OPINIÃO: O caos está instalado com a aquisição da ARM pela NVIDIA

OPINIÃO: O caos está instalado com a aquisição da ARM pela NVIDIA

Os rumores se confirmaram. A NVIDIA adquiriu a ARM, uma das empresas mais importantes para a manutenção de todo o ecossistema de tecnologia, para as mais variadas finalidades, de roteadores e smartphones a carros conectados.

Essa aquisição representa mais um marco para a arquitetura ARM e também um tremendo impacto para outros gigantes da tecnologia, como Samsung, Foxconn e TSMC, que também estavam tentando comprar a empresa.

Em 2020 aconteceram alguns anúncios de peso envolvendo a marca ARM, como a confirmação que a Apple irá deixar de utilizar processadores Intel nos Macs e irá adotar chips baseados na arquitetura ARM, numa plataforma intitulada Apple Silicion

Outro grande feito para a história dessa arquitetura foi o supercomputador japonês Fugaku (sim, o mesmo nome do personagem de Naruto), que lidera a lista dos supercomputadores mais poderosos da atualidade (4315,5 petaflops) e é baseado em ARM. Este é o primeiro supercomputador do Japão a estar no topo entre os supercomputadores mais poderosos do mundo em nove anos!

Supercomputador Fugaku, uma besta de 414,5 petaflops de poder computacional com 48 cores Fujitsu A64FX, SoC baseado na arquitetura ARM.

 

Mas a cereja do bolo ficou realmente com o terceiro fato, a compra da ARM pela NVIDIA. Essa aquisição instala realmente o caos, principalmente no sentido de mudanças, no mercado de tecnologia. Além de ser a maior negociação da história do mercado de semicondutores.

O acordo, que foi confirmado ontem (13) pela NVIDIA, pode chegar a US$ 40 bilhões. A gigante responsável pelas placas GeForce adquiriu a ARM Holdings da firma de investimento japonesa Softbank.  Vale recordar que a Sofbank comprou a ARM há quatro anos por US$ 32 bilhões.


Deste montante aceito por ambas as partes, US$ 21,5 bilhões serão em ações da NVIDIA, US$ 12 bilhões em dinheiro e US$ 5 bilhões em adicionais se a ARM cumprir metas, explica a Bloomberg.

Com essa aquisição, a NVIDIA não apenas se fortalece como um titã do mercado de semicondutores, mas também abre um portal para que a empresa seja fortíssima num segmento altamente lucrativo que é o mercado móvel, mas também podemos estar diante da instalação do caos, no pior sentido do termo. 

Além de ter que passar pelo crivo de autoridades regulatórias, e também pela resistência de empresas que dependem diretamente da arquitetura ARM, como a Qualcomm e Samsung, que, aliás, já tiveram rusgas com a NVIDIA – em 2014, a NVIDIA processou ambas por quebra de patentes de GPU – o anúncio da compra da ARM pela NVIDIA também chega num momento em que informações sobre o alto custo de licenciamento cobrado pela ARM aparecem na mídia.

De acordo com a Reuters, a ARM subiu o custo das licenças de chips. Só para ficar claro, caso você não saiba, a ARM é uma licenciante de tecnologias. Conhecimento, propriedade intelectual e notoriedade são um chamariz de dinheiro, e a ARM sabe muito bem usufruir disso, além ostentar uma posição altamente significativa no mercado – somente no último trimestre de 2019, 6,4 bilhões de chips baseados em ARM chegaram ao mercado. Como a ARM está presente em múltiplos segmentos, sua posição é incontestável.

De acordo com a Statista, além do segmento móvel, que a ARM já domina com folga, até 2028 sua arquitetura será ainda mais significativa em Data Center/Cloud e no plano automotivo. Mercados que interessam muito a NVIDIA.

Fonte: Statista

 

Com esse aumento no custo do licenciamento da tecnologia – na casa dos milhões para os projetos mais importantes baseados em ARM, somado a um colosso como a NVIDIA administrando os rumos futuros da companhia, a busca por alternativas pode acabar entrando no radar de algumas empresa. Essa alternativa seria o padrão aberto RISC-V. No entanto, por todo o conjunto de tecnologias agregadas, e que serão somados com o potencial da NVIDIA, se desgarrar de ARM para a esmagadora maioria das empresas é um caminho impossível.

Evidentemente que a NVIDIA já chegou acalmando o mercado. O CEO da jaqueta mais estilosa do mundo da tecnologia, Jensen Huang, disse que a ARM continuará utilizando o modelo de licenciamento aberto, mantendo a neutralidade global com seus clientes. Os parceiros da ARM também poderão continuar tirando proveito das inúmeras inovações que a NVIDIA está trazendo.

Jensen Huang, CEO e cofundador da NVIDIA

 

A relação da NVIDIA com ARM não é nova, os chips Tegra da NVIDIA são baseados em ARM, e, embora a NVIDIA nunca conseguiu ser realmente competitiva no mercado móvel, o Tegra ainda marca presença num dos consoles mais populares dos últimos anos, o Nintendo Swiftch, e também nos set-top-boxes da própria NVIDIA, o Shield.

Em 2016, a NVIDIA abandonou a ideia de seguir produzindo processadores para smartphones e outros dispositivos móveis, alegando que não estava mais interessada neste mercado, com a aquisição da ARM poderemos ver uma retomada da gigante neste mercado, entregando uma solução realmente competitiva aos processadores Snapdragon, Exynos, Helios e Bionic. 

Outros segmentos, como o de supercomputadores, ganharão ainda mais força com essa aquisição da NVIDIA. A empresa já até confirmou que irá construir um supercomputador baseado em ARM na sede da empresa, na cidade de Cambridge, Inglaterra. A Inteligência Artificial que é um segmento chave para a NVIDIA também ganhará mais destaque com a compra da ARM. Huang, em comunicado, disse que a IA é a força mais poderosa de nosso tempo e que nos próximos anos trilhões de computadores executando IA criarão um nova internet das coisas que é milhares de vezes maior do que a internet das pessoas de hoje.

É bem interessante o olhar que a NVIDIA tem para a IA, com implementações neste sentido nas mais variadas abordagens, incluindo tratar o treinamento da máquina e sua implementação como diferenciais de suas placas de vídeo para jogos, por exemplo. Este ano comentei neste post sobre o RTX Voice, uma tecnologia de supressão de ruídos de fundo, que atua com base em IA. Essa é uma das possibilidades que torna o entendimento da IA mais claro para os mais variados tipos de público.

Agora vamos ter que aguardar os próximos capítulos desse processo de aquisição da ARM pela NVIDIA, que deve ser concluído em cerca de 1,5 anos. Podem apostar que a resistência será forte. A declaração de Hermann Hauser, um do cofundadores da ARM, antes mesmo da confirmação da negociação, evidencia a temperatura do tema. De acordo com Hauser, o objetivo da NVIDIA é limitar o licenciamento dos núcleos Cortex, da ARM, e dominar o mercado, e que a vantagem da ARM é que sua administradora (agora ex), a Softbank, não é uma empresa de chips.

O caos está instalado meus amigos!

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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