O futuro da música, é assim que a gigante japonesa Sony classifica a sua tecnologia 360 Reality Audio, anunciada em janeiro deste ano, durante a CES 2019.
Assim como a sua concorrente direta, a Dolby, que também tem uma tecnologia parecida – Dolby Atmos Music, essa nova empreitada da Sony para o mercado de áudio é uma solução de codificação baseada em objetos, uma solução que promete trazer ainda mais imersão para o ouvinte em determinadas faixas que passaram por uma remasterização orientada seguindo as diretrizes dessa solução de áudio espacial.
Resumindo: a promessa é que você terá uma experiência riquíssima em detalhamento de posicionamento, tanto de instrumentos quanto de vozes, afim de te transportar de forma mais eficiente para a atmosfera daquela gravação. É sobre essa tecnologia que iremos tratar nesta matéria.
360 Reality Audio
Os serviços de streaming de música, assim como os players portáteis fizeram há alguns anos, facilitam o consumo de áudio, já que eliminaram a necessidade do uso de mídias físicas, como os CDs.
No caso das plataformas de música o objetivo foi levado a outro patamar, já que além de permitir que o usuário não tenha que carregar nenhum tipo de mídia, deixou de lado a necessidade de ter que andar com um segundo gadget, voltado especificamente para a tarefa da reprodução das faixas, e também tirou dos ombros do ouvinte a preocupação com capacidade de armazenamento.
Está tudo na nuvem, um catálogo gigantesco de faixas que depende apenas de um aplicativo instalado no seu aparelho e uma conexão constante com à internet (em certos momentos até isso pode ser eliminado, já que dá pra baixar e reproduzir os álbuns de forma offline).
Mas, para os puristas do som, os amantes dos CDs e principalmente dos Vinis – classificados por alguns com um som que não é alcançado em nenhum outro tipo de mídia -, a vastidão de opções de faixas em plataformas como Spotify e Deezer nunca substituiria a qualidade da reprodução local, da mídia em um player adequado.
Opções de assinatura de alguns serviços de música, que tratam a fidelidade de som como o principal objetivo, estão tentando reverter isso, e agora com o 360 Reality Audio, da Sony, a experiência final no streaming acaba sendo até mais completa do que nas próprias mídias.
Vamos com a explicação da própria Sony para sua tecnologia.
O 360 Reality Audio é possível graças à tecnologia de áudio espacial baseada em objetos. Ele pode acrescentar distância, ângulo e outras informações posicionais a uma fonte sonora como voz, coral, instrumentos, etc. para produzir um campo sonoro tridimensional no qual os diferentes sons e elementos musicais podem ser projetados de qualquer lugar dentro de um espaço de 360 graus ao redor do ouvinte. Isso cria uma rica e imersiva experiência musical semelhante a estar em um show ao vivo. O conteúdo compatível será produzido em colaboração com grandes gravadoras e deverá ser disponibilizado através de serviços de distribuição de música.
Com essa tecnologia, e com a opção da Dolby, a ideia não é entregar apenas o que ficou condicionado com termos como Hi-Fi e lossless, uma reprodução fiel e sem perdas, mas também um som que possa ser envolvente, e que esteja alinhado com o que o engenheiro de som e o artista pensaram para aquele projeto. O 360 Reality Audio e Dolby Atmos Music estão para o som como o HDR10 ou Dolby Vision estão para a imagem.
https://www.youtube.com/watch?v=nyQYtXlSWog
Para as especificações do 360 Reality Audio a Sony firmou uma parceria com a Fraunhofer IIS, organização alemã de pesquisa aplicada.
Esta mesma organização apresentou no ano passado uma tecnologia de áudio 3D com base em apenas duas caxas acústicas. Com essa parceria a Sony fez com que essa tecnologia fosse compatível com o padrão MPEG-H 3D Audio – padrão aberto internacional otimizado para músicas por streaming.
Como ouvir as músicas compatíveis com o 360 Reality Audio
Como explica a Sony, a tecnologia 360 Reality Audio foi pensada para as plataformas de streaming de música, não espere que a companhia lance CDs com esse novo rearranjo de masterização, e nem todas os serviços de streaming são compatíveis, na verdade, até o momento, é possível ter essa experiência de áudio imersivo em quatro plataformas: Tidal, Deezer, nugs.net e Amazon Music HD.
É provável que você já esteja pensando que também é exigido uma certa lista de equipamentos compatíveis com a tecnologia. Em parte sim, mas antes de entrar nesse mérito é importante ressaltar que essa tecnologia da Sony nasceu para ser um padrão aberto, diferente das opções de tecnologia de som orientada a objetos da Dolby (Atmos) e DTS (DTS:X) que exigem o pagamento de uma licença para o fabricante ou plataforma de streaming.
No caso dos fones de ouvido, desfrutar do 360 Reality Audio é bem mais fácil, já que a Sony fala que qualquer fone de ouvido é compatível, evidentemente que fones melhores, em termos de drivers utilizados e concepção como produto, trarão um resultado ainda mais interessante.
A Sony também faz questão de mencionar em seu site a lista dos seus próprios fones sugeridos para essa tecnologia.
Para aqueles que irão conferir o 360 Reality Audio com um fone da Sony a companhia também tem um aplicativo específico que visa permitir um ajuste manual pelo usuário. O app é o Headphones Connect app, disponível para Android e iOS. Com ele você consegue ajustar o campo espacial que refletirá durante a reprodução das faixas.
Para as caixas de som a coisa muda um pouco, é necessário um modelos com uma compatibilidade via hardware com a tecnologia, o primeiro no mercado que oferece essa compatibilidade é o Amazon Echo Studio.
Teste do 360 Reality Audio no Tidal
A maior plataforma de streaming de música em termos de assinantes e repercussão na indústria é o Spotify, mas nem de longe esse serviço é o mais interessante para quem busca a melhor reprodução das músicas e novas experiências que a indústria fonográfica está implementando. Nesse aspecto uma das melhores opções é o Tidal, serviço de streaming de música lançado pelo rapper Jay Z em 2014.
A plataforma, que é reconhecida por suas inúmeras faixas no catálogo no modo de reprodução sem perdas (músicas marcadas com o M na plataforma, m de Master), também é uma das opções de serviços compatíveis com o 360 Reality Audio.
Assim como no caso da reprodução de faixas sem perdas, para usufruir da tecnologia de som com palco espacial especial da Sony é preciso ser um assinante do melhor plano, o Hi-Fi, que custa, salgados, R$ 33,80/mês. Realmente é um valor alto, mas que realmente vale a pena para aqueles que desejam ter uma experiência realmente enriquecedora em termos de som, e até de vídeo, já que no Tidal você também encontra diversos vídeos em alta definição.
Com a assinatura ativa do plano Tidal Hi-Fi, o acesso aos álbuns compatíveis com a tecnologia 360 Reality Audio é feito através do seguinte caminho:
abra o aplicativo do Tidal > na parte inferior do app clique na opção explorar > role a página e clique em 360 Reality Audio. Pronto, serão listados todas as playlists e álbuns compatíveis com a tecnologia.
No Tidal estão disponíveis 88 álbuns compatíveis com a tecnologia. Não espere encontrar as principais faixas da atualidade, até o momento, os álbuns remasterizados seguindo essas opções de diretrizes de posição da tecnologia da Sony estão concentrados em obras de artistas lendários, como Marvin Gaye, Santana, Jeff Beck e Earth, Wind Fire.
Para o teste dessa tecnologia eu escolhi três faixas que gosto bastante: Laid to Rest, do álbum Ashes of The Wake da banda Lamb of God; Same Old Song and Dance, do álbum Get Your Wings, do Aerosmith, e Sexual Healing, do álbum Midnight Love, de Marvin Gaye.
Além de ouvir as músicas no Tidal no modo 360 Reality Audio, reproduzi as mesmas faixas no Spotify, serviço que não oferece essa tecnologia, uma boa maneira de identificar as nuances entre ouvir com e sem esse som espacial que promete ser promissor. Para a reprodução, usei um smartphone Y9 Prime 2019 da Huawei em conjunto com o fone Cloud Orbit da HyperX.
Veredito
O resultado foi o seguinte: no momento é mais marketing do que uma mudança drástica na experiência. Realmente curto bem mais a qualidade de áudio entregue pelas faixas no Tidal comparado ao Spotify, mas a reprodução das faixas compatíveis com o 360 Reality Audio não impressionam tanto como a Sony quer vender.
Na verdade o resultado varia muito de acordo com a masterização, com as ideias adotadas por aquele determinado engenheiro de som, na faixa Sexual Healing, por exemplo, até que é interessante a transição de volume e ambiência do vocal principal para o back, mas como um todo ainda fico com a experiência no modo estero.
No caso de Laid to Rest do Lamb of God, a faixa no modo 360 Reality Audio é uma verdadeira pancada nos ouvidos, pude comprovar uma maior imersão, com destaque para o detalhamento do prato da bateria a partir 02:22 da faixa, mas também não foi perfeito, a música sou aguda demais em diversos pontos.
No clássico Same Old Song and Dance do Aerosmith a experiência foi a mais decepcionante das três faixas que usei como teste, a música soou bem mais baixa, com um som magro e uma reverberação estranha. Indiscutivelmente a música em estéreo é muito superior. Inclusive, nessa faixa, preciso reconhecer que mesmo em estéreo, o resultado no Spotify está melhor do que a própria versão no Tidal nas mesmas condições.
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