O PC é a pior plataforma para que você possa desfrutar do conteúdo em 4K da Netflix. E essa conclusão nem é baseada na qualidade da reprodução, que obviamente perde para uma mídia de Blu-Ray 4K, principalmente por causa da oscilação da conexão, que faz com que a qualidade fique constantemente sendo ajustada, mas sim pelos requisitos absurdos e inviáveis para que isso ocorra.
Na segunda-feira a Microsoft anunciou em seu blog, a exclusividade da reprodução de conteúdo em 4K da Netflix no Windows 10. Somente esse sistema e o seu navegador embarcado, o Microsoft Edge são capazes de entregar o 4K do serviço de streaming. Isso sem contar é claro que você precisa ser assinante do plano mais caro da Netflix que contempla a reprodução em Ultra HD (no Brasil custa R$ 29,90 mensal), conexão de no mínimo 25 Mbps, e uma tela com a tal resolução, que é de 3840x2160pixels
Até aí, vamos dizer que é aceitável, mas a pior parte vem a seguir: para que você possa reproduzir 4K na Netflix também é necessário que o seu computador tenha um processador da 7ª geração Intel Core, mais conhecido como Kaby Lake. Então só para deixar mais claro, além de um sistema, browser, monitor e conta especifica você também tem que ter um processador adequado.
Quando trazemos essa conversa para os meandros do nosso país varonil, Netflix em 4K no PC não se misturam. Os processadores Kaby Lake estão disponíveis no momento apenas em versões para dispositivos móveis (notebook, ultrabooks e 2 em 1). As CPUs para desktop, serão lançadas somente em 2017. No Brasil o que temos de Kaby Lake até o momento é o Ultrabook XPS 13 da Dell, que em sua versão mais parruda, com o Core i7, custa a singela bagatela de R$8.327,00
Outro detalhe que joga contra é a questão da conexão, a Netflix recomenda que para a reprodução em 4K é necessário no mínimo 25 Mbps. Dados da Akami de setembro de 2016 mostram que dos 26,5 milhões de acesso de banda larga no Brasil, apenas 6,8 milhões estão dentro do escopo de 12 Mbps a 34 Mbps. Isso é claro sem falar da qualidade pífia entregue pelas provedoras de acesso.
Ter uma conexão de 25 Mbps no Brasil já é algo altamente restrito, ter 25 Mbps batendo constante é quase impossível. Se levarmos em conta a velocidade média da banda larga no Brasil as coisas são ainda piores. Em 2015 a velocidade média registrada pela Akami foi de 4,1 Mbps.
É óbvio que quem quer adentrar no mundo do 4K está (ou deveria) ciente dos custos e imposições necessárias, e para uma fidelidade de reprodução a mídia física e o player ainda são insuperáveis. 4K de verdade é com um player Ultra HD e a mídia, ponto final! Porém com o crescimento da Netflix e de suas produções de altíssima qualidade, como House of Cards, Demolidor e Jessica Jones , o interesse pela reprodução em 4K dessas séries exclusivas aumenta. Além é claro da própria comodidade de encontrar na mesma plataforma uma variedade de conteúdo compatível com essa resolução.
A Netflix ganha na questão da comodidade, relação custo x benefício do conteúdo perante ao preço das mídias, mas perde na qualidade final da reprodução que varia de acordo com o desempenho da sua conexão. Essa perda na qualidade é muito sentida principalmente no aspecto sonoro, que é bem superior na mídia, ainda mais quando falamos de formato de compressão onde as perdas são praticamente nulas, como o Dolby Atmos, DTS:X, Dolby True HD e o DTS HD Master Audio. Essa mesma sensação de imagem e som superior também são perceptíveis no Full HD 1080p, quem já assistiu um filme em um Blu-Ray original sabe do que estou falando!
Por que é tão difícil e restrito o 4K da Netflix no PC? A resposta para essa pergunta é bem simples: proteção do conteúdo. Apenas no Windows 10 é encontrado a tecnologia PlayReady em sua terceira geração. Essa tecnologia de gerenciamento de direitos autorais é baseada em hardware, e está disponível somente para o Windows 10, em seu Anniversary Update, além é claro do hardware dos parceiros envolvidos (AMD, Intel, Qualcomm e NVIDIA), e claro que reprodução do conteúdo tem que ficar a cargo do Edge.
É óbivo que os processadores Kaby Lake contam com o suporte a essa tecnologia, por isso ele é colocado na roda como obrigatório para a reprodução do conteúdo em 4K na Netflix. Sem a tecnologia PlayReady 3.0, só é possível reproduzir conteúdo na Netflix em 1080p, então não há saída, para desfrutar do 4K do serviço de streaming no PC você terá que fazer um upgrade de sistema e de hardware.
Uma coisa me deixou encucado e infelizmente caro leitor ainda não tenho a resposta para isso. O tal problema da reprodução em 4K está ligada principalmente a barreira de hardware do PlayReady 3.0, e essa tecnologia não está embarcada somente no processador Kaby Kake, já que a Microsoft tem outros parceiros. A geração de placas de vídeo Pascal, por exemplo, conta com o suporte a essa tecnologia, mas em nenhum momento é citada pela Microsoft ou Netflix como um hardware apropriado para a reprodução do conteúdo em 4K. A dúvida que fica é que se essa imposição está sendo colocada somente para um hardware totalmente onboard, ou se em configurações com placas de vídeo offboard que suportam o tal PlayReady 3.0 também é necessário o processador Kaby Lake. Há também a dúvida de quando a AMD irá apoiar o PlayReady 3.0 (na linha Zen?)
Essa medida mais enérgica dos estúdios de Hollywood e seus agregados é uma forma de tentar não sofrer com a dimensão da pirataria como foi com o conteúdo em Full HD. No caso das TVs, por exemplo, para lidar com o 4K é necessário que ela conte com o suporte ao HDCP 2.2, que é uma forma de proteção contra cópia para saídas de vídeo HDMI.
Além dessa tecnologia há também a necessidade da compatibilidade com codec HEVC de 10-bit, padrão que a Netflix adota para a reprodução de 4K, e que está presente somente na 7ª geração Intel Core, a geração passada, Skylake, entrega apenas 8-bit.
Tudo como sempre é arranjado para favorecer as questões comerciais, sempre o que é necessário está apenas no que não temos, e que ainda será lançado, e acabamos sendo obrigados a adquirir para que então possamos usufruir de certas coisas como o streaming em 4K, por exemplo.
Porém, sendo bem sincero, e deixando a conversa dentro do nosso quintal, duvido que muitas pessoas no Brasil tenham ficado chocadas ou decepcionadas com essa bateria de coisas para a reprodução em 4K na Netflix. Quantos estão preparados (ou se importam) em rodar o 4K de qualquer maneira que seja, independente se é no PC ou em consoles ou qualquer outro lugar, O registro que tem que ser destacado aqui é que mais uma vez a solução para a proteção dos direitos autorais continua girando a máquina registradora das companhias envolvidas e prejudicando o consumidor.
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