Na noite do último Domingo, dia 13 de Maio, os entusiastas de hardware ficaram com uma pulga atrás da orelha. Na mesma edição em que o jornalístico semanal “Fantástico” exibiu como “hackers” obtiveram acesso a fotos íntimas de Carolina Dieckman, outra reportagem voltada ao mundo da tecnologia passou com menos destaques: o quadro “Atenção consumidor”, onde o programa mostrou os resultados de uma bateria de testes realizadas pelo Inmetro para avaliar a qualidade das, segundo eles, fontes de alimentação mais populares no Brasil. O resultado, como naturalmente esperado, gerou polêmica e vários fóruns especializados começaram a discutir o assunto.
Muito já foi dito neste e em outros sites sobre o que são e para que servem as fontes de alimentação. Por esse motivo, não vou enunciar, aqui, uma definição formal com detalhes técnicos. Limitar-me-ei a dizer que as fontes são as responsáveis por fornecer energia elétrica aos vários componentes e periféricos do computador. Para isso, grosso modo, elas reduzem a tensão elétrica proveniente de nossas tomadas de 110V ou 220V para valores como 5V ou 12V e transformam a corrente alternada em corrente contínua. Se você quiser saber mais sobre as fontes, esse site possui vasto material disponível.
Agora, vamos pensar um pouco.
Há um consenso geral – pelo menos no fórum GdH – que a reportagem foi muito superficial. É claro que podemos enumerar vários fatores para tal, como o escasso tempo televisivo, mas esse não é o principal problema. A reportagem, após assistida, nos deixa com várias dúvidas, como por exemplo: quais foram os modelos de fontes analisados? Será que esses modelos ainda estão em circulação? Será que o Inmetro não teve o azar de pegar um modelo que veio com defeito de fabricação? Será que esses foram os únicos testes aplicados? Qual a metodologia dos mesmos? Quais as cargas aplicadas no teste de potência? Todas as fontes tinham a mesma potência e especificações técnicas?
Para nossa alegria (como diz um famoso meme). Além da reportagem, o site do programa também disponibilizou um relatório técnico confeccionado pelo Inmetro, disponível neste link e que é bastante detalhado, respondendo muitas das dúvidas acima (o conteúdo do documento é também descrito no artigo do Agnaldo Reis).
Sabemos, no entanto, que a maioria dos espectadores daquele programa não irá acessar esse documento online e ficará sem saber dos detalhes mais importantes como, por exemplo, o fato de a reportagem ter omitido que todas as fontes testadas foram aprovadas em vários testes, como o de Descarga dos Capacitores no Circuito Primário ou o de Rigidez Absorvida. Além disso, segundo o usuário Skoker, do fórum GdH, o modelo da Corsair testado já saiu de linha.
O maior pecado da reportagem foi, sem dúvidas, não citar quais foram os modelos testados e, com base na ausência dessa informação, cometer a falácia lógica de afirmar que a marca tal foi reprovada. Ora, sem perda de generalidade, dizer que a Corsair foi reprovada porque um exemplar de um modelo específico não passou em alguns testes é o mesmo que dizer que todos os árabes são terroristas por causa do Osama bin Laden. Para dizermos que uma marca foi reprovada, seria necessário testar todos os modelos que ela produz. Meu irmão, por exemplo, possui há anos um netbook da Positivo que nunca apresentou problemas de hardware; em compensação pesquisas em sites como Reclame Aqui possibilitam-nos encontrar consumidores que adquiriram computadores de marcas consagradas, como Dell ou HP, que apresentaram problemas pouco tempo após o início de sua utilização.
E o que vai acontecer agora? Eu apostaria que… Nada! A maioria dos usuários domésticos é totalmente leiga em se tratando de computador e eles nem devem saber qual a marca da fonte instalada em seus PCs; eles também não vai se aventurar a abrir o gabinete só para ver a marca e, em poucas semanas, o assunto será esquecido. Mas há um ponto que preocupa: o Inmetro, baseado no resultado dos testes, anunciou que está pensando em regulamentar e fiscalizar as fontes, colocando nelas o seu selo de qualidade. Embora à primeira vista isso possa parecer positivo, como ficarão as fontes importadas que não possuem revendedor no Brasil? Igual a alguns capacetes de moto importados que, embora possuam qualidade superior a qualquer nacional, não podem ser usados em vias públicas por não terem o selo da instituição?
Logo, pelo exposto acima, concluímos que a reportagem do programa Fantástico e a análise do Inmetro nada concluem a respeito das marcas de fontes analisadas e, no máximo, podemos dizer que os modelos testados não atenderam às exigências técnicas e de segurança o que, de forma alguma, significa que todos os modelos produzidos pelas marcas analisadas são bons ou ruins.
Ter um computador com componentes de qualidade é essencial para se ter um sistema estável, rápido e agradável de usar – e a fonte de alimentação é uma das peças principais. Assim, quando for montar seu novo PC, se não tiver experiência, peça ajuda em fóruns especializados e solicite a opinião dos usuários mais experientes sobre o que deseja adquirir. Dessa forma, você estará evitando muitas dores de cabeça no futuro.
Por: André Machado <andreferreiramachado arroba gmail ponto com>
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