A escolha da distribuição de referência

A escolha da distribuição de referência

Como todo linuxer de carteirinha, tive a minha fase de “ciranda das distribuições”, na qual experimentei diversas distros antes de adotar a minha favorita: o bom e velho Slackware (acreditem: velho mesmo!). E depois de ter sido feita a grande escolha, passei longos e maravilhosos anos bastante feliz, pois a renomada distribuição raramente me deixava na mão. Para mim, ela era (e ainda é) simplesmente fantástica; mas para os meus colegas de profissão, amigos e clientes, nem tanto…

Tela de inicialização do Slackware.

Tela de inicialização do Slackware.

Em poucas palavras: as minhas preferências pessoais contrastavam-se com as expectativas do grande público, em geral. Enquanto que um grupo seleto de usuários como eu (expert-user) adotavam soluções mais técnicas, a grande maioria de simples usuários (friendly-user) eram mais inclinados a soluções práticas e automatizadas, com o foco na facilidade de uso. Então, antes mesmo de me entediar com o Slackware, já pressentia que iria substituí-lo algum dia, dada a necessidade de manter a sintonia com o mercado. Para variar, o próprio Slackware acelerou este processo, já que novas aplicações nasciam, tornando o seu rudimentar gerenciador de pacotes mais limitado do que já era, por não serem integradas ao seu repositório.

Eu precisava de uma nova distribuição! Mas desta vez, não eram as minhas preferências que concederiam os parâmetros de avaliação, tão essenciais para a escolha da distribuição adequada aos propósitos: a escolha se faria dentro de uma série de variáveis, onde o interesse de manter um relacionamento profissional mais próximo com clientes, colegas e amigos, dariam as cartas. Em poucas palavras: uma distribuição de referência!

Esta distribuição precisaria ter as seguintes qualidades:

  • Ser reconhecida, através de uma marca forte;

  • Ser bem difundida, com boa aceitação das comunidades;

  • Prover todos os softwares e os recursos essenciais;

  • Ser de fácil uso e manuseio, ideal para usuários leigos;

  • Ser bem suportada, tanto à nível de hardware o quanto de software;

  • Ser dotada de um excelente e farto repositório de pacotes;

  • Ter processos de desenvolvimento e testes bem delineados;

  • Receber atualizações de forma gradual e transparente;

  • Ter prazos e datas, com calendários pré-definidos;

  • Entre outras qualidades preponderantes…

A ironia do destino, é que as principais distribuições de ponta se enquadram muito bem dentro de tais requerimentos! O Fedora (antiga Red Hat), o SuSE (e a irmã OpenSuSE) e o Mandriva (resultante da fusão Mandrake + Conectiva), encabeçavam a lista das distribuições mais famosas do mercado, seguidas de outras mais tradicionais, como o Debian, Gentoo e Arch. Estas últimas foram logo descartadas, devido à necessidade de conhecimentos técnicos avançados para a sua manutenção (não que isto seja ruim; mas, a proposta de acessibilidade ficaria seriamente comprometida, com a adoção destas distribuições). Porém, as três principais distribuições eram “equivalentes” de tal modo, que uma análise mais aprofundada fez-se necessário, onde no final todas acabaram sendo descartadas.

O Mandriva foi a candidato mais forte do grupo, graças à duas particularidades importantes: as suas raízes brasileiras, graças à finada Conectiva e a adoção do KDE, o mais popular ambiente gráfico existente até então (ainda em sua série 3.X). Até cheguei a utilizá-la por uns tempos, antes de decidir por sua adoção. Porém, os tropeços e solavancos das primeiras versões 4.X do KDE, acabaram prejudicando seriamente a robustez e estabilidade, embora oferecesse a opção de manter a versão antiga deste ambiente gráfico. Aos que experimentaram o Mandriva naquela época, sabem perfeitamente sobre o que estou me referindo. Para variar, vira-e-mexe ela se encontra em uma situação financeira delicada, o que torna o seu futuro um pouco incerto…

À seguir, vem o Fedora Core, atualmente chamada apenas de Fedora. O seu início foi até bem promissor, devido ao fato de ter se derivado do Red Hat, a distribuição comercial mais popular do mercado (a qual inclusive utilizei por um bom tempo, antes de adotar o Slackware). No entanto, ao invés de manter a mesma estabilidade funcional já conhecida e consagrada do Red Hat, o Fedora se tornou uma espécie de campo de testes, por incluir as mais recentes novidades e avanços tecnológicos, o que até certo ponto contribui para torná-la um pouco instável. Digo, não assim tão “instável” como as tradicionais versões do Windows; mas também, não tão estável (teoricamente) quanto as demais distribuições do mercado…

Por fim, vem o SuSE. Este seria o sistema mais promissor para se tornar a minha distribuição de referência (esta, ainda não tive a oportunidade de experimentar). Mas infelizmente, a Novell a adquiriu, trazendo consigo um legado de práticas restritivas, como o clássico uso de patentes para proteger os seus interesses. Tais práticas chegaram ao mais alto nível ao ter formado uma aliança com a Microsoft, uma das empresas de softwares reconhecida como uma grande inimiga do código-aberto (embora em outras situações ela tente demonstrar ser “uma grande aliada”). Devido a isso, acabei desconsiderando a sua irmã OpenSuSE.

Em poucas palavras: as três maiores distribuições comerciais foram condenadas ao posto de distribuição de referência não devido à falta de qualidades (que na verdade, são muitas), mas por possuir certas particularidades que as tornam inapropriadas para o meu maior propósito: a distribuição de referência! No entanto, dada a aceitação de determinadas distribuições para tipos distintos de aplicações, como o uso em desktops, portáteis e servidores, acabei sendo obrigado a definir (à contra-gosto) duas distribuições distintas para cada tipo de aplicação, ao invés de uma única universal…

Em servidores, a disponibilidade de uma distribuição robusta, concisa e reconhecida no mercado, seria imprescindível para ser considerada uma distribuição de referência. Então, não tive muito trabalho de pensar no Debian como a candidata ideal para o posto, em virtude de seu vasto e bem mantido repositório de pacotes (além de inúmeras outras qualidades). Embora seja uma distribuição classificada como expert-user (ou hardcore, como preferir), a vasta documentação mantida pelas comunidades entusiastas, facilitará bastante o trabalho dos administradores de sistema. Inclusive, recomendo o livro “Servidores Linux, Guia Prático” como base de consulta! 😉

Apesar do Tux ter uma forte tradição em servidores, em PCs desktops a situação é completamente diferente: a grande maioria dos usuários preferem usar sistemas automatizados e fáceis de usar, onde a necessidade de conhecimentos técnicos para a sua administração ficaria em segundo plano. Por este e outros motivos (os quais espero que os leitores abstenham-se de comentarem para não gerar “trolagens”), é grande a disseminação do Windows entre os usuários leigos. Entretanto, as distribuições têm se tornado mais fáceis de usar, focando o principal objetivo de atender as necessidades desta classe de usuários. E uma das mais populares é o Ubuntu. Sem muitas opções de escolha, acabei adotando-a, embora não seja muito fã de algumas das suas particularidades (principalmente, o upgrade compulsório).

Outro aspecto muito importante que foi considerado na escolha do Ubuntu foi o “parentesco” com o Debian, o que garante uma série de vantagens interessantes para a manutenção deste (e do outro) sistema. A começar, por compartilharem grande parte de suas propriedades, muitos métodos, formas de uso e interações, podem ser reproduzidos em ambos os sistemas, sem adaptações. Por exemplo, um determinado software ou recurso desenvolvido para um determinado sistema, pode ser perfeitamente adaptado para funcionar em outro, tal como acontece com muitos aplicativos disponibilizados em pacotes .deb. Por fim, a mesma base em comum evita – ou ameniza – o tão odiado efeito “desfragmentador”, causado pela diversas implementações feitas pela maneira liberdade oferecida pelo Software Livre.

Se não posso utilizar uma única distribuição universal, ao menos posso escolher as distribuições que compartilham muitas características em comum. Então, o Debian e o Ubuntu assumiram um papel fundamental em minha vida profissional, pois ao mesmo tempo em que elas são fortes nas áreas que foram especializadas, também compartilham uma base em comum. Mas, será sempre assim? Talvez não. Com as tendências do Ubuntu em buscar sempre a inovação e o incerto futuro do PC desktop como o conhecemos, certamente seremos obrigados a rever os nossos conceitos de “sistema universal” (ou algo próximo disto).

Mas até lá, “wait and see”… &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei [at] hardware.com.br>

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