Curiosidades sobre o Nintendo PlayStation: a parceria que uniu Sony e a BIG N (e deu errado)

Curiosidades sobre o Nintendo PlayStation: a parceria que uniu Sony e a BIG N (e deu errado)

Chicago, 1991. Centro de convenções McCormick Place. Neste local, em meio a edição daquele ano da CES, um plot twist lendário da história dos videogames. Uma fala que mudou literalmente o curso da história.

A fala em questão foi o anúncio de Howard Lincoln, que era um dos principais executivos da Nintendo of America, confirmando o que muitos suspeitavam. A Nintendo iria aderir ao CD-ROM no SNES, console que chegaria ao mercado americano em agosto daquele ano. Mas o grande detalhe veio logo em seguida: a empresa parceira que iria viabilizar isso seria a Philips, e não a Sony, que analistas e mídia davam praticamente como certo. O anúncio pegou de surpresa até mesmo Ólafur Jóhann Ólafsson, que na época era o presidente da Sony Electronic Publishing. 

Nesse artigo separei algumas curiosidades sobre esse projeto que não viu a luz do sol. Popularmente conhecido como Nintendo PlayStation, a parceria entre Nintendo e Sony que daria origem a um acessório que acrescentaria o suporte a CD-ROM no Super Nintendo (SNES). 

Sony e Nintendo: o aperto de mãos nos anos 80

Para entender melhor os motivos que levaram a Nintendo a rechaçar a parceria com a Sony, precisamos voltar para meados dos anos 80. 

Neste período as empresas japonesas assinaram um contrato para que o SNES contasse com um componente desenvolvido em parceria com a  Sony. O chip de áudio SPC700, também conhecido como Nintendo S-SMP, é um marco em termos de processamento de som, que elevou consideravelmente a qualidade comparada com o que era entregue pelo console da geração passada da Nintendo.

A Nintendo estava desesperada para conseguir uma alternativa à altura do que a SEGA estava fazendo para o Mega Drive. Um chip de áudio produzido pela Yamaha. Contrariando até mesmo os executivos da Sony, Ken Kutaragi, que era um dos principais engenheiros da Sony, resolveu prosseguir nas negociações com a Nintendo, que daria origem ao SPC700. Essa ousadia quase custou o emprego de Kutaragi!

SPC700

O movimento ousado de Kutaragi, e o saldo positivo (em termos de lucro para a Sony) mudou radicalmente a mentalidade da empresa em relação à indústria dos games.

Tendo a Sony como parceira, por que não estender essa aliança para também ser a base da implementação do CD no SNES, algo que estava nos planos da Nintendo? Tendo em vista que a Sony também estava ligada ao desenvolvimento desse tipo de mídia, juntamente com a Philips.

No entanto, a Nintendo ficou receosa com o próprio contrato que assinou em 1988. Como recorda o livro “A Guerra dos Consoles”, o contrato dava à Sony o direito de controlar o software no caso de uma joint-venture para CD.

Eu sei, e você também sabe, como é o método de atuação da Nintendo. A empresa é mundialmente conhecida por sua postura de controle absoluto dos seus produtos, e usa todas as suas armas para manter isso.

Estender a aliança com a Sony para mais esse ponto, o CD, foi algo repensado pela companhia, ainda mais levando em conta o que estava em jogo no contrato, considerando a própria expansão da Sony para outros segmentos, com a aquisição da CBS Records e da Columbia/TriStar.

O que era o Nintendo PlayStation?

Popularmente conhecido como Nintendo PlayStation, ou SNES-CD, era uma ideia para um acessório que acrescentaria a capacidade do Super Nintendo rodar jogos em CD. O lançamento do periférico, que seria acoplado ao SNES, método que a SEGA fez com o Mega Drive, com o SEGA CD (também conhecido como Mega CD). O lançamento estava programado para o fim de 1992. 

Com o acessório, os usuários do console conseguiriam jogar tanto por cartucho quanto por CD–ROM. O acordo para a Sony era maravilhoso. A empresa lucraria com cada unidade do PlayStation vendido, e ainda receberia taxas das empresas de software que quisessem criar jogos em CD.

Cerca de 200 unidades do protótipo foram produzidas. Um protótipo de um produto de uma empresa de ponta já eleva a outro patamar o desejo de colecionadores mundo afora, agora imagine um produto que marcaria uma grande aliança entre duas empresas lendárias

 

O Nintendo Playstation virou um objeto histórico, um pedaço de uma parte importante da história do mercado de games. Uma unidade foi à leilão em 2020 e o valor pelo qual foi arrematado impressiona: US$ 360 mil. 

Essa unidade leiloada potencia a Ólafur Jóhann Ólafsson. Lembra que falei dele no inicio do artigo? O cara que comandava a Sony Electronic Publishing e assistiu de camarote o anúncio da aliança entre Nintendo e Philips.

E deu certo a aliança entre Nintendo e Philips?

Semanas antes do acordo do anúncio público na CES, representantes da Nintendo foram até a sede da Philips, em Eindhoven, na Holanda. O contrato firmado seguia basicamente a ideia do que seria com a Sony: um drive de CD-ROM que seria conectado ao Super Nintendo para que o console tivesse suporte a games em CD.

E os jogos criados pela Nintendo seriam compatíveis com os aparelhos CD-I da Philips, como, por exemplo, Hotel Mario, lançado em 1994.

 Como você bem sabe, o Super Nintendo não teve suporte algum a mídia de CD. O acordo com a Philips foi desfeito, e o tal acessório não deu em nada. 

Engole o choro e o orgulho

“Quem seria um parceiro melhor do que a empresa que inventou o CD, a Philips Electronics? Assim Howard Lincoln anunciou na CES 1991 que o parceiro da Nintendo para levar o CD para o SNES seria a Philips e não a Sony.

O anúncio foi uma hecatombe nos planos da Sony, uma tremenda humilhação pública. A Nintendo simplesmente chutou sua antiga parceira com requintes de crueldade. 

E essa não foi a única humilhação que a Sony teve que passar com a Nintendo. Naquela circunstância, no mercado de jogos, a Sony ainda não era ninguém. Teve que engolir o choro e o orgulho.

Meses depois da CES, a Sony tentou seguir um acordo com a Nintendo. Mas a Big N usava sua posição de superioridade para mostrar que nada seria fora do que ela quisesse. 

  • A Nintendo queria controlar a produção de software, delimitando ao seu bel prazer chips de bloqueio, licenciamento, entre outras questões.
  • A Nintendo também poderia controlar que jogos seriam produzidos e quando
  • A Nintendo ficaria com a maior parte dos lucros de licenciamento

Mesmo nesses termos, executivos da Sony estavam interessados em fechar o acordo. O pilar da resistência foi Ken Kutaragi.

O Dia D

No dia 24 de junho de 1992 a Sony decidiu deliberar o que faria sobre o mercado de jogos. Entrar ou não nesse segmento. Inicialmente,a ideia de criar um console estava fora de questão. A empresa não estava nenhum pouco afim de ter que lidar com os custos de pesquisa e desenvolvimento para colocar um videogame no mercado. A parceria com a Nintendo, que já tinha esse hardware, era o mundo dos sonhos que a Sony aventava.

Kutaragi foi quem insistiu na ideia de que a Sony deveria seguir seu próprio caminho, apostando em seu próprio console. Visão que não agradou em nada os membros do conselho. 

O engenheiro sabia que apenas falar não mudaria aquele panorama, então ele apelou para o visual.

Apresentou o projeto que estava trabalhando há meses, junto com parte dos desenvolvedores da companhia. A ideia do projeto era: um console sofisticado capaz de processar gráficos 3D. Superior a tudo que tinha no mercado naquele momento.

Ken Kutaragi.

Nem assim foi suficiente para convencer aqueles que irão deixar viver ou matar o projeto. O último artifício do engenheiro foi trazer o emocional à mesa: Kutaragi perguntou para Norio Ohga, presidente da companhia entre 1982 a 1995, se ele aceitaria que a Nintendo tratasse a Sony como fizera no passado.

E a resposta foi: “Não podemos ter a esperança de conseguir algum progresso com uma máquina de 16-bits compatível com a Nintendo. Assim, vamos traçar nosso próprio curso”.

Estava posto. Mesmo com toda resistência e olhares tortos, a Sony teria seu próprio console, que tomou forma a partir do rompimento com a Nintendo.

O PlayStation chegou ao mercado em 1994. 

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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