Já é possível rodar todos os aplicativos do Microsoft Office no Linux, sem precisar manter o Windows instalado numa partição do HD, graças ao CrossOver Office. No ritmo atual não demorará muito para que outros aplicativos chaves, como o Photoshop ou o AutoCad também rodem.
Ter o monopólio dos principais aplicativos é o principal motivo do Windows ter hoje quase 95% dos desktops. Graças a isto o Windows conseguiu vencer as batalhas contra o OS/2 da IBM, que na época bem superior tecnicamente e igualmente fácil de usar, contra o avanço dos Macs, contra o BeOS e até agora está conseguindo rechaçar com sucesso o avanço do Linux, que até hoje tem apenas 2% dos desktops, menos até que o MacOS, que mantém pouco menos de 3%, segundo a última pesquisa do IDC.
Vendo esses números não é difícil de entender por que as principais software houses não demonstram tanto interesse em lançar versões de seus aplicativos para o Linux. Existem algumas excessões notáveis, como por exemplo a ID e a Corel, que chegou a portar o Corel 9 e começou a desenvolver sua distribuição Linux, embora tenha desistido no meio do caminho.
Do outro lado temos usuários que não se interessam por usar o Linux justamente pela falta de aplicativos como o Office, Dreanweaver, Photoshop, AutoCAD, etc. É um círculo vicioso, os desenvolvedores não portam para o Linux por causa do pequeno número de usuários e os usuários não migram pela ausência destes aplicativos 🙂
Mas, fora as vagas promessas do Lindows, temos uma grande possibilidade de dentro de pouco tempo poder rodar todos estes aplicativos chave no Linux, com a ajuda do Wine, ou outro software desenvolvido com base nele. Hoje foi dado mais um passo importante, para que isso torne-se uma realidade, o CrossOver Office, desenvolvido pelo grupo Codeweavers.
O Codeweavers é um grupo de desenvolvedores dedicado a aperfeiçoar o código do Wine para rodar os principais aplicativos Windows no Linux. É um trabalho com objetivo semelhante ao do Lindows, mas com o diferencial de permitir rodar os softwares compatíveis em qualquer versão Linux e usando seu gerenciador de janelas preferido, o que na minha opinião garante uma possibilidade de sucesso muito maior.
Depois do CrossOver Plugin, que permite instalar o Windows Media Player, o Quick Time e o Real Player no Linux, conseguiram lançar mais um produto, o CrossOver Office, que permite rodar todos os aplicativos do pacote MS Office 2000 (o Office XP ainda não é compatível) e do Lotus Notes no Linux.
Isto já era possível utilizando o Wine, mas desde que existisse uma cópia do Windows instalada numa partição do HD, ou usando o Win4Lin, um emulador que permite rodar aplicativos Windows no Linux, mas novamente desde que exista uma cópia instalada no HD. A grande conquista do CrossOver Office é justamente permitir rodar o Office num ambiente Linux “puro”.
A má notícia é um preço relativamente alto do software. O CrossOver Office custa 54,95 dólares, com descontos para pacotes de 10 licenças ou mais: http://codeweavers.com/products/office/
A instalação do plug-in é bem simples. Basta salvar o arquivo numa pasta do HD e usar o comando sh install-crossover-1.0.0.sh para abrir o instalador, que se encarrega do restante.
Depois de instalado, é criada uma entrada no Iniciar do KDE (ou Gnome). Basta abrir o programa e clicar em “add” para iniciar a instalação do Office ou do Lotus Notes. Tomaram o cuidado e adicionar também atalhos para instalar as fontes True-Type usadas pelo Office.
Basta deixar o CD do Office na bandeja e o instalador será aberto numa janela. Os passos são os mesmos de uma instalação no Windows, com os diferenciais de que não é necessário reiniciar o sistema no final da instalação e de que você é consultado sobre quais formatos de arquivos que devem ser associados com os aplicativos do Office.
Instalando as fontes usadas pelo Office o visual das fontes é muito semelhante do que é no Windows, mas ainda não é possível habilitar o recurso de antialising, o “usar fontes de tela com cantos arredondados”, que está disponível desde o Windows 98 e foi sensivelmente aprimorado no XP. Os desenvolvedores prometeram algo semelhante para a próxima versão, trabalhando sobre o FreeType.
Além do Word, Excel, PowerPoint, Access e Outlook, é possível rodar também o IE, embora ele não seja suportado oficialmente. Ou seja, ele roda, mas os criadores não garantem nada além disto nem dão suporte com relação aos problemas que possam aparecer:
O NewsForge publicou um review que mostra que apesar de funcionar bem o software não está livre de algumas imperfeições:http://newsforge.com/newsforge/02/03/27/0444257.shtml?tid=15
Entre os problemas apontados está uma perceptível diminuição da performance ao abrir vários aplicativos do Office simultâneamente ou mantê-los abertos por muito tempo (algo semelhante ao que vemos no Windows 98) e alguns travamentos dos aplicativos do Office (novamente parecido com o que temos ao rodar o Office no Windows 98). O instalador de cliparts (o que baixa os arquivos de uma página da Microsoft) também não funciona, ele trava um pouco antes de concluir a instalação dos arquivos baixados. As fontes de tela também, não possuem a mesma qualidade que no Windows, mesmo depois de instalar as fontes TrueType e o Outlook Express não funciona adequadamente.
Você pode ver uma lista com alguns dos problemas no site do CodeWeavers:
http://www.codeweavers.com/products/office/supported_applications.php
Naturalmente o desempenho não é o mesmo que no Windows, já que existe um trabalho de emulação envolvido. O Office 2000 fica com um desempenho semelhante ao do StarOffice, que é considerado bem mais pesado que o Office. Isto não chega a ser um grande problema para quem possui um PC muito rápido, acima de 1.0 GHz, mas para quem ainda usa um 233 MMX é uma dor de cabeça considerável, principalmente se somarmos ao bolo o peso do KDE.
As conquistas feitas no CrossOver Plug-in e no CrossOver Office serão incluídos na versão final do CodeWeavers Wine que será lançada nos próximos meses. Se o grupo realmente cumprir a promessa de devolver todo o trabalho feito à árvore de desenvolvimento do Wine após conseguir vender 20.000 licenças todas as principais distribuições vão incluir o software imediatamente e em breve poderemos rodar o Office, Lotus Notes, Media Player, Real Player, QuickTime, ShockWave e outros aplicativos Windows em qualquer distribuição Linux, sem precisar do sistema da Microsoft e muito menos do Lindows, que se mostrou extramente inseguro e muito instável em seu primeiro preview.
Será um cenário sem dúvida interessante, pois além destes aplicativos o Linux continuará sendo capaz de rodar todos os programas gratuítos que temos à disposição, como o OpenOffice, Gimp, Corel Word Perfect e Corel Photo Paint, Evolution, EMacs etc. permitido que o usuário utilize o Office e outros aplicativos Windows que utilize profissionalmente, misturando-os com os aplicativos gratuítos que acompanham a distribuição usada. Por outro lado não existe previsão de quando o Windows será capaz de rodar aplicativos Linux. Se a Microsoft não conseguir o sucesso esperado com o .NET estará em sérios apuros.
Um lembrete importante é que continua sendo necessário comprar uma licença do Office, ou de qualquer outro software comercial para utilizá-lo no Linux. As licenças de uso continuam valendo, não importa qual seja o sistema operacional usado.
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