreeBSD. Ou seja, é bem projetado, fácil de ler e navegar e entupido de informações úteis. A documentação de instalação é especialmente bem feita. Uma crítica frequente aos desenvolvedores de código aberto é a pouca dedicação ao manual de instruções. Mas isso não é problema no PC-BSD. Enquanto navegava, li o teaser da próxima versão, e havia coisas boas nos planos. Os novos recursos incluem um melhor suporte ao ZFS, um live DVD, melhorias no sistema de atualização de pacotes, a capacidade de rodar aplicativos de 32 bits em um sistema de 64 bits e melhor suporte a binários de programas do Linux.

A espera foi grande, mas em fevereiro a equipe do PC-BSD liberou a versão mais recente, a 8.0, e eu baixei o live DVD. É uma imagem grande, com uns 3 GB. Também há uma imagem USB para quem gosta de levar o sistema operacional no bolso. Nos meus testes com o PC-BSD, usei um desktop (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM), meu notebook HP (dual-core de 2 GHz, 3 GB de RAM) e um ambiente virtual, cortesia do VirtualBox.

Instalação

Inseri o DVD no desktop primeiro, e logo cheguei a uma tela de inicialização muito parecida com a tela de inicialização em texto do FreeBSD. Pelo menu, o usuário pode iniciar o ambiente live, disparar o instalador ou experimentar os vários modos de segurança disponíveis. Escolhi o ambiente live, e um minuto depois surgiu um belo desktop com o KDE 4. Se você usou o KDE recentemente, o desktop vai lhe parecer familiar. Ele tem a mesma barra de tarefas e a mesma castanha de caju no canto. Há alguns ícones no desktop, levando à ajuda e permitindo o acesso a um instalador gráfico. Os programas do menu de aplicativos são, em sua maioria, programas do KDE; vou falar deles daqui a pouco. O desempenho do live DVD é muito bom; não está no mesmo nível em que o live CD de uma minidistro, mas é melhor do que o da maioria das distribuições grandes que experimentei nesse mesmo hardware.

O instalador pode ser lançado pelo desktop ou pelo menu de inicialização. Em ambos os casos, o processo gráfico de instalação nos conduz pelas etapas habituais. Primeiro, o usuário deve selecionar o idioma e o layout de teclado. Depois, escolhe entre uma instalação “limpa”, uma atualização ou a restauração de um backup. Como essa foi minha primeira experiência com o PC-BSD, escolhi a instalação limpa. O instalador também permite ao usuário instalar o PC-BSD ou seu sistema básico, o FreeBSD 8.0. Parece uma excelente maneira de fazer com que os não familiarizados ou desconfortáveis com o instalador de texto do FreeBSD consigam botar para rodar um servidor. O próximo passo é o particionamento de disco. Talvez o PC-BSD tenha a ferramenta de particionamento de disco mais amigável que já vi em um instalador. Há opções para deixar o instalador decidir o que fazer, executar todo o particionamento manualmente ou pedir ao instalador uma sugestão de layout e, em seguida, fazer ajustes nele.

As partições podem ser formatadas como UFS, UFS-J ou ZFS, e é fácil configurar os pontos de montagem. As partições podem ser criptografadas com um clique na caixa de seleção apropriada. Você pode digitar o tamanho das partições manualmente ou arrastando o controle deslizante, que oferece uma boa representação gráfica do que está se passando. A próxima etapa do processo de instalação é a configuração de uma senha de root e a criação de uma conta de usuário comum. O instalador permite que múltiplas contas de usuário comuns sejam criadas nesse momento, e é possível escolher um usuário para fazer login automaticamente. As duas últimas etapas são a escolha do fuso horário e dos pacotes opcionais a serem instalados. Depois que você marca os programas adicionais, o instalador passa à formatação da unidade e à cópia dos arquivos. O processo todo levou uns vinte minutos nos meus computadores.

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PC-BSD 8.0 – o instalador do sistema

Tenho que dizer que o PC-BSD provavelmente tem o melhor instalador de sistema que eu já usei. A organização dele é linda, e ele ainda traz dicas úteis e padrões inteligentes do início ao fim. Um usuário novato chega bem perto de poder clicar oito vezes em “Avançar” e ter um sistema funcional. Mas ainda assim, quase todas as páginas oferecem uma opção para ir mais a fundo, ignorando as escolhas padrão com configurações avançadas. Trata-se de um ótimo software, muito intuitivo, e espero que os desenvolvedores do Linux estudem a abordagem do projeto PC-BSD na parte de instalação.

Compatibilidade de hardware e seleção de software

Depois de instalar o PC-BSD, fui ver como estava a compatibilidade de hardware, pois acho que os drivers são o ponto decisivo para a maioria das pessoas. No desktop, minha placa de vídeo NVIDIA funcionou perfeitamente, o som foi configurado e funcionou sem problemas e minha conexão de rede foi habilitada automaticamente. No notebook, a conversa foi outra. No meu HP, o live DVD levou uns minutos a mais para chegar ao desktop. Uma vez no desktop, o vídeo e o som funcionaram e a conexão de rede foi descoberta. Porém, minha placa wireless da Intel não foi detectada, e meu modem de internet móvel Novatel não foi detectado. Não consegui fazer o netbook entrar em suspensão ou hibernar. A maioria dos dispositivos USB, tais como câmeras ou pendrives, funcionou, mas em um certo pendrive eu não conseguia gravar, e ele funciona bem em outros sistemas operacionais. Ao rodar o PC-BSD no VirtualBox, notei que o desempenho manteve-se estável durante a navegação na web e a edição de documentos mesmo com 512 MB de memória. Abaixo disso, o desempenho caía.

O live DVD contém uma ampla variedade de software, a maioria associada ao KDE. Há uma boa coleção de programas divertidos, educativos e pequenos jogos. Há aplicativos para ouvir música, tocar CDs e assistir a vídeos. Também temos a habitual coleção de programas, como o compactador de arquivos, um editor de textos e uma calculadora. A seção de escritório é meio leve demais, com um organizador, um catálogo de endereços e um visualizador de documentos. Há uma pequena seção de desenvolvimento com ferramentas para programadores. A categoria de internet traz o KTorrent, um gerenciador de downloads, clientes de mensagens instantâneas e o navegador web Konqueror. O menu contém algumas ferramentas de manipulação de gráficos, incluindo aplicativos para captura de tela e gerenciamento de fotos. Por último, mas não menos importante, há ferramentas para manipular compartilhamentos do Samba e gerenciar contas de usuário. O centro de controle é o console comum de configurações do sistema do KDE; quem já usou o KDE 4 deve estar familiarizado com ele. A partir dele, o usuário pode ajustar a aparência do sistema, gerenciar impressoras e configurar serviços do desktop.

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PC-BSD 8.0 – obtendo ajuda e fazendo ajustes nas configurações

Alguns dos programas que podem ser instalados a partir do DVD não estão inclusos no sistema live. Dentre eles, o player multimídia VLC, o GIMP, o K3b e o OpenOffice.org. O PC-BSD 8 também vem equipado com o GCC, para quem quiser compilar seu próprio software. O sistema inclui uma ampla variedade de codecs multimídia, permitindo aos usuários reproduzir arquivos MP3 e a maioria dos arquivos de vídeo logo de tacada. O Flash vem instalado e funciona automaticamente no Firefox.

Segurança e gerenciamento de pacotes

Não há muito do que reclamar sobre o projeto PC-BSD quando o assunto é segurança. O instalador, por exemplo, permite que as partições sejam criptografadas praticamente sem esforço da parte do usuário. Em uma instalação padrão, o único serviço de rede em execução é o SSH, e ele bloqueia logins como root. Na verdade, o root também não pode fazer login localmente: o administrador precisa ter uma conta de usuário comum. A conta root pode ser acessada via su. No meu entendimento, isso combina as melhores características de ter uma conta de root e a abordagem sudo usado por algumas distribuições Linux. Há um ícone na bandeja do sistema que notifica ao usuário quanto a qualquer atualização de segurança do projeto, e todo o sistema se dispõe sobre a sólida base do FreeBSD. Minha única queixa sobre a segurança é a de que os usuários podem ver os diretórios home de outros usuários, incluindo o do root. Os usuários podem mudar isso se quiserem, mas eu prefiro ver permissões mais estritas estabelecidas por padrão.

O gerenciamento de pacotes é onde o PC-BSD realmente brilha. Não só o sistema vem com a ferramenta de linha de comando pkg_add, dando ao usuário acesso à coleção maciça de software do FreeBSD, como também vem com seu próprio método especial para lidar com software. O PC-BSD tem um formato personalizado de pacote, o PBI. Esses arquivos são semelhantes aos RPMs e DEBs, mas têm uma característica importante: são independentes. Sim, os arquivos PBI não têm dependências. Cada PBI se instala no diretório /Programs, impedindo que o /usr fique cheio de tranqueiras. Essa abordagem permite a terceiros empacotar seus programas e oferecê-los aos usuários do PC-BSD sem a preocupação de que uma versão de biblioteca gere conflitos ou problemas de dependências.

O gerenciador de pacotes do PC-BSD é um programa atraente, com três guias. Na primeira, os usuários podem pesquisar no repositório do projeto em busca de software, por nome ou categoria. Os pacotes no repositório são exibidos com nome, descrição, avaliação e tamanho. Instalar um novo pacote é simples: basta clicar no nome do pacote e clicar no link de download. A segunda guia mostra os pacotes que já estão instalados, ou que estão sendo baixados. Os pacotes também podem ser removidos nessa guia. A última guia mostra eventuais atualizações disponíveis. Nela, o usuário pode escolher quais atualizações quer instalar. A abordagem de usar módulos independentes é parecida com a forma como o Slax e o LinuxConsole lidam com pacotes, mas acho o gerenciador de software do PC-BSD mais intuitivo de se usar. Assim como o instalador do sistema, ele tem uma interface simples que permite personalizar as configurações.

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PC-BSD 8.0 – alterando as configurações de atualização

Embora o instalador do sistema suporte apenas UFS e ZFS, o PC-BSD pode lidar com uma variedade maior de sistemas de arquivos. O live DVD conseguiu montar minhas partições ext3 e manipular os arquivos. O suporte à leitura de partições NTFS também foi incluído, mas não tive a oportunidade de testar essa funcionalidade. Essa é uma boa notícia para quem quer fazer dual-boot do PC-BSD com outro sistema operacional. Para quem está migrando para o PC-BSD, o sistema operacional subjacente tem compatibilidade binária com a maioria dos aplicativos Linux. Além disso, o WINE está incluído no repositório do projeto, permitindo que novos usuários do PC-BSD façam uma transição mais suave do Windows.

Conclusões

Como eu já uso o Linux faz tempo, é difícil não ficar comparando o PC-BSD a ele. De modo geral, a balança nesse tipo de comparação pende para o lado do PC-BSD. Por exemplo, o PC-BSD roda mais rápido nos meus sistemas do que a maioria das distribuições Linux de grande porte, e usa menos memória. Meu notebook tem placa de vídeo Intel, e essa placa passou a perna em algumas das distros mais populares, mas o PC-BSD lidou com ela numa boa. O som também funcionou nos meus dois computadores sem que eu tivesse que mexer em nada, coisa que nem sempre o Linux consegue fazer. Há quem não goste da abordagem independente dos pacotes PBI, mas o sistema operacional é compatível com formas mais tradicionais de gerenciamento de pacotes, e ninguém vai ser forçado a usar arquivos PBI.

Depois de uma semana usando o PC-BSD, fiquei muito impressionado com o projeto. Com exceção de parte do hardware do meu notebook, não tive nenhum problema sério. Felizmente, com o live DVD fica fácil testar o hardware antes de fazer uma instalação. O instalador é uma obra-prima e o gerenciador de pacotes é fácil de usar, até mesmo para novatos. O desktop é atraente, estável e respondeu bem nos meus computadores. A documentação, baseada no FreeBSD Handbook, é de primeira linha e os padrões do sistema são inteligentes. Ter o Flash e codecs populares pré-instalados é uma boa sacada, e com eles o PC-BSD está pronto para a ação logo de cara. Na minha opinião, esse sistema operacional pode não ser tão amigável quanto o Mandriva Linux ou o LinuxMint, mas ele não perde muito feio nesse sentido, e ao menos no meu hardware o desempenho dele foi melhor. Ao meu ver, o PC-BSD está pronto para o desktop.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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