Em 2018, a operadora americana Verizon anunciou um novo serviço, o 5G Home, intitulado o primeiro serviço 5G do mundo. Ao invés de um serviço móvel, era uma substituição para a banda larga fixa, uma espécie de prévia para o consumidor começar a sentir o gostinho do 5G.
Esse mesmo gostinho chega agora ao Brasil, não pela Verizon e nem por 5G via serviço fixo, mas pela mesma estratégia de apresentar ao consumidor um pouco do que o 5G é capaz. O Brasil ainda não faz parte da lista dos países aptos a receber o 5G em sua plenitude, já que o leilão de frequências ainda não aconteceu. Estava marcado para março deste ano, mas deve acontecer somente em 2021.
O que fazer então para que a chancela 5G comece a aparecer em nosso país? Situação que é muito mais uma questão mercadológica e de marketing do que um benefício em larga escala para o consumidor – já já explico o por quê. A saída foi recorrer a uma estratégia à lá “Tenda do Chaves”, o suco é vendido com um sabor mas o gosto é outro.
O 5G no Brasil nessa primeira fase é um upgrade notório em relação ao 4G, assim como o 4.5G também é em relação ao 4G, mas está longe de uma experiência plena da tecnologia, é realmente um primeiro contato. É assim que você deve encarar esse lançamento!
Para que fosse viabilizado, antes mesmo do leilão de frequências, as operadoras que estão encabeçando esse processo em nosso país- Claro, Vivo e TIM, estão recorrendo ao DSS (Dynamic Spectrum Sharing, compartilhamento dinâmico de espectro), em sua versão proprietária da tecnologia da Ericsson, o Ericsson Spectrum Sharing (ESS). A Ericsson é um player fortíssimo em relação ao fornecimento de equipamentos e tecnologias rede no Brasil, a empresa detém 50% do mercado e confirmou o investimento de R$ 1 bilhão em sua fábrica de São José dos Campos (SP).
Mas do que se trata esse tal DSS, ou ESS da Ericsson. Bom, como ainda não temos as frequências delimitadas para o 5G via leilão, o que o DSS faz é permitir que as operadoras possam ofertar o 5G utilizando as frequências e antenas existentes. O ESS, com base no conceito de DSS, consegue promover o compartilhamento dinâmico de espectro, isto é, alocando dinamicamente de acordo com a demanda do usuário, uma troca rápida entre 4G (LTE) e 5G (NR).
O 5G na verdade pode ser compreendido numa divisão de 3 fases. A primeira consiste em entregar mais velocidade, fisgar o usuário, por exemplo, pelo impacto de carregar um vídeo no Youtube em alta resolução de forma muito mais rápida.
A segunda fase é o entendimento que o 5G pode sim ser um substituto para a banda larga fixa. A AT&T, por exemplo, diz que será viável a substituição das conexões por cabo ou DSL para o 5G, já que a velocidade do 5G pode alcançar a casa dos Gbps (gigabit por segundo).
A terceira fase, essa sim o 5G em toda sua magnitude, viabilizará empreendimentos, revolucioná a indústria de carros autônomos, telemedicina, entre muitas outras coisas, já que lida com o grande trunfo da tecnologia, a baixa latência. Enquanto no 4G (LTE) falamos atualmente de latência na casa dos 20ms, com o 5G, nos melhores cenários, com 1ms! Isso sim, aliado a taxas de transferências altíssimas, é realmente um upgrade.
No caso do 5G Brasil, nesse primeiro momento, o que está em questão é a primeira fase da tecnologia, entregar a um grupo seleto de usuários bem mais velocidade. A Claro fala que o serviço pode oferecer velocidades que ultrapassam a casa dos 400 Mb/s, cerca de 12x superior ao 4G (LTE). A latência fica na casa de 15ms.
Realmente um baita salto em relação ao 4G, ou 4.5G, mas longe de uma experiência definitiva em termos de 5G. Na Itália, por exemplo, a rede da TIM lida com 2 Gigabit de velocidade. Evidentemente numa situação do uso de ondas milimétricas (mmWave) de 26 GHz.
No Brasil, a Claro irá utilizar a frequência de 2600 MHz (banda n7), com até 20 MHz para download e 20 Mhz para upload. As próprias operadoras reconhecem que o Brasil ainda está longe de uma verdadeira experiência 5G. A Vivo diz que a real experiência de 5G virá com o leilão de 3.5Ghz, com largura de banda de pelo menos 100 MHz, provavelmente a ser realizado no início de 2021.
O Brasil não é o primeiro país a ofertar 5G fora de uma situação de um leilão de frequências definido e utilizando a tecnologia DSS. Em abril de 2020, a operadora VodafoneZiggo passou a oferecer na Holanda o 5G via DSS. Graças ao DSS, a operadora espera ter uma cobertura nacional do 5G até o fim deste mês. A operadora também faz uso da tecnologia da Ericsson.
O 5G DSS da Claro já está ativo em São Paulo e Rio de Janeiro, a Vivo também já confirmou que ativará a tecnologia ainda este mês (a partir do dia 24) em oito cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Goiânia, Curitiba e Porto Alegre).
https://www.youtube.com/watch?v=p8-bsOHm4N4&feature=emb_title
A TIM também já está nessa corrida, a empresa vai iniciar o serviço em setembro nas cidades de Bento Gonçalves (RS), Itajubá (MG) e Três Lagoas (MS). A Oi ainda não informou quando pretende iniciar a implantação.
Mesmo com essa chegada do serviço, o 5G, nesse momento, é tão restrito que praticamente será apenas uma nota de imprensa para o consumidor. Além das restrições geográficas para utilizar o serviço você precisará de um smartphone compatível com o 5G DSS. O único modelo disponível no mercado é o mais novo topo de linha da Motorola, o Motorola Edge. O aparelho custa R$ 5 mil!
Em relação aos planos de operadora, a Claro diz que o usuário não terá que pagar nada além para utilizar o 5G DSS, basta ter um aparelho compatível e estar na área de cobertura em que o serviço está disponível.
O futuro do 5G no Brasil é promissor, além de todo os avanços em termos de tecnologia, um estudo da Futurecom Digital Summit diz que a tecnologia deve gerar cerca de R$ 5,5 trilhões. Parte do sucesso da implementação é o timing, analistas dessa indústria pontuam que o leilão de frequências tem que acontecer em 2021, já que este será o grande passo para que a tecnologia desembarque em sua plenitude, beneficiando tanto o consumidor final quanto a economia.
Deixe seu comentário