OpenMoko: presente e futuro

OpenMoko: presente e futuro

OpenMoko: its present and future
Autor original: Jon Levell
Publicado originalmente no:
lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft

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O OpenMoko vem passando por momentos difíceis. Desde 2006, quando anunciou que estaria criando um celular aberto movido a Linux, o OM sofre com problemas de hardware e com um software imaturo e cheio de bugs (a pilha de software já foi reescrita pelo menos duas vezes). Os problemas com o produto resultaram em vendas fracas, que fizeram com que pessoas inteligentes e motivadas abandonassem a equipe (ou fossem demitidas), criando um círculo vicioso.

O LWN narrou os progressos e problemas do OM ao longo dos anos, culminando em mais uma leva recente de demissões, e no novo foco do OM em um misterioso “Projeto B” sobre o qual sabe-se muito pouco, exceto que não se trata de um celular.

Ironicamente, justo quando os telefones deixam de ser (temporariamente?) o foco do OM, um de seus telefones, o Neo FreeRunner (vulgo GTA02) começa a se tornar um telefone estável e de uso adequado para aos leitores típicos dos LWN.

Há várias distribuições disponíveis para o FreeRunner. A maioria das que possui um desenvolvimento contínuo é baseada em uma pilha de telefonia chamada freesmartphone.org (FSO), desenvolvida pelos funcionários (que agora são ex-funcionários) da OM. Essa pilha oferece várias interfaces para o D-BUS que permitem controlar diversos componentes do telefone, incluindo GPRS, wi-fi e GPS, além da funcionalidade de telefone GSM. As distribuições podem trabalhar usando a pilha FSO como base.

O Stable Hybrid Release (SHR) foi uma das primeiras distribuições FSO; sua meta inicial era a de formar um híbrido (daí o nome) com as melhores partes de várias distribuições oficiais do OM. O SHR evoluiu e se tornou uma distribuição de fins gerais tocada pela comunidade, e lança versões de teste regularmente (além da versão instável que é atualizada continuamente), incorporando com frequência novos programas e recursos.

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O OM2009 é a distribuição que conta com a benção oficial do OM e, assim como o SHR, baseia-se na FSO e no OpenEmbedded. O OM2009 é mínimo em termos de recursos e programas oferecidos; o OM queria se concentrar na criação de um celular que funcionasse antes de tentar criar um smartphone. Isso se reflete na escolha do aplicativo Paroli, que é uma interface gráfica para o controle das funcionalidades básicas do telefone, como o discador e o SMS. Nem todas as distribuições usam o OpenEmbedded; o Hackable:1, por exemplo, que criou vários aplicativos populares, baseia-se no Debian, e também há distribuições baseadas no Gentoo e no Slackware. Também há várias pilhas de software que não são baseadas na FSO, incluindo um port do Android.

Todas as distribuições baseadas na FSO ainda são relativamente imaturas; nem o SHR nem o OM2009 lançaram versões estáveis até agora, embora as imagens de teste sejam bastante usadas. A julgar pelo tráfego da lista de discussão e do IRC, a maioria dos usuários parece ter passado a usar essas duas distribuições (eu estou usando o SHR como telefone no meu dia a dia há um mês).

Uso do SHR como telefone no dia a dia

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O SHR contém todos os recursos que se espera de um telefone básico: aplicativos para discar, para envio de mensagens e para contatos. Eles funcionam bem, embora sejam rudimentares. Dá para notar que a qualidade da chamada é pior do que a do meu Nokia em ambientes barulhentos, mas ela é aceitável. O telefone é configurado para entrar em suspensão para economizar bateria, mas volta da suspensão de forma consistente ao receber chamadas e mensagens. Com um padrão de uso típico, a bateria dura alguns dias até precisar de recarga, mas recarregar todas as noites não é má ideia.

Wi-fi, GPRS (o FreeRunner é um telefone 2G) e GPS funcionam e podem ser configurados pela interface gráfica. O navegador padrão (Midori) é mais adequado a desktops tradicionais, e não tem rolamento e zoom pelo dedo, o que torna seu uso meio complicado. Há outros navegadores disponíveis; um membro da comunidade do Hackable:1, em especial, criou um navegador baseado no WebKit chamado Woosh, feito para o FreeRunner. O Woosh ainda está engatinhando, mas se ele ou outro projeto parecido amadurecer, vai fazer um barulhão na plataforma OpenMoko.

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Vários outros programas estão disponíveis, e a maioria marca presença nos repositórios das diversas distribuições, mas o opkg.org tem sua utilidade enquanto vitrine. Alguns aplicativos populares que eu uso regularmente incluem o Navit (sistema de navegação GPS para carros que exige algum trabalho com arquivos de texto para ser instalado e configurado, o Intone (reprodutor de música) e o MokoMaze (um jogo de uma bolinha no labirinto, simples mas viciante, que faz uso do acelerômetro). Aplicativos como o Dictator também podem ser usados para que o telefone grave o que você disser ou para gravar chamadas.

Há vários métodos de entrada para teclados e programas disponíveis (como o Xkbd e o qwo do Hackable:1), mas em parte pelo fato da tela estar dentro do corpo do aparelho (e em parte por se tratar de uma tela sensível ao toque), dá um pouco de trabalho digitar muito texto. Mas como ele é um telefone aberto baseado em uma versão recente do kernel do Linux, o suporte a teclados Bluetooth torna a entrada de texto mais eficiente.

Resumindo, ele tem todos os requisitos de um telefone simples. Além disso, tem uma comunidade criando e refinando seus programas, e dá para usar coisas como o ssh e o vi nele (ou usar a interface simples para o D-BUS para determinar sua localização). Porém, há muitas arestas a serem aparadas. O botão de viva-voz do discador, por exemplo, pelo visto não funciona, não há uma interface gráfica para alterar o volume durante as chamadas e a conexão a redes sem fio exige dois aplicativos: um para ligar o wi-fi e outro que é a interface gráfica do wpa_supplicant.

distribuidores OM ao redor do mundo que ficarão felizes em lhe vender o FreeRunner, mas vale observar que houve várias revisões no hardware. As revisões anteriores à A7 eram suscetíveis a ruídos na linha durante as chamadas em certas combinações de frequências e operadoras GSM. O OM vem dando suporte aos distribuidores (como o Golden Delicious e o SDG), oferecendo correções no hardware para o problema do ruído em modelos anteriores, mas é bom conferir a revisão do FreeRunner que você está comprando para evitar complicação.

O futuro é incerto para o OM e sua relação com os telefones celulares. O OM liberou os esquemas de hardware do FreeRunner e um projeto da comunidade está fazendo várias melhorias. Se nós vamos ou não ver novos telefones e revisões importantes de software do OM é um mistério, mas dada a natureza aberta e voltada para a comunidade tanto do hardware quanto do software, isso não é exatamente uma sentença de morte para o telefone. O OM tem um bom estoque de FreeRunners e pode continuar a fazer mais se houver demanda.

Apesar de ter algumas pontas soltas, o FreeRunner é um telefone pronto para o uso. O que o diferencia dos outros telefones é sua abertura; ao contrário dos outros, quem está no controle são os usuários, e não o fabricante ou a operadora. Todo o software que roda na CPU principal do telefone é livre (o módulo GSM separado é fechado) e os esquemas do hardware estão disponíveis. Porém, dado o estado financeiro delicado do OM, se você quiser um telefone aberto e com uma comunidade cada vez maior, essa pode ser uma boa hora para comprar um.

Créditos a Jon Levell lwn.net
Tradução por
Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>

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