Quando era criança, o sul-africano Elon Reeve Musk já caminhava lado a lado com o empreendedorismo. Musk e seus irmãos vendiam ovos de páscoa. Viajavam para áreas mais abastadas da capital da África do Sul e vendiam os doces por US$10, valor bem acima do custo de produção.
Desde cedo, Musk aprendeu o valor do dinheiro e também a ser um entusiasta na busca de novas ideias e oportunidades. Nesta segunda-feira (25), Elon Musk deu mais um passo audacioso em sua trajetória de oportunidades. Virou dono do Twitter!
Neste artigo reunimos tudo que você precisa saber sobre essa aquisição histórica da carreira de Elon Musk:
Twitter, desbloqueado!
Na nota divulgada, obviamente, em seu movimentado perfil no Twitter, Elon Musk comemorou a aquisição com as seguintes palavras:
“A liberdade de expressão é a base de uma democracia funcional, e o Twiter é a praça da cidade digital onde são debatidos assuntos vitais para o futuro da humanidade.
Também quero tornar o Twitter melhor do que nunca, melhorando o produto com novos recursos, tornando os algoritmos de código aberto para aumentar a confiança, derrotando os spambots e autenticando todos os seres humanos. O Twitter tem um enorme potencial – estou ansioso para trabalhar com a empresa e a comunidade de usuários para desbloqueá-lo.”
Musk dá o tom do que será o Twitter daqui pra frente. O magnata diz que deseja desbloquear o enorme potencial da plataforma e também bate na tecla de um assunto que tem se tornado alvo de inúmeros cancelamentos – no próprio Twitter: a liberdade de expressão.
I hope that even my worst critics remain on Twitter, because that is what free speech means
— Elon Musk (@elonmusk) April 25, 2022
“Espero que mesmo meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que significa liberdade de expressão”.
Não é de hoje que Elon Musk colhe o bônus e o ônus de ser um ferrenho defensor da liberdade de expressão. Com consequências gigantescas para o andamento de suas empresas.
Em 2018, por exemplo, ele tuitou que poderia tirar a Tesla da bolsa de valores, tornando-a privada. As consequências desta manifestação foram gigantescas, foi acusado de fraude, de tentar manipular as ações da empresa, e até mesmo uma investigação da SEC (Securities and Exchange Commission), agência federal americana de fiscalização do mercado financeiro, foi colocada em prática.
O desfecho foi um acordo que exigia que os advogados de Musk pré-aprovassem certos tuítes.
A relação de amor e turbulência com o Twitter parece ficar apenas do lado dos acionistas e pessoas que o cercam, com Musk, a sensação que fica é que o Twitter é um dos lugares que ele mais gosta de frequentar. E ser ácido e contundente são valores que ele não vai abrir mão.
Não existe outra rede social que mais combine com a personalidade de Elon Musk do que o Twitter. Além de um investimento, a compra do Twitter parece ser mais uma afirmação pessoal de quem ele é e do que realmente acredita.
US$ 44 bilhões
No início de abril, a mesma pergunta que paira agora estava em pauta: quais são os planos de Elon Musk para o Twitter? Naquele recorte de tempo, o questionamento começou a ser feito porque Musk se tornou o acionista majoritário da rede social fundada em 2006. O magnata adquiriu 9,2% da empresa por US$ 2,89 bilhões.
Esse primeiro passo foi uma forma de Musk sentir a temperatura sobre esse investimento, seus desdobramentos, e, é claro, engatilhar o que era realmente seu plano: adquirir o Twitter de maneira integral!
A missão não parecia das mais fáceis. O Conselho de Administração do Twitter tentou dificultar a vida do empresário quando ele manifestou o desejo de comprar 100% da empresa por US $43 bilhões, informação divulgada na quinta-feira (14).
O valor acordado de US$ 54,20 por ação – 38% mais alto que a cotação do dia 1º de abril, último dia de negociações antes da revelação que Musk se tornou acionista, incomodou alguns cabeças-chave do Twitter, como o príncipe saudita Alwaleed bin Talal, que era dono de cerca de 5% da plataforma. Tala disse que o valor não chegara nem perto do valor intrínseco que o Twitter tem.
Mesmo com o desamor de alguns, e certos jogadas para barrar o processo, Musk jogou o jogo como tinha que jogar, e também usou uma carta importante.
Quando se tornou acionista do Twitter, declinou a posição de ingressar no conselho de administração do Twitter. Ser um membro do conselho colocaria “água no chopp” de Elon Musk. Ele não poderia ficar com mais de 14,9% das ações do Twitter.
Musk não queria brincar de ser um membro do board, ele queria tudo!
A compra do Twitter foi fechada em US$ 44 bilhões – cerca de R$ 215 bilhões, em conversão direta. Além do valor astronômico, o acordo também muda as diretivas da empresa, que passa de capital aberto, para capital fechado. Atualmente, o Twitter tem 437,9 milhões de usuários (36,361 milhões no Brasil), segundo dados da Comscore.
O valor supera outras aquisições importantes
O valor da aquisição supera com folga outras negociações de peso do mesmo segmento. Confira algumas abaixo:
- Linkedin: comprado por US$ 26,2 bilhões, em 2016, pela Microsoft;
- WhatsApp: comprado por US$ 22 bilhões, em 2014, pelo Facebook;
- Instagram: comprado por US$ 1 bilhão, em 2012, pelo Facebook.
Outro ponto curioso é que estamos falando de uma negociação que não tem a imagem pública de uma grande empresa adquirindo outra. Nesse caso é uma personalidade, obviamente com seu patrimônio ancorado em várias empresas, comprando uma grande companhia.
Até Elon Musk faz empréstimo!
Do faraónico valor de US $44 bilhões que Musk pagará pelo Twitter temos uma divisão entre seu patrimônio pessoal e o dinheiro que ele cooptou por empréstimo.
Observei algumas pessoas perguntando o seguinte: Musk é o homem mais rico do mundo, por que ele precisa fazer empréstimo? Em maior ou menor grau, boa parte da fortuna desses marajós do mundo moderno estão diluídos em ações nos mais variados investimentos que o fazem. Patrimônio estimado não gira em torno apenas de dinheiro no banco, principalmente quando estamos tratando de uma escala Elon Musk.
Há também o componente estratégico. O Twitter pode ter virado uma empresa totalmente privada, mas isso não significa que outras pessoas que contribuíram com o negócio não recebem alguma parte da empresa ou um afago especial pela ajuda. Uma espécie de Clube 33 da Disney (procure sobre isso!)
Do valor acordado na negociação, US$ 21 bilhões serão repassados da fortuna pessoal de Musk, o resto é via empréstimo.
Musk recorreu a um empréstimo de US$ 25,5 bilhões a vários bancos, todos eles com alguma ligação a Morgan Stanley, principal consultor financeiro do manda-chuva da Tesla.
Segundo o Financial Times, a lista de bancos inclui o Bank of America, Barclays, MUFG, Credit Suisse, BNP, Mizuho e SocGen. Musk usou como garantia, algumas de suas ações da Tesla (US$ 62,5 bilhões).
O montante de grana também passa por um empréstimo bancário de US$ 6,5 bilhões, linha de crédito rotativa de US$ 500 milhões e empréstimo de curto prazo, isto é, empréstimo-ponte, de US$ 6 bilhões.
Até mesmo credores privados, como alerta o Financial Times, podem ter ajudado nessa maçaroca de dinheiro, colocando cerca de US$ 10 bilhões na jogada. Uma ação muito bem encadeada para o desfecho divulgado ontem.
O que esperar do Twitter de Elon Musk?
Como praticamente tudo virou uma discussão binária, a compra do Twitter por Elon Musk também está dividindo opiniões, principalmente daqueles que “carregam a tinta” em discussões políticas.
Alguns comemoraram o acordo, ressaltando que, com Elon no comando, haverá mais liberdade no Twitter, enquanto outros batem na tecla que Musk tornará um reduto da sua visão de mundo.
Um entrave entre os interesses de Musk sobre o futuro do Twitter e as operações de seus demais empreendimentos também pode acontecer, principalmente quando colocamos em pauta países como a China, altamente importante para a Tesla, mas que está longe de ser uma “vitrine” para a comunicação sem amarras. Musk sempre foi um crítico da moderação exacerbada de falas, como ele irá lidar com os reitores da moderação?
A real é que esse desenrolar veremos ao longo de um processo bem demorado, e passa também por componentes mais sensíveis em relação ao processo de aquisição, como os órgãos regulatórios.
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A União Européia, por intermédio do comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, já mostrou o “cartão de visita” para o novo dono do Twitter: “Elon, há regras. Você é bem-vindo, mas há regras. Não são as suas regras que serão aplicadas aqui”.
Do lado de Musk, a plataforma parece que vai caminhar por uma mudança realmente significativa. Como disse em sua nota, até mesmo o código-fonte do Twitter pode se tornar aberto, abrindo margem para a contribuição de programadores mundo afora.
Outra perspectiva é que a implementação de novos recursos aconteça de maneira bem mais alinhada com as pretensões dos usuários, pelo menos daqueles que participam das pesquisas de opinião que Musk lança em seu perfil.
Musk é um adepto fervoroso da comunicação e marketing, e agora, ostentando uma das maiores plataformas de manifestação de ideias do mundo, esse apreço deve aumentar exponencialmente. Os adeptos de bots também passarão mals bocados com Musk no comando.
Ao lado das preocupações de quem usa o Twitter há também a daqueles que trabalham lá. Muitos funcionários, não só do Twitter, mas de outras companhias tão grandes quanto, e que operam em capital aberto, desfrutam de parte de seus rendimentos por meio de ações, com a passagem para o modo privado, a dinâmica muda, um impacto no salário pode ser iminente.
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