O Empoderamento dos Dados

O Empoderamento dos Dados

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Na lista de eletrônicos essenciais em sua vida provavelmente está o smartphone, além de ser a sua base de comunicação com outras pessoas, ele é basicamente uma mesa em que cima estão espalhados os diversos aplicativos que você pega e utiliza para funções variadas, desde consultar novos e-mails a encontrar algum lugar para estacionar.

A ascensão dos aplicativos e de seus desenvolvedores, que baseiam seus negócios no fluxo de dados que utilizamos, criou e continuará criando um empoderamento dos dados. Dados valem cada vez mais, e são os responsáveis por montar o nosso perfil para as empresas, que podem usar essas informações para muitos meios. 

Esse empoderamento dos dados, e a dependência da humanidade nos serviços oferecidos “gratuitamente” por empresas como Google e Facebook, cria um grande problema quando o assunto é a privacidade. É impossível imaginar o Facebook não coletando dados, já que ele depende justamente disso para continuar girando seu negócio, provendo o público-alvo que cada anunciante precisa. Como costumo dizer esse é o “preço do grátis”, a taxa do Facebook ou do Gmail são os seus dados, que valem muito para eles.

O empoderamento dos dados está criando uma legião de humanos inúteis, principalmente sob a perspectiva do mercado de trabalho, a inteligência artificial irá tomar o lugar de muitos, e isso não é uma visão distópica ou conspiratória, ela é real, e passa constantemente pelos noticiários. 

No início de 2017 a Fukoku Mutual Life Insurance Company, uma empresa de seguros japonesa, substituiu 34 funcionários pelo Watson, supercomputador da IBM, que trabalha diretamente com aprendizado da máquina, algo que aproxima os computadores dos humanos, na tomada de decisão e estudo dos dados. Com o Watson a companhia pretende poupar 1,1 milhão de dólares, e utilizar seus recursos para analisar dados e cruzar informações de forma mais precisa que os humanos.

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No ano passado quatro grandes bancos na China dispensaram 19 mil funcionários, já que os smartphones e serviços automatizados reduziram a necessidade desses postos de trabalho. A inteligência artificial ocupa muito bem o espaço dos humanos, custando menos a longo prazo e dando menos dor de cabeça.

A própria imprensa trata renovações em que a inteligência artificial está envolvida como um “assassino de empregos”, foi assim que o New York Post, se referiu ao Amazon Go, o supermercado do futuro lançado pela Amazon que elimina caixas e filas, você entra, acessa o seu app pega suas mercadorias e sai. A cobrança é feita diretamente pelo aplicativo.

O Amazon Go é fantástico quando visto por uma perspectiva do consumidor, mas do lado de uma pessoa que trabalhava como atendente é péssimo, ele sentirá diretamente no bolso, já que perderá o emprego. Com a inteligência artificial muitas profissões serão repassadas para as máquinas, porém novos trabalhos podem ser criados. Quem imaginaria que existiria Youtuber ou um analista de mídias sociais? Porém isso eleva a necessidade de reinvenção, e muitas pessoas não querem ou realmente não conseguem se reinventar, o que as torna inúteis para o mercado.

Isso é o que defende Yuval Harari, historiador e professor israelense, autor do livro Homo Deus: Uma breve história do amanhã (2016, Companhia das Letras) Com o avanço da inteligência artificial e biotecnologia, a tendência de acordo com o historiador, é que algumas pessoas evoluam da espécie Homo Sapies para Homo Deus, e possam brincar de ser “mais poderosos”, retardando o envelhecimento e até a morte. No vale do Silício a morte já é tratada como apenas uma falha técnica que deve ser resolvida.

Tirando esses “superpoderosos” economicamente e socialmente falando, o consenso é que todos nós estamos passando para o que ele chama de Dataismo, a religião do culto aos dados. A imagem abaixo de uma palestra de Harari demonstra a transição para esse poder. 

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Teísmo: “escute” a bíblia

Humanismo: “escute” seus sentimentos

Dataismo: “escute” o Google – ele sabe como você se sente

E o Google sabe mesmo, não é prepotência é a realidade, com mais e mais informações o Google terá cada vez mais conhecimento sobre todos nós, nossos gostos e desgostos, chegará num ponto que a recomendação dele será realmente melhor do que qualquer convicção interna que tínhamos. Em entrevista a BBC, o doutor em Comunicação, Economia e Ciências SociaisMartin Hilbert, diz que com apenas 250 likes o algoritmo do Facebook, pode prever sua personalidade melhor que seu parceiro. Os likes, assim como o uso frenéticos dos smartphones cria o que ele chama de “pegada digital”. cada segundo está registrado por diversas empresas”, completa Hilbert.

Em entrevista à revista Wired, Harari diz que com o Dataismo e sua compreensão do usuário, nos tornamos coadjuvante no processamento de dados. Até certo tempo nós éramos o principal sistema de processamento de informações, hoje em dia não somos mais, são os algoritmos. Os mesmos que regem eu, você, e os aplicativos.

O exemplo citado pelo historiador é de aplicativos como o Google Maps e Waze. “Por um lado eles amplificam a habilidade humana – você é capaz de alcançar seu destino mais rapidamente e com mais facilidade. Mas ao mesmo tempo, você está mudando a autoridade para o algoritmo, e perdendo sua habilidade de encontrar o seu caminho”

E esse é um caminho sem volta. Como que no mundo de hoje poderíamos nos retirar desse cerceamento dos algoritmos e das empresas que os produzem? Não dá, simplesmente o empoderamento dos dados é forte demais para essa renúncia, e fora que muitas pessoas não estão preocupadas com algum tipo de vigilância se o aplicativo estiver funcionando e se o serviço continua em constante evolução graças ao conhecimento do seu padrão de comportamento. Essa é a realidade. Se no futuro o Google conseguir cruzar informações e prever uma doença que você possa ter em um certo período apenas tendo acesso aos seus dados, você negaria? Essa é uma reflexão que cada um precisa fazer.

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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