Vez ou outra aparece alguém dizendo que a queda no preço dos monitores LCD é passageira, que os baixos preços atuais (pelo menos em comparação com os praticados a um ou dois anos atras) são devido à baixa procura, etc. etc. Mas, apesar das vozes destes profetas os preços continuam caindo.
Nos EUA já é possível encontrar vários modelos de 15″ abaixo dos 300 dólares, um preço tão atrativo que até mesmo os modelos de 17″ e 19″ já estão começando a ficar populares. Mesmo por aqui já existem algumas opções palatáveis.
Os modelos de 15″ da Waytec custam por volta de R$ 1350, enquanto os da Sansung e Philips estão a meses estacionados nos R$ 1800. Os da LG estão um pouco mais caros: pouco mais de R$ 2000, mas já é possível encontrar alguns modelos por R$ 1200 ou até menos no mercado cinza.
Estes preços não parecem tão altos se considerarmos que a área útil de um LCD de 15″ (os 15″ totais, sem perda), é próxima à de um monitor CRT de 17″, onde temos uma área total de 16″ ou 16.1″ na maioria dos modelos, fora a margem que costumamos deixar para evitar as bordas, onde o tubo é mais curvo. Como os CRTs de 17″ custam entre R$ 600 e R$ 900, estamos falando de uma redução de preço de apenas 50% ao optar por um modelo tradicional, em contraste com as fortunas que os primeiros LCDs custavam por aqui.
Felizmente, tudo indica que os preços continuarão caindo, talvez a ponto de dentro de menos de 5 anos os preços dos LCDs e CRTs se equipararem.
É claro que não estou vendo isso na posição dos astros nem na bola de cristal. Existem razões mais do que suficientes para poder dizer isto com tanta certeza:
Os monitores de matiz ativa atuais são produzidos de forma muito semelhante aos processadores. A principal diferença é que são usadas placas de vidro ao invés de waffers de silício. Temos no início um processo de polimento, que cria os sulcos, onde ficará deposita a camada de cristal líquido. Depois, vem a parte mais difícil, que é produzir a partir do vidro, um transístor para cada célula de cristal. Como temos três células para cada pixel (verde, vermelho e azul), um monitor de 15″ com resolução de 1024×768 possui quase 2,4 milhões de transístores.
A grande dificuldade é que o vidro é um material completamente inadequado para produzir transístores. Num waffer de silício a superfície é tratada de forma que os átomos assumem uma estrutura extremamente organizada, quase perfeita. No vidro temos em compensação uma estrutura completamente desorganizada e irregular, o chamado silício amorfo. Além de usar a mesma e cara litografia óptica, usada nos processadores, os fabricantes de LCDs precisam lidar com o alto índice de defeitos provocados pela baixa qualidade do material e ao mesmo tempo coma baixa produtividade, já que estamos falando de “chips” que medem aproximadamente 22,5 x 30,5 cm, em contraste com os poucos milímetros quadrados de um processador.
No início da década de 80, os monitores LCD eram produzidos em placas de 20 ou 30 centímetros quadrados, onde tínhamos, na melhor das hipóteses, 4 telas de 7 polegadas por placa, tamanho que era comum nos notebooksda época. Com o passar do tempo as técnicas de produção evoluíram muito. Hoje em dia o mais comum é o uso de placas de quase 1 metro quadrado, suficientes para produzir vários monitores de 15″ ou 17″ em cada fornada.
O custo de produção dos monitores cai conforme aumenta o tamanho das placas. É uma situação muito similar à que temos no mercado de processadores, onde mesmo produzindo um chip muito maior (o Pentium 4 Northwood mede 146 milímetros quadrados, enquanto o Athlon Thoroughbred mede meros 80 milímetros) a Intel consegue manter um custo de produção por chip muito próximo do da AMD, por utilizar waffers de 30 centímetros, enquanto a rival ainda utiliza waffers de 20 centímetros. O custo de produção por waffer é muito semelhante, mas a área nos waffers de 30 cm é muito maior.
Existe ainda uma outra área em que os fabricantes estão conseguindo evoluir. Através do refinamento das técnicas de fabricação estão conseguindo reduzir também o índice de transístores defeituosos, o que significa menos monitores reprovados no controle de qualidade.
Cada transístor defeituoso aparece como um bad pixel no produto acabado. Estes defeitos são comuns e nem sempre percebidos pelos proprietários. Para ver se o LCD que você está prestes a comprar possui algum, basta usar uma imagem ou proteção de tela qualquer que faça a tela ficar toda branca. Os pixel defeituosos são facilmente percebidos, pois ficam sempre apagados, ou em alguns casos em uma cor diferente da do resto da tela, geralmente em algum tom de vermelho.
Normalmente os fabricantes toleram um máximo de dois bad pixels por monitor, desde que estes não estejam na área central da tela, os que não satisfazem o requisito acabam indo para a lata de lixo. Com índices de defeitos cada vez mais baixos diminui o desperdício e cai o custo de produção por unidade.
Além disso, mesmo baratos, os monitores de LCD ainda representam um mercado muito mais lucrativo que o dos CRTs, onde a concorrência é muito maior. Outro fator a ser considerado é que a demanda pela novidade não pára de crescer. Segundo um pesquisa divulgada recentemente pela iSuppli a damanda crescerá 36% ao ano até 2006.
Um sinal claro de que as coisas tendem a melhorar ainda mais é a notícia de que a Philips e a LG estão investindo 1 bilhão de dólares numa nova fábrica que entrará em atividade no primeiro semestre de 2003. Lá serão usados waffers de 110 x 125 centímetros, com uma capacidade de produção mensal de 60.000 placas, suficientes para produzir quase 1.000.000 de monitores de 15 polegadas todo santo mês.
Para quem trabalha o dia todo na frente do PC, usar um monitor LCD faz uma grande diferença. Em primeiro lugar, temos o óbvio: a imagem é totalmente flicker-free, já que o LCD se baseia no bloqueio parcial da luz gerada pelas lâmpadas fluorescentes montadas atrás do vidro e não por células de fósforo que são bombardeadas 60 ou 75 vezes por segundo pelo canhão de elétrons.
Além do flicker, temos a questão do reflexo. Todos os LCDs possuem uma tela 100% plana, com uma camada anti-reflexiva cobrindo a lâmina de vidro. Estas duas características permitem trabalhar confortavelmente mesmo com o sol batendo bem ao lado, ao contrário da maioria dos monitores CRT, que além da tela curva não possuem camada anti-reflexiva. A nitidez também é muito melhor num LCD, pois cada ponto da imagem é formada por um pixel fixo.
Temos ainda a questão do contraste. Muitas vezes, lemos que os LCDs são inferiores aos CRT neste aspecto, pois são capazes de manter um contraste de 400 ou 500 por 1, enquanto os CRTs oferecem um contraste e luminosidade bem maiores. A grande questão é que se você utilizar o brilho e o contraste no máximos em qualquer monitor CRT a imagem ficará tão brilhante que você terá problemas de visão em pouco tempo. Além disso, quanto mais clara é a imagem, mais perceptível é o flicker, pois as células têm dificuldades em manter um nível muito alto de luminosidade por muito tempo. Usando uma taxa de atualização de 85 Hz, mas com a imagem muito clara, você poderá ter uma imagem tão instável quanto alguém utilizando 60 Hz mas com o monitor mais escuro.
Este problema faz com que muita gente acabe ou abusando do brilho, ou usando o monitor escuro demais para disfarçar o flicker, o que acaba causando mais cansaço visual que o normal e pode até causar problemas mais sérios a longo prazo. Num LCD os níveis de luminosidade mínimos e máximos ficam sempre dentro do moderado, proporcionando uma imagem bem mais confortável, mesmo que você prefira usar o monitor muito escuro ou com muito brilho.
Se você tiver a chance de usar um monitor LCD durante alguns dias vai perceber que a diferença depois de algumas horas de uso é muito significativa. Olhar para um monitor LCD é quase como olhar para uma folha de papel.
Os produtos atuais também se distinguem das primeiras gerações pela velocidade de atualização de tela. Não temos mais a tela borrada dos antigos LCDs de matiz passiva ou dos dual-scan usados até pouco tempo. Nos últimos modelos o tempo de atualização já se aproxima dos 20 milessegundos, metade do tempo suficiente para assistir um DVD confortavelmente. O tempo de resposta é baixo o suficiente para não fazer feio mesmo nos FPS games. Eu não considero o ângulo de visão um fator muito importante num monitor, a menos que você use o PC para assistir filmes, mas apesar do meu desdém, muitos modelos oferecem ângulos de visão de até 70º em todas as direções.
Como o consumo elétrico dos LCDs é bem mais baixo, de 30 a 35 Watts, contra os 110 Watts de um CRT de 17″, você pode considerar ainda uma certa economia na conta de luz, que pode fazer diferença a longo prazo.
Como um último ponto a ser considerado, temos a questão estética. Além visual mais moderno, os LCDs ocupam muito menos espaço, permitindo que você coloque o gabinete atrás do monitor, ou use o espaço para outras coisas. Dá até para pendurar o monitor na parede se o seu quarto ou escritório for muito apertado.
Eu pessoalmente sou um grande entusiasta dos LCDs. Consegui comprar o meu a quase um ano, quando eles ainda eram novidade, por isso posso escrever estas linhas com conhecimento de causa. Se você sente os olhos arderem depois de ficar muito tempo na frente do micro, um LCD pode ser um upgrade muito mais útil que trocar a dupla placa mãe e processador.
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