O fim do Skype? Onde estão os protocolos e programas livres?

O fim do Skype? Onde estão os protocolos e programas livres?

Skype shutdown: where are free software and free protocols?
Autor original: Tony Mobily
Publicado originalmente no:
freesoftwaremagazine.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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Definitivamente, o software livre vai muito bem em certas áreas, especialmente no mercado de servidores. Mas há áreas nas quais o software e os protocolos livres fracassam. A comunicação por voz e vídeo pela internet é uma dessas áreas. O mercado basicamente é dominado por completo pelo Skype, um software proprietário baseado em um protocolo proprietário (e abusivo) nas mãos da mesma empresa que dirige o eBay. Há anos os defensores do software livre vêm dizendo: “e se o desenvolvimento do Skype for abandonado”? Agora eu li que o eBay está pensando em acabar com o Skype. Como é que é?

A questão dos direitos autorais no Skype

O problema é que o eBay se afobou quando comprou o Skype e não leu as letras miúdas. Os proprietários originais do Skype mantiveram os direitos autorais de algumas partes cruciais do Skype, mais especificamente do lado peer-to-peer (ponto a ponto) dele, o mesmo código que provavelmente é responsável por garantir que o usuário A faça o roteamento de pacotes para o usuário B sem seu conhecimento e autorização.

Ou seja, os 2,6 bilhões de dólares que o eBay pagou obviamente não foram suficientes, e Niklas Zennstrom e Janus Friis ganham dinheiro licenciando esse código desde a venda do Skype para o eBay.

Para mim, isso parece mais um aluguel do que uma venda: o eBay pagou 2,6 bilhões de dólares pelo direito de alugar a tecnologia do núcleo do Skype de seus proprietários. Vamos dizer que foi um “trato”, e um trato bem caro. Especialmente quando o proprietário do imóvel quer botar você para fora.

Onde estava o software livre?

O software e os protocolos livres estão atrasados em termos de adesão dos usuários. Eu duvido muito que a soma da base de usuários de todos os clientes de voz livres chegue perto dos 480 milhões de usuários do Skype.

E por quê?

A resposta é simples: “fragmentação”.

Há um protocolo – um protocolo livre – que pode ser usado para a comunicação por voz pela internet: chama-se SIP. No começo ele tinha os seus problemas: não funcionava com roteadores ADSL, ou seja, não funcionava para a maioria das pessoas interessadas em usá-lo. Muitos desses problemas já foram resolvidos. Mas alguns permanecem. Por exemplo:

  • a qualidade de voz tende a ser baixa, definitivamente menor do que a do Skype. O SIP é um protocolo-contêiner. A voz pode ser compactada e tratada por meio de vários subprotocolos. Isso significa que cada cliente SIP precisa ser capaz de lidar com pelo menos alguns deles, e em cada ligação os clientes SIP precisam “negociar” para descobrir qual deles usar. Os dois clientes precisam ter uma implementação compatível desse protocolo de voz, o que nem sempre acontece. Resultado: a qualidade de voz geralmente é muito baixa.

  • O vídeo nem sempre funciona, e a qualidade é péssima. É o mesmo problema do qual acabamos de falar, só que pior. Os protocolos de vídeo são mais difíceis de implementar, e as incompatibilidades são mais frequentes.

  • Não é possível encontrar outros usuários do SIP. Enquanto no Skype é possível achar qualquer usuário digitando o nome na caixa de pesquisa, com o SIP temos várias redes independentes e não é possível localizar outras pessoas. Criar uma opção de pesquisa global resolveria o problema, mas criar algo assim está longe de ser fácil – na verdade, vai ser preciso muito trabalho e, o que é ainda mais importante, cooperação entre os clientes SIP no uso de um protocolo bem definido e estabelecido.

  • Configurar um cliente SIP genérico também pode ser muito confuso, confuso demais para um usuário comum. Configurar um cliente SIP “de marca” não é tão complicado, mas prende o usuário a uma rede SIP específica. Deveria haver um sistema que dispensasse configuração e no qual todas as informações do servidor (STUN, encaminhamento e afins) fossem coletadas do servidor SIP assim que a conta e a senha fossem inseridas.

O SIP não é o único protocolo disponível para a realização de chamadas de voz. Durante o desenvolvimento do cliente de mensagens instantâneas gTalk, o Google pegou o protocolo XMPP (que permite o uso de federação e outros recursos muito interessantes) e o ampliou para que suportasse voz. O Google fez a coisa certa, e se certificou de tornar essas extensões parte do protocolo XMPP. Só que estamos em 2009, e o único cliente com suporte a voz via XMPP é o… gTalk, que não está disponível como software livre e só existe no Windows (!). Quando o gTalk saiu eu me enchi de esperança. Só que já estamos chegando a 2010, e duvido muito que o gTalk tenha uma base de usuários de bom tamanho usando suas chamadas de voz. Eu encaro isso como uma oportunidade perdida pelo Google. Eu me pergunto se pesquisas federadas de usuário usando XMPP e um cliente multiplataforma do gTalk teriam ajudado. Eu acho que sim!

Eu também poderia mencionar que o áudio no GNU/Linux passa por uma grande confusão: o uso do PulseAudio no Skype faz com que as ligações pareçam um filme mal dublado, os proponentes do OSS e do ALSA continuam brigando (!) e por aí vai. Mas isso já é outra história, e o GNU/Linux só tem mesmo uma pequena parcela do mercado.

A solução?

Eu costumo oferecer soluções nos meus “posts de choradeira”, mas desta vez, admito que não tenho nenhuma. Talvez, quando o Skype ruir, haja uma rede federada de clientes SIP ou XMPP, que implemente um localizador engenhoso e que tenha chamadas confiáveis e de alta qualidade (tanto no áudio quanto no vídeo) em diferentes plataformas. Mas eu não sei não… parece que estou querendo demais.

O que eu sei é que nós, a comunidade do software livre, falhamos na arena das comunicações com voz e vídeo, e não há um caminho à vista para uma solução real, já que o SIP e o XMPP estão competindo, e o Skype está ganhando todas as brigas – e ironicamente, talvez esteja prestes a desaparecer.

Nota: Skype 4.1 para Windows. A versão Linux ainda é a 2.0, a mesma desde o final de 2007.

Créditos a Tony Mobily freesoftwaremagazine.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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