Do Apple III ao Newton: 5 fracassos que a Apple gostaria de apagar da memória

Nem tudo que saiu da Apple virou sucesso. Esses 5 produtos mostram como a gigante de Cupertinou também aprende errando.

A Apple é um dos maiores cases de reinvenção da história do mundo corporativo. A companhia começou como uma fabricante de computadores, atuando diretamente na popularização dos computadores pessoais, esteve à beira da falência nos anos 90, e conseguiu se reerguer de maneira impressionante, desenvolvendo produtos que mudaram a forma como nos conectamos, ouvimos música ou acessamos a internet, ela construiu seu legado com uma mistura única de design, ousadia e marketing, e acabou influenciando muitas outras empresas.

O “muro das lamentações”

Apple fracassos

Mas nem tudo que saiu de Cupertino virou ouro. Antes de lançar fenômenos como iPhone, o iPad ou AirPods, a Apple também errou — e errou feio. Alguns produtos nasceram à frente do seu tempo, outros apenas mal executados. 

Neste artigo, vamos relembrar cinco grandes tropeços da gigante da maçã. De promessas ousadas, como o Newton MessagePad, a tentativas esquecidas, como o iPod Hi‑Fi.

Newton MessagePad

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Imagine lançar um “iPad” com caneta e reconhecimento de escrita… em 1993. Foi exatamente isso que a Apple tentou com o Newton MessagePad, um PDA futurista que prometia entender sua caligrafia e enviar até fax. Sim, fax.

Ele foi comercializado a partir de agosto daquele ano, com um preço de cerca de US$ 700, em um momento em que o mercado ainda estava digerindo a ideia de computação portátil. A proposta era ambiciosa: reconhecer sua letra à mão livre, enviar faxes, imprimir, organizar sua agenda com comandos em linguagem natural e até gerenciar seus contatos por palavras-chave como “reunião”, “jantar” ou “aniversário”.

No papel, parecia um vislumbre do futuro. Mas na prática, o Newton era lento, tinha bateria fraca e seu recurso mais “mágico” — o reconhecimento de escrita — frequentemente falhava. A tecnologia virou piada até em tirinhas de jornal (Doonesbury) e o entusiasmo inicial rapidamente deu lugar à frustração..

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Durante cinco anos, a Apple tentou insistir no projeto, lançando novas versões do MessagePad e até um modelo educacional chamado eMate. Mas o Newton nunca decolou de verdade.

Tudo mudou em 1997, quando Steve Jobs voltou à empresa. Durante a WWDC daquele ano, ele afirmou publicamente que, se dependesse dele, a Apple abandonaria o NewtonOS, sistema que equipava os dispositivos móveis, para concentrar seus esforços no macOS e no futuro Rhapsody.

Dito e feito. Em 27 de fevereiro de 1998, a Apple publicou um comunicado à imprensa confirmando oficialmente o fim do Newton. Jobs havia reassumido o controle total da companhia e iniciado um processo radical de reestruturação, cortando todos os projetos paralelos e preparando terreno para o que viria depois: o iMac, o iPod e, anos mais tarde, o iPhone.

Curiosamente, o Newton foi o primeiro produto da Apple a rodar em chips ARM, arquitetura que se tornaria fundamental duas décadas depois nos iPhones, iPads e até mesmo nos atuais Macs com Apple Silicon. 

QuickTake

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A primeira câmera digital da Apple. Sim, isso existiu.

Lançada 17 de fevereiro de 1994, na MacWorld Expo de Tóquio, terra natal da Nikon e da Canon, a empresa revelou ao mundo sua primeira câmera digital de consumo: a QuickTake 100.

Fabricada em parceria com a Kodak, ela trazia um sensor de 0,3 megapixel, era vendida por US$ 750 e dispensava completamente filmes e revelações. Naquele momento, era uma façanha: bastava plugar a câmera via cabo serial no seu computador e pronto — as fotos estavam no disco rígido, sem custo extra.

Mesmo com a promessa de inaugurar uma nova era, a realidade era mais modesta. As imagens, ainda que revolucionárias em conceito, tinham baixa resolução e eram úteis apenas para visualização em tela. Impressão? Só com boa vontade.

A Apple lançou versões separadas da QuickTake: uma para Macintosh (embalada em vermelho) e outra para Windows (embalagem azul), o que era raro entre os produtos da empresa naquela época.

Além disso, oferecia uma lente macro opcional, que modificava a ótica e a difusão do flash.

Apesar de lançar modelos posteriores como a QuickTake 150 e 200 — esta última com visor LCD —, o projeto não conseguiu atrair o grande público. A maioria dos consumidores ainda não via sentido em abandonar o filme, especialmente com câmeras digitais tão limitadas e caras.

Internamente, a Apple via o projeto como um ensaio estratégico para explorar novas áreas de hardware. Mas quando Steve Jobs retornou em 1997, ele cortou produtos periféricos que desviavam o foco da empresa. A QuickTake foi um dos primeiros a rodar.

Pippin

O Pippin era um console multimídia que misturava computador e videogame. A Apple licenciou o projeto para a Bandai, que lançou o aparelho no Japão em março de 1996 e nos EUA pouco depois, ao preço de US$ 599. O nome? Inspirado em uma variedade de maçã — tradição interna na Apple.

Mas o aparelho já nasceu com cara de fracasso. No Japão, as vendas foram fracas, e quando chegou ao mercado americano, o cenário era ainda mais competitivo: PlayStation, Sega Saturn e PCs dominavam o entretenimento doméstico.

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O Pippin rodava um sistema baseado no Mac OS, batizado de Pippin OS, gravado em cada disco. Alguns CDs incluíam até versões para Mac, Windows ou DOS, o que mostra uma tentativa precoce de tornar o conteúdo multiplataforma. O aparelho podia navegar na internet, por meio de um navegador próprio e um modem de 28,8 kb/s — um feito ousado para a época.

Na tentativa de mostrar o lado “multimídia” do console, a Bandai chegou a lançar um programa piloto nos Estados Unidos. Em parceria com a PSINet, instalou 100 unidades do Pippin em um hotel Holiday Inn em Atlanta, conectadas a um servidor local com acesso à internet via linha ISDN. A ideia era testar o dispositivo em um ambiente corporativo e de hospitalidade, mas o projeto durou apenas 100 dias.

Do ponto de vista gamer, o Pippin decepcionava: catálogo pobre, controles ultrapassados e desempenho técnico limitado. Ele não tinha chip gráfico dedicado, nem áudio avançado. O preço elevado e a comunicação confusa sobre sua proposta dificultaram ainda mais a adoção.

As vendas totais ficaram abaixo de 50 mil unidades, e, com o retorno de Steve Jobs à Apple em 1997, o projeto foi encerrado sem cerimônia. Junto com o fim do Pippin, Jobs também eliminou o programa de licenciamento de hardware — reforçando a filosofia de integração total que marcaria a nova fase da empresa.

iPod Hi‑Fi

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Lançado em 2006 como o alto-falante oficial do iPod, o iPod Hi‑Fi prometia substituir o sistema de som da sua casa. Steve Jobs chegou a dizer que havia aposentado seu estéreo por causa dele.

Só que, por US$ 349, o consumidor esperava mais do que um som potente. O Hi‑Fi não tinha rádio, nem Bluetooth, nem equalizador. O controle remoto era limitado. E o design, embora elegante, não justificava o preço diante de concorrentes mais baratos e completos, como os docks da Bose.

O público e mídia reagiu com frieza. Menos de dois anos depois, em setembro de 2007, o iPod Hi‑Fi foi discretamente descontinuado. A Apple justificou a decisão dizendo que o mercado estava bem servido por acessórios de terceiros — e não estava errada.

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Porque se o iPod Hi‑Fi fracassou como produto, a ideia por trás dele prosperou nas mãos de outras marcas. Docks de som para iPod viraram febre. Empresas como Bose, JBL, Altec Lansing, iHome e Logitech inundaram o mercado com sistemas de som compatíveis, com faixas de preço variadas e recursos mais modernos

O Hi‑Fi saiu de cena rápido, mas o conceito sobreviveu. Não nas mãos da Apple, mas no ecossistema que ela mesma ajudou a criar.

Apple III

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Antes do iMac, antes mesmo do Macintosh, a Apple já sonhava em conquistar o mundo corporativo. O Apple III, lançado oficialmente em setembro de 1980, foi o primeiro computador da empresa voltado diretamente ao mercado profissional.

Internamente, o projeto era conhecido como “Sara”, e foi desenvolvido em paralelo com outros dois codinomes históricos: “Lisa” e “Annie” — este último viria a se tornar o Macintosh. A missão era clara: criar um computador robusto, com capacidade para tarefas empresariais como contabilidade, planilhas e processamento de texto.

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O Apple III custava entre US$ 4.300 e US$ 8.000 e tinha falhas de projeto graves. A mais emblemática: Steve Jobs insistiu que o gabinete de alumínio não tivesse ventoinha, por considerar ventoinhas “barulhentas e deselegantes”. Resultado? O calor fazia a placa lógica entortar e os chips literalmente saltarem dos soquetes.

A situação era tão absurda que engenheiros da própria Apple recomendavam aos clientes que levantassem o computador e o soltassem de leve sobre a mesa — na esperança de que os chips voltassem para o lugar.

As críticas da mídia foram severas. O computador travava, esquentava demais e tinha poucos programas disponíveis. A Apple chegou a recolher 14 mil unidades com defeito, lançou uma versão revisada chamada Apple III Plus em 1983, mas o estrago estava feito.

O modelo foi descontinuado em abril de 1984, com estimativas de prejuízo de mais de US$ 60 milhões — um golpe significativo para uma empresa que ainda não era a gigante que conhecemos hoje.

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Editor-chefe no Hardware.com.br/GameVicio Aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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