Já li isso em vários lugares, mas finalmente estou começando a concordar com a idéia.
Apesar de toda a batalha em torno dos servidores e desktops ainda ser incerta, o Linux tem um futuro muito promissor na área dos embedded systems.
Hoje se fala muito em ligar todo tipo de dispositivo em rede, de uma forma barata o suficiente para que a idéia possa fazer sentido. Idéias como fazer o aparelho de som da sala tocar arquivos em MP3 (ou outro formato qualquer) armazenados no PC do quarto, ou de poder acessar coisas como luzes e aquecimento da casa através do celular, podem não fazer muito sentido hoje em dia, pois apesar de já ser perfeitamente possível, utilizando tecnologias como o X10, os sistemas ainda são caros e na maioria dos casos impráticos ou difíceis de mais de usar para as pessoas “normais”.
Mas, fatalmente, os circuitos necessários vão se tornar baratos e alguém criará algum sistema que torne tudo muito simples de usar. E as pessoas vão começar a utilizar estas tecnologias, assim como o controle remoto e o celular.
Vamos ter processadores em todo lugar. Em cada componente importante do carro, em todo tipo de eletrodoméstico e em tudo mais que você possa imaginar. Afinal, o preço dos transístores cai pela metade a cada ano e meio. Em duas décadas eles serão tão baratos que um transmissor wireless com um código de identificação vai tão pouco que alguém resolverá colocá-los nos pacotes de bolacha para que você não precise mais passar pelo caixa ao fazer compras no supermercado.
Uma certeza é que todos, ou pelo menos a grande maioria destes dispositivos vai rodar algum tipo de sistema aberto, ou o Linux, ou o GNU Hurd, ou o BSD, ou algum outro derivado deles. A questão é simples: o custo de desenvolvimento de soluções baseadas neles é muito mais baixo. Você pode desenvolver uma solução em poucos dias, ou mesmo horas caso encontre algum projeto aberto que possua recursos semelhantes aos que você pretende utilizar. Existe ainda a vantagem do custo de uso. Empresa alguma vai se dispor a licenciar um sistema proprietário qualquer se todos os seus concorrentes utilizarem sistemas abertos. É uma simples questão de competitividade.
Outro ponto importante é que nenhuma empresa tem condições de cobrir sozinha toda a variedade de dispositivos que teremos. Apenas um sistema desenvolvido cooperativamente pode atingir este nível de flexibilidade. O trabalho de desenvolvimento é ampliado e temos uma oferta de soluções maior, mas mesmo assim mantemos um custo mais baixo para as empresas. O dinheiro deixará de ir para alguma grande empresa e passará a ir para os programadores e consultores que trabalharem na personalização do sistema, já que a maior parte dos componentes necessários já estarão disponíveis em algum lugar. Este modelo fará com que o ciclo de desenvolvimento de novos produtos caia da casa dos meses, para a casa das semanas ou mesmo dias, o que será muito benéfico para a gereção de empregos, crescimento da economia e assim por diante.
Ou seja, independentemente do que você rode no seu desktop ou servidor, com certeza você vai conviver muito mais tempo com sistemas livres, derivados ou não do Linux. Eles vão se espalhar como uma praga 🙂
Se você tiver interesse em se aprofundar no assunto, pode dar uma olhada neste tutorial:
Como criar sua própria mini-distribuição Linux
Por sinal, até mesmo nos desktops os sistemas abertos estão crescendo. A dupla Windows e Office sozinha já custa mais que um PC básico. Este é um dos principais motivos dos PCs de grife custarem sempre quase o dobro do valor de um PC sem marca. Muitos fabricantes estão percebendo que isso está minando suas vendas e começam a buscar alternativas para baratear seus PCs. Alguns começam a optar pelo uso do OpenOffice ou Corel Word Perfect no lugar do MS Office e outros já resolveram radicalizar de vez, como a Microtel, substituindo o Windows pelo Lindows ou Mandrake numa linha de baixo custo que conta com modelos básicos, sem monitor, por apenas US$ 199.
A questão é que o modelo de negócio da Microsoft está falido. Eles não tem como manter os preços dos softwares no patamar que estão por muito tempo. Se simplesmente baixarem os preços acabam com a margem de lucro e se não o fizerem vão perder cada vez mais mercado, pois a tendência natural é que a turma Linux/OpenOffice/Mozilla & cia continue evoluindo até que não faça muito mais diferença do ponto de vista de um usuário médio qual sistema utilizar. Logo estaremos pagando 100 dólares ou menos por um PC, não fará sentido pagar mais R$ 400 pelo sistema operacional e mais R$ 800 pelo Office.
A idéia de “PC popular” como proposta pelo Governo é uma grande idiotice na minha opinião. Os PCs já são baratos e vão ficar ainda mais nos próximos anos. Se não fossem os impostos e os gastos com software, já teríamos PCs (sem monitor) por menos de R$ 650 (sim, mesmo com o dólar a R$ 3,00), menos do que o projeto proposto custaria, com a vantagem de que os PCs poderiam ser montados ao gosto do freguês em qualquer lojinha de esquina.
Existem várias formas de popularizar a informática a um custo viável. O problema não é a falta de dinheiro, mas sim a falta de conhecimento técnico e bom senso. Mesmo na condição atual é possível desenvolver projetos excelentes mesmo com um orçamento limitado.
Veja por exemplo o caso dos telecentros que estão sendo implantados pela prefeitura de São Paulo. Temos várias estações rodando Linux, OpenOffice, etc. Os usuários tem total privacidade e possibilidade de personalizar seu desktop, guardar seus arquivos com segurança, etc. pois da primeira vez que usam o telecentro é criada uma conta de usuário, que também serve como endereço de e-mail. As contas de usuário no linux são bastante seguras, ao mesmo tempo protegendo os arquivos do usuário e evitando que ele possa causar danos ao sistema. Alguns administradores ficam quebrando a cabeça para tentar impedir que os usuários alterem as configurações do sistema, instalem programas na máquina etc., enquanto outros preferem adotar a opção mais simples… 🙂
O mais interessante neste sistema é que as contas de usuário criadas nos telecentros são periodicamente sincronizadas com as de um servidor central. Isto significa que os usuários poderão acessar suas contas em qualquer um dos telecentros.
Para orçamentos ainda mais limitados, existe ainda a opção dos terminais X, que já expliquei à exaustão aqui no Guia. Leia a versão mais recente do tutorial aqui: Terminais X (capítulo 7 do e-book). Por que você acha que gosto tanto dos meus 486? Eles são tão rápidos quanto o meu Athlon XP… :-p
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