Neste artigo falarei um pouco sobre como uso as tecnologias que ensino aqui no Guia do Hardware em benefício próprio, ou seja, na minha própria rede doméstica, uma mistura de PCs rodando Windows e Linux, Celerons e 486´s e até um notebook de 1994.
Eu tenho um grave problema. Sou simplesmente incapaz de me desfazer de qualquer placa ou processador que chega às minhas mãos, eu sempre guardo até achar alguma utilidade pra eles.
De pente em pente de memória acabei ficando com nada menos do que cinco PCs em casa, das mais variadas configurações. Este artigo conta um pouco da minha experiência em tornar este batalhão o mais produtivo possível. Entre os PCs estão dois Celerons, um de 600 e outro de 366 MHz, um 486, um Pentium 133 e um notebook, também 486. Mas, apesar de não conseguir usar todos ao mesmo tempo (bem que já tentei 🙂 acabei achando uma função para cada um destes PCs, e o melhor, todos são muito rápidos no que fazem. Como esta é uma situação muito comum em qualquer escritório, onde você sempre encontrará vários PCs, cada um com uma história e configuração própria e muitos PCs obsoletos, acredito que este tipo de conhecimento pode ser muito útil para você. Vamos lá:
Eu não sou lá muito criativo na hora de dar nomes para os meus PCs, mas já posso usar qualquer string de texto, desde que o nome de um seja diferente do do outro, inventei um sistema de siglas para uso próprio. Depois no nome vem um número, que indica quantos upgrades o PC já recebeu, Alpha-5 indica que durante sua história ele já recebeu 4 upgrades.
O PC principal da rede é o Beta-2, um Celeron 366 @ 500 (“rock solid”), 386 MB de RAM, 30 GB, o gravador de CDs e o Linux Mandrake 8.1:
Apesar da configuração não ser lá grande coisa, ele desempenha muitas funções:
- PC “auxiliar” de trabalho, para rodar aplicativos Linux (Gimp, KDevelop, etc.) e executar tarefas como fazer downloads longos, baixar músicas, gravar CDs, ouvir MP3s, etc.
- Servidor de backup
- Servidor de arquivos e impressão, via Samba
- Servidor de aplicativos, via VNC
- Servidor de aplicativos para os 486
- Servidor de boot remoto para o Pentium 133
- Servidor Web e FTP (para os PCs da rede interna e para trocar arquivos com os amigos)
- Servidor de Free Civ (um clone do Civilization 2, muito legal e se jogar em rede com os amigos) e outros jogos.
Parece complicado, mas é bem fácil configura-lo para executar todas estas funções, você pode encontrar detalhes no meu tutorial Entendendo e Dominando o Linux: https://www.hardware.com.br/livros/linux/.
Este PC fica ligado continuamente, pois quase sempre ele tem alguma coisa pra fazer. Um detalhe é que ele não tem teclado, mouse nem monitor, apenas as placas de rede. Depois de instalar e configurar o sistema, eu utilizo este PC apenas através dos terminais, que são basicamente todos os outros micros da rede. Tudo que poderia fazer sentado na frente do micro, posso fazer a partir de qualquer um dos terminais, ou mesmo via Web, usando o SSH, inclusive desligar ou reiniciar a máquina sempre que necessário.
Não existe muito mistério, basta configurar a opção “Halt-on” do Standard CMOS Setup com a opção “No Errors” e preferencialmente formatar a partição do Linux usando o sistema EXT3 para evitar perda de dados quando o sistema for desligado incorretamente por causa de alguma interrupção no fornecimento elétrico. Todos os serviços são automaticamente iniciados durante o boot, sem necessidade de fazer login na máquina.
De qualquer forma, quase nunca preciso reiniciar este micro. Desde que entrou em operação, a uns 3 meses ele só foi reiniciado 3 ou 4 vezes, uma quando instalei mais um pente de memória e as outras por causa dos blackouts que andam dando o ar da graça. Fora estes reboots, o sistema não deu nenhum problema até agora, um uptime de invejáveis 100%.
O Segundo PC da rede é o Alpha-5, o mais antigo de todos, mas que graças aos upgrades se mantém atual 🙂 Ele é um Celeron 600 @ 900 com 384 MB, 40 GB e um monitor de LCD 15″ (ainda vou ficar mais um ano pagando, mas não me arrependo, se você fica o dia todo na frente do PC, não tem coisa melhor).
Este PC roda o Windows 2000 e é o meu PC principal de trabalho. Ele também compartilha a conexão com a Web com os outros PCs da rede. A princípio esta seria mais uma tarefa para o Beta-2, já que o Mandrake 8.1 possui um assistente para compartilhamento da conexão que configura tudo com 4 clicks do mouse, o problema é que por rodar muitos serviços (Apache, Samba, FTP, SSH, Telnet, etc. etc.), com configurações muito liberais de segurança (para facilitar o meu uso) o Beta-2 é muito vulnerável para ser conectado diretamente à Web. No futuro eu pretendo ter mais um PC só para compartilhar a conexão, rodando o Mandrake Security ou outra distribuição Linux especializada nesta tarefa. Provavelmente usando o Pentium 133 que estou terminando de montar.
No meu caso esta mistura Linux e Windows é a mais cômoda, pois posso ter ao mesmo tempo a agilidade do Windows 2000 em abrir e gerenciar muitos aplicativos abertos, a compatibilidade com todos os programas Windows (o Beta-2 roda alguns programas Windows via Wine, mas é uma solução que ainda precisa evoluir muito) e ao mesmo tempo posso rodar todos os aplicativos Linux, acessando o Beta-2 via VNC (https://www.hardware.com.br/artigos/linux-windows/)
Como a minha pasta de usuário no Beta-2 está compartilhada via Samba e está mapeada como E: no Windows, é muito prático trocar aplicativos entre os dois. Também posso gravar CDs, baixar arquivos ou fazer qualquer outra tarefa mecânica no Beta-2, sem deixar o meu PC de trabalho lento. Como tenho uma conexão de 100 megabits privativa entre os dois (detalhes mais adiante), o VNC roda sem praticamente nenhum lag, perfeito.
Assim como o Beta-2, este PC costuma ficar ligado continuamente. Geralmente desligo apenas o monitor e o modem ADSL, como eu trabalho com muitas janelas abertas, reiniciar o sistema seria quase uma tragédia. Felizmente, o Windows 2000 também é extremamente estável, ele não tem o comando “uptime” que diz a quanto tempo o sistema está ligado, como no Linux, mas o Alpha-5 também chega a contabilizar seus meses de uptime. A principal questão é a qualidade do hardware e a qualidade dos drivers de dispositivo e dos programas que você roda no micro. Com uma placa mãe porcaria e um monte de programas bugados você não irá muito longe, seja qual for o sistema que está utilizando.
Compre uma boa placa mãe, sempre rode um teste e memória RAM, como o do PC-Check sempre que for adicionar um novo pente de memória, procure se informar sobre a qualidade dos drivers antes de comprar um componente qualquer e assim por diante. Isso vai resolver 90% das suas dores de cabeça.
O Tiny é o caçula da rede, um mero 486 DX-100 sem cache, 16 MB e uma Trident 9680 de 2 MB, rodando o Conectiva Linux 4.0. Sozinho ele não poderia fazer muito mais do que rodar programas de modo texto e acessar a Web, mas ele têm o componente mais importante para o 486 hoje em dia: a placa de rede.
Na verdade, o Tiny funciona como um terminal do Beta-2, é ele quem roda todos os aplicativos e direciona a saída de tela para o Tiny. Como o lag de uma rede local é de poucos milessegundos, a performance é a mesma ao rodar os programas localmente no Beta-2, ou via rede no Tiny, mesmo com uma conexão de rede de apenas 10 megabits entre os dois. O Tiny fica na sala, com um monitor de 17″, também ligado na maior parte do tempo (configurado para desligar o monitor depois de 5 mim naturalmente).
Quase todo mundo que vem aqui em casa usa esse PC para acessar a Web, cada um com a sua conta de usuário. Eu também uso muito, sempre que quero variar um pouco. Considerando que esse 486 não me custou praticamente nada, já que já tinha o monitor… E claro, ninguém acredita que é um 486, preciso sempre abrir o gabinete e mostrar o que tem dentro 🙂
Em se tratando de terminais Linux, a configuração do cliente não importa muito. Tanto faz ter um Pentium 200 com 64 MB de RAM ou um 486 com 16 como no meu caso. O desempenho será sempre o mesmo, pois depende do servidor e não do terminal. É possível usar até mesmo micros XT ou 286 para rodar aplicativos de modo texto, via Telnet. neste caso você precisaria instalar o DOS nas sucatas (já que o Linux precisa de pelo menos um 386) e conectá-los ao servidor via porta serial ou rede.
A administração também é muito mais simples, já que ao instalar softwares ou alterar uma configuração qualquer preciso fazer tudo uma única vez, no servidor e não repetir o procedimento em cada estação. Outra grande vantagem é que posso usar meu login de usuário, com todos os meus arquivos e configurações em qualquer PC da rede, sem precisar transportar dados.
Eu configurei o Tiny como descrevi neste artigo: https://www.hardware.com.br/tutoriais/economizando-uso-terminais-leves/
Eu poderia usar qualquer distribuição Linux que conseguisse instalar nesta configuração, escolhi o Conectiva 4 apenas por ter uma boa familiaridade com ele. Basicamente é preciso escolher o chipset da placa de rede no início da instalação, fazer uma instalação mínima ou padrão, configurar o vídeo e depois de terminada a instalação instalar as fontes true-type. (https://www.hardware.com.br/artigos/netscape-truetype/).
Como o 486 não tem CD-ROM, sempre instalo o sistema via rede, via NFS, a partir de uma pasta compartilhada no Beta-2 (usando o disquete “boot.img” que está na pasta “images” do CD-ROM). É bem simples, como descrevo aqui: https://www.hardware.com.br/artigos/instalar-rede/
O próxima da lista é o Ascot. Este é um notebook IBM 486 DX-100 com 16 MB fabricado 1994, um cacareco. Ele estava quase encostado por causa da lentidão; quem se acostuma a trabalhar num Celeron 900 jamais vai conseguir voltar a se adaptar a um 486 que demora eras para abrir uma página Web, mesmo usando o Opera.
Usando o Windows 95 não havia muito o que fazer, além de desabilitar as folhas de estilo, Java, flash, etc. no Opera, mas quando comecei a estudar sobre os terminais leves vi que esta seria a salvação da lavoura.
Assim como o Tiny, o Ascot roda o Conectiva 4 e trabalha como um terminal do Beta-2, graças a uma placa de rede PCMCIA (R$ 80 no mercado livre… :-).
Eu penei um pouco com a instalação neste 486, pois o chipset de vídeo do notebook não é muito bem suportado, mas foi só fazer uma busca no google para encontrar um mini-howto ensinando a configurá-lo usando o xf86config. No final consegui instalar até o modem MWave da IBM.
Fora isto, precisei apenas instalar o pacote “kernel-pcmcia.rpm”, do CD do Conectiva, que não é instalado na instalação padrão para ativar a placa de rede. Como no caso do Tiny, sempre que preciso instalar ou reinstalar o sistema, faço via rede. Basta usar o disquete “boot.img” e em seguida o “pcmcia.img”.
O Ascot fica no quarto e serve como uma espécie de Webpad improvisada, que uso basicamente pra navegar na Web. É interessante como mesmo as animações em Flash são exibidas sem problemas via rede. Uma função secundária é servir como despertador, é só agendar o horário no cron, um utilitário de linha de comando que permite automatizar qualquer tarefa do sistema.
A tela de 640×480 continua sendo a maior limitação, mas pelo menos agora não existe mais o problema da velocidade. Naturalmente também é possível usá-lo desconectado da rede, rodando os aplicativos locais e conectando via modem, claro que neste caso muito mais devagar.
Este é o Pentium 133, que na verdade ainda estou juntando as peças. Ele ainda não tem HD nem drive de disquetes e o gabinete foi emprestado de um 386 que esteja jogado pelos cantos. Apesar disso, ele já funciona, dando boot através da placa de rede e usando o Beta-2 como um servidor de boot remoto.
O mais complicado foi encontrar alguém que gravasse a ROM da placa de rede, usando o arquivo gerado no http://rom-o-matic.net/ . Resolvido este primeiro problema, faltou apenas instalar o LTSP (o programa servidor) no Beta-2. Na página oficial existe um passo a passo de como instalar e configurar o programa no Mandrake: http://www.ltsp.org/documentation/ltsp-3.0.0/ltsp-3.0.html
O Crop está atualmente encostado, pois apesar do boot remoto funcionar bem, para usa-o eu preciso desconectar o Alpha-5 da rede, pois para usar o LTSP é preciso que o único servidor DHCP da rede seja o Beta-2, onde está instalado o software servidor.
Ao compartilhar a conexão usando o ICS do Windows automaticamente é habilitado um servidor DHCP, que responde a chamada no lugar do DHCP do Linux. Mas, ao desconectar o Alpha-5, os demais micros da rede perdem o acesso à Web. O sistema funcionaria caso usasse o Beta-2 para compartilhar a conexão com Internet, mas neste caso teria que trabalhar um pouco nas configurações de segurança.
Quando tiver um HD e mais uma placa de rede para ele pretendo usar essa máquina para compartilhar a conexão e como firewall para a minha rede interna, como citei acima, ou então usá-lo como mais um terminal do Beta-2, ao lado do Tiny. De qualquer forma, ele já está ligado à rede, esperando pelo HD.
Existem algumas peculiaridades na minha rede. Eu uso dois Hubs antigos de 10 megabits, dividindo os PCs em dois blocos, respeitando a sua “posição geográfica” dentro da casa, assim diminuí o número de cabos de rede que seriam necessários. Além dos cabos que coloquei no diagrama, existem mais alguns extras espalhados pela casa para o caso de aparecer mais um PC ou caso resolva mudar algum dos que tenho de lugar:
Veja que o Alpha-5 possui nada menos do que três placas de rede, uma para a conexão com o modem ADSL, outra para a conexão com a rede (usando o IP 192.168.0.1) e uma terceira ligada diretamente à segunda placa de rede do Beta-2 (usando o IP 10.0.0.1). Esta “hotline” entre os dois serve para agilizar o uso do VNC.
Caso os dois fossem ligados através de um dos dois Hubs, a conexão seria de apenas 10 megabits e ainda por cima dividida com os outros três PCs, o que torna as atualizações de tela no VNC um pouco lentas e de quebra prejudicaria também a velocidade de atualização nos demais PCs. Ligando os dois diretamente posso ter uma conexão de 100 megabits apenas para o VNC e para a troca de arquivos entre os dois, já que uso o Beta-2 para fazer backups regulares de uma grande quantidade de arquivos. Como tenho apenas os dois no segmento de rede, posso ativar ainda o modo full-duplex de transmissão, o que melhora a velocidade mais um pouco.
Não é possível usar o full-duplex ao ligar mais de dois PCs através de um hub, pois ao ativar o modo os avisos de colisões de pacotes são desativados. Graças ao grande número de colisões, a velocidade da rede acaba diminuindo ao invés de aumentar.
Além dos PCs tenho uma impressora HP 692C instalada no Beta-2, compartilhada através do Samba. Graças ao Gimp-Print, incluído no Mandrake e em outras distribuições recentes, os drivers de impressão não ficam devendo aos do Windows, tanto em qualidade quanto em variedade, um grande avanço sobre as distribuições de dois anos atrás.
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