10 mitos sobre o Linux

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10 mitos sobre o Linux

Anteontem, li um artigo interessante, publicado no optusnet.com.au, que conta a história de um usuário que depois de três anos utilizando o Linux, decidiu migrar de volta para o Windows XP. Os principais motivos descritos por ele para a mudança foi o melhor suporte a Hardware, maior facilidade na instalação de programas e o melhor desempenho do vídeo.

Mesmo hoje em dia, é difícil contestar que nestes três campos o Windows XP é realmente superior. Apesar de muitos dispositivos antigos não serem mais suportados (tenho um scanner que não é suportado sequer no Windows 2000…) praticamente qualquer dispositivo recente já vem com drivers para o Windows XP. Isto não é bem um mérito do sistema operacional em sí, já que os fabricantes é que desenvolvem os drivers, não a Microsoft, mas para os usuários não importa quem desenvolve os drivers, desde que eles existam e sejam fáceis de instalar.

A instalação de programas já é um ponto um pouco mais questionável, pois instalar um pacote RPM é apenas uma questão de clicar sobre o arquivo para abrir o rpminst, fornecer a senha de root e clicar no “next” três vezes. O grande problema é que poucos aplicativos criam atalhos no iniciar do KDE ou do Gnome, sendo assim depois de instalar o programa é preciso criar o atalho manualmente, o que é na minha opinião o maior obstáculo para novos usuários.

De minha parte, estou bastante satisfeito com os aplicativos disponíveis atualmente para o Linux. Apenas dois programas, o Star Office (que também uso na minha máquina Windows) e o pdf-printer do KDE, que permite gerar diretamente arquivos em PDF, já substituíram dois aplicativos que precisaria utilizar no Windows (o Office e o Adobe Acrobat) que juntos custariam R$ 2000. Se tivesse que comprar os equivalentes proprietários dos outros softwares que utilizo, como por exemplo o acesso remoto do X, que utilizo nos meus terminais leves, o compilador C, etc. teria que desembolsar provavelmente mais de 10.000 reais. Além disso, o Linux me permite fazer muitas coisas que não poderia fazer no Windows ou que envolveriam a compra de software.

Não entendo por que tantas faculdades usam o Borland Turbo C nas aulas de programação, um software inferior e que a maior parte dos alunos não têm como comprar, ao invés de usar o GCC, encontrado em qualquer distribuição do Linux que possui um número muito maior recursos.

A questão é que a maioria dos usuários não utiliza tantos recursos. Eles querem apenas navegar na Web, escrever alguns textos simples, rodar alguns jogos e baixar um monte de MP3 🙂 Para eles, sem dúvida o Windows XP é muito mais simples de usar e até mesmo mais rápido, se formos comparar o desempenho dele com o Mandrake 8.2 rodando o KDE 3 por exemplo.

Isto nos ensina que dificilmente existe uma solução melhor para todo mundo, por isso é importante saber respeitar as opiniões dos outros, como a exposta no artigo acima. Só não vale querer rodar o MDK 8.2 com o KDE num Pentium 133 e depois ir no fórum reclamar que ficou lento, igual alguém fez esses dias 🙂

Mas, o título desde artigo, se refere a um outro texto, que comenta 12 pontos fracos do Linux que já foram corrigidos nas versões atuais das principais distribuições, que pode ser lido aqui. Este artigo mistura alguns dos tópicos levantados no artigos acima, com mais alguns que gostaria de esclarecer, junto com as minhas opiniões pessoais e mais algumas informações sobre cada um dos “mitos”:

  1. O Linux não possui um sistema de arquivos com suporte a Journaling

    Esta afirmação era comum na época do Kernel 2.2, aliás também era algo de que me queixava freqüentemente. O sistema EXT2 não oferece uma boa tolerância a falhas, fazendo com que seja necessário rodar o FSCK depois de um desligamento incorreto do sistema. Algumas vezes a passagem do FSCK é rápida e indolor, mas em outras são encontrados erros “irrecuperáveis” no sistema de arquivos e você precisa dar a senha de root e rodar o FSCK manualmente, respondendo se deseja corrigir, um a um, ou não os erros que podem causar perda de dados.

    Felizmente, hoje já temos a opção de usar o EXT3 ou o ReiserFS, entre pelo menos mais 4 ou 5 opções de sistemas com suporte a journaling, capazes de se reestabelescer automaticamente e sem grandes riscos de perda de dados depois de um desligamento incorreto, assim como no NTFS.

    Como já tive tempo de testar os dois sistemas durante um bom tempo, posso recomendar o uso do ReiserFS, que foi o que realmente não me deu problemas. O EXT3 ainda é baseado no velho EXT2 e às vezes, algo como uma vez a cada 10 desligamentos incorretos, não é capaz de recuperar o journal e volta a executar o velho FSCK, um problema que não existe no ReiserFS.

  2. Faltam boas interfaces gráficas

    Da primeira vez que instalei o Linux, o Conectiva Marombi (ainda a segunda versão, agora estamos no 8) passei maus bocados tentando achar algum gerenciador de janelas que me agradasse. No final acabei ficando com o AfterStep, que apesar de não ser exatamente o que estava procurando, tinha um visual bonito.
    Hoje em dia existem o KDE e o Gnome e as demais interfaces evoluíram muito. Entre eles o KDE é meu preferido, pois oferece um visual mais consistente e mais programas integrados, que cobrem uma grande quantidade de tarefas. O que dizer do Koffice por exemplo, uma suíte de escritório completa que vem de “brinde” no pacote ou do Kcontrol, que permite configurar de forma centralizada a maior parte das opções do sistema, substituindo a peregrinação por arquivos de configuração que temos que fazer em muitas das interfaces mais simples.

    O Gnome também tem seus pontos fortes; felizmente é possível manter os dois instalados e usar os melhores aplicativos de cada pacote.

    O KDE oferece suporte a temas, menus transparentes e outros recursos visuais, o que melhorou mais um pouco no KDE 3.1, como comentei aqui. Temos ainda vários recursos que não existem em outros sistemas, como por exemplo um driver de geração de arquivos PDF incluído no pacote. O grande problema do KDE ainda é o desempenho, por isso só é recomendável utiliza-lo em máquinas com pelo menos 128 MB de RAM e um processador rápido, algo a partir de um Celeron 400. Você pode ver um teste de desempenho que fiz a algum tempo aqui.

    Para quem utiliza máquinas mais antigas, as melhores opções de gerenciadores são o Blackbox/Fluxbox e o IceWM, que oferecem um ambiente extremamente rápido, sem ou com a barra de tarefas e manter o KDE e Gnome instalados apenas para poder rodar os aplicativos dos dois pacotes quando necessário. Você pode ler um pouco mais sobre as opções de gerenciadores leves aqui.

  3. Nenhuma boa suíte de escritório

    Esta afirmação está mesmo um pouco longe da realidade ;-). Eu utilizo o StarOffice 5.2 para editar o meus livros e outros textos desde o final do ano passado. No início migrei para ele por causa da gratuidade, mas depois descobri que a suíte oferece ótimos recursos e oferece a vantagem adicional de rodar tanto no Linux quanto no Windows.

    Mesmo não sendo mais gratuito, pretendo atualizar para o StarOffice 6.0 assim que ele estiver disponível em Português do Brasil. O atual ainda é a versão internacional, que não inclui o corretor ortográfico em Português do Brasil, ao contrário do 5.2 que fora os menus em Português de Portugal oferece um corretor muito bom.
    O OpenOffice 1.0 equivale ao StarOffice 6.0, mas com as desvantagens de também não incluir o corretor ortográfico em Português do Brasil (embora já tenha em Português de Portugal), não incluir o banco de dados Adabas, além de incluir uma variedade menor de fontes TrueType, que podem ser instaladas manualmente depois, copiando as fontes desejadas para a pasta /share/fonts/truetype dentro do diretório de instalação.

    Temos ainda o Koffice, muito fácil de usar e com boas funções e mais um conjunto de outros programas, como o Abiword e o GNUmeric.

    Todos estes programas oferecem níveis variados de compatibilidade com os arquivos do Microsoft Office, com destaque pra o StarOffice e o OpenOffice onde os filtros estão mais desenvolvidos. O principal problema aqui é que a Microsoft muda os formatos de arquivos a cada nova versão do Office, dificultando a vida dos outros desenvolvedores, tanto muda que mesmo as versões mais antigas do Office oferecem uma compatibilidade limitada com os arquivos da nova versão.

  4. O Linux não roda o MS Office

    Felizmente, para quem não pode viver sem compatibilidade total com o Office, já existe a opção de rodá-lo no Linux com a ajuda do Cross-Over Office, que apresentei aqui

    No meu caso eu não tenho muitos problemas com qual suíte de escritório utilizar, pois com a maior parte dos meus artigos vai direto para o site, posso escrevê-los direto em html, usando um editor de textos qualquer. No Windows tenho que escrever no StarOffice (por causa do corretor ortográfico) e depois salvar em texto puro, mas no Linux posso utilizar o Kwrite ou outro dos editores disponíveis, já que todos podem utilizar o corretor ortográfico do Ispell. Ultimamente tenho utilizado muito o Quanta Plus, um editor de html (não visual) excelente, que está facilitando bastante o desenvolvimento das páginas do Guia, sem poluir o código.

  5. O Linux não suporta fontes com Anti-Alising

    Tanto o KDE 3 quanto o Gnome 2 oferecem um bom suporte a fontes com cantos arredondados. Mesmo o KDE 2 já oferecia suporte, embora não tão elaborado.

    Apesar disso, nem todos os aplicativos oferecem suporte a Anti-Alising, com destaque para o Mozilla. Porém, como atualmente temos suporte nativo tanto a partir do KDE e do Gnome, quanto a partir da biblioteca QT (usada pelo KDE entre vários outros aplicativos) e recentemente por parte do próprio XFree, a tendência é que cada vez menos programas não ofereçam suporte. Se você utiliza o Konqueror ou o Netscape atualmente, vai perceber que as fontes das páginas são exibidas com uma qualidade muito semelhante à do Internet Explorer, considerando naturalmente as mudanças nas fontes utilizadas, por conta nas diferenças dos pacotes de fontes dos três browsers.

  6. Não existe nenhum forma simples de atualizar o sistema, como o Windows Update

    A onda dos instaladores inteligentes começou com o Apt-Get, usado no Debian, Conectiva e em várias outras distribuições. Depois veio o Mandrake Update, incluído no Mandrake a partir da versão 8.0 e mais recentemente tivemos o up2date incluído no Red Hat 7.2. Ou seja, todas as principais distribuições contam com algum assistente de atualização do sistema. No Mandrake Update por exemplo, basta selecionar que tipo de atualizações você deseja baixar (atualizações de segurança, bug fixes, atualizações normais ou todas) e ele exibirá uma lista de atualizações disponíveis para todos os pacotes, não apenas do sistema operacional, mas de todos os aplicativos instalados na máquina, permitindo que você escolha o que deseja.

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    Em geral, as atualizações de segurança são apenas para os servidores, como o Apache, Squid, ProFTPD, SSH, etc. As atualizações de segurança para programas de uso geral são muito raras. É um ponto em que o Linux leva vantagem, já que se você não manter nenhum servidor ativado, vai estar razoavelmente seguro, mesmo rodando versões antigas dos aplicativos, algo que não ocorre no Windows, onde é preciso manter pelo menos o Internet Explorer, Outlook e o antivírus atualizados.

  7. Falta um bom leitor de e-mails

    Existem vários excelentes clientes de e-mail para Linux, como o Kmail, Netscape Messager e vários outros. O grande problema era que estes não são compatíveis com o Microsoft Exchange, usado em muitas empresas, nem oferecem uma agenda integrada, opções avançadas de filtros e outros recursos encontrados no Microsoft Outlook.

    Atualmente esta lacuna foi preenchida pelo Evolution, que combina todos estes recursos, com uma segurança muito maior contra vírus de e-mail. O Evolution oferece alguns recursos bem interessantes, como a possibilidade de indexar as pastas de e-mail, o que permite realizar buscas quase instantâneas nas mensagens armazenadas. É um sistema semelhante ao utilizado por mecanismos de busca como o Google. O melhor é que o Evolution já acompanha a maioria das distribuições.

  8. Não existe nenhum IDE com debugger integrado

    Este tema interessa muitos aos programadores. IDE neste caso não é a interface IDE da placa mãe, mas um ambiente integrado de desenvolvimento, como o MS Visual Studio, VB, Delphi, etc.

    A ausência de um IDE fácil de usar e com um debugger integrado era mais um ponto fraco do Linux, que foi solucionado com o Kdeveloper, que faz parte do pacote KDE e também é incluído na maioria das distribuições. Fora ele existem várias outras ferramentas de desenvolvimento, como o Kylix, inúmeros editores e o “poderoso” EMacs, que apesar da cara feia é utilizado pela maioria dos melhores programadores do planeta.

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  9. Não existe suporte a scanners

    Atualmente já existe suporte a vários modelos de scanners, graças ao Sane, utilizado por vários programas gráficos, como o Kooka. O Mandrake 8.2 oferece também uma ferramenta de configuração de scanners encontrada no Mandrake Control Center que também é baseada no Sane, mas oferece suporte a mais alguns modelos.

    Naturalmente, não existe suporte a todos os modelos, mas já é o suficiente para, com a lista dos modelos compatíveis em mãos, comprar um scanner que funcione sem problemas no Linux. Aliás, se você utiliza ou pretende utilizar o Linux no futuro, é sempre recomendável dar uma pesquisada rápida antes de comprar qualquer componente, para não levar para casa um produto que só pode ser usado no Windows. Existem vários exemplos, como por exemplo os modems da linha Winmodem da US Robotics, que ao contrário de outros softmodems, como os Lucent e PC-Tel não possuem suporte algum no Linux, ou as placas de vídeo com chipset SiS 6136, que apesar de serem suportadas, oferecem um desempenho muito ruim sob o Linux, mesmo em 2D.

  10. Não existe suporte a vídeos em Divx nem DVDs

    Felizmente (principalmente para mim 🙂 esta afirmação também não é verdadeira. Existem várias opções de players de vídeo para Linux, o meu preferido é o Xine. Ele suporta tanto vídeos em divx quanto DVDs. O plug-in para assistir divx pode ser baixado no www.divx.com e o suporte a DVDs é adicionado instalando os pacotes libdvdcss e libdvdread que, apesar de não acompanharem as distribuições, podem ser encontrados em vários locais, entre eles no videolan.org e no freshmeat.net.

Assim como todas as plataformas, o Linux possui seus problemas. Provavelmente, ele nunca será tão fácil de usar quanto o Windows, pois depois de um certo ponto aumentar a facilidade de uso implica em implantar recursos que podem comprometer a segurança do sistema. Permitir que usuários normais, sem privilégios de administração, possam instalar programas, como no Windows, sem dúvida é algo que tornaria o sistema mais simples de usar, mas que em compensação abriria as portas para toda a sorte de vírus e trojans, assim como no Windows.

O Linux nasceu como um sistema seguro e vai continuar assim. Pode ser que surjam algumas distribuições que, na tentativa de tornar o uso do sistema ainda mais simples, incentivem os usuários a utilizarem o sistema como root, ou implantem outros recursos facilitadores, mas que comprometam a segurança, como é o caso do Lindows por exemplo. É uma questão de escolha.

Mais importante do que discutir se o Linux é ou não uma boa opção para o “usuário médio” ou “para o desktop”, ou ainda se ele é “melhor” ou “pior” que o Windows, é discutir se o Linux é bom ou não para você, pensar em que situações ele pode ajudá-lo e procurar se manter atualizado sobre o que ele pode fazer.

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