Um mini-review do Atom Cedar Trail-M

Um mini-review do Atom Cedar Trail-M

Quando a Intel lançou o Atom em 2008, o processador parecia bastante promissor: uma plataforma de baixo consumo, baseada em núcleos de processamento de instruções em ordem, bastante compacto e barato de se produzir, que poderia ser vendido a preços muito baixos e ainda assim oferecer um desempenho suficiente para tarefas do dia a dia.

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De certa forma, o Atom foi um grande sucesso, já que alimentou o crescimento de toda uma nova classe de equipamentos, os netbooks, que rapidamente se tornaram extremamente populares, a ponto de em alguns momentos chegarem a parecer ameaçar o reinado dos notebooks. Por outro lado, a forma como a Intel gerenciou o crescimento da família deixou muito a desejar, já que a necessidade de maximizar os lucros, bem como evitar com que o Atom concorresse com processadores mais caros dentro da linha fez com que os preços do Atom se mantivessem artificialmente elevados (na casa dos US$ 60 pelo processador e chipset, várias vezes mais caro que a maioria dos SoCs ARM de alto desempenho, que custam na casa dos US$ 15 a US$ 20), com um desempenho limitado (em três anos a Intel se limitou a incluir um segundo núcleo e mover componentes do chipset para dentro do processador, obtendo apenas ganhos marginais de clock) e um consumo elétrico que acaba não sendo tão baixo assim, ficando na casa dos 7 a 10 watts para o processador + chipset na maioria das implementações, novamente várias vezes mais alto que os SoCs ARM de alto desempenho.

A AMD aproveitou as brechas para ganhar espaço com a plataforma Brazos, que oferece um desempenho superior, com uma GPU muito mais flexível e um custo competitivo, perdendo para o Atom apenas em relação ao consumo elétrico.

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Chegamos então ao Cedar Trail-M, a terceira geração do Atom, anunciado recentemente pela Intel. Ele marca a transição para a técnica de produção dos 32 nm, com a introdução de uma GPU mais rápida, melhorias no controlador de memória e pequenos tweaks na arquitetura para oferecer ganhos reais de desempenho por clock.

A principal mudança reside na GPU, com o velho GMA 3150 dando lugar a uma GPU desenvolvida com base na arquitetura PowerVR SGX545 da Imagination Technologies. Em termos de hardware, a GPU oferece suporte ao DirectX 10.1 e oferece um desempenho bruto cerca de duas vezes superior ao da geração anterior, mas problemas com os drivers fizeram com que a Intel optasse por limitar o suporte ao DirectX 9 para conseguir fazer o lançamento a tempo. O suporte no Linux é também ainda deficiente, assim como tem sido historicamente nos Atoms com GPUs PowerVR, como no caso do Poulsbo.

Em resumo, temos uma GPU com um belo potencial, mas que exigirá paciência em um primeiro momento até que a Intel consiga colocar a casa em ordem em relação aos drivers, sobretudo para quem usa Linux. Não espere que a maioria das distribuições atuais possam ser instaladas diretamente sem dificuldades como no caso dos netbooks atuais. A Intel contratou um grupo de engenheiros vindos da extinta divisão de drivers do Meego e prometeram desenvolver drivers Linux funcionais para os próximos meses, mas só o tempo mostrará em que velocidade o desenvlvimento progridirá.

Outra melhoria importante em relação à GPU é a inclusão de suporte a decodificação de vídeos 1080p H.264 via hardware, tirando os Atoms da idade da pedra em relação à reprodução de vídeos. Em um mundo em que até mesmo tablets de US$ 80 da China oferecem decodificação de vídeos via hardware, seria imperdoável para a Intel continuar a oferecer uma plataforma sem essa função em pleno ano de 2012. A GPU inclui também suporte a saídas HDMI e DisplayPort, reduzindo a diferença em relação à plataforma da AMD.

A linha inicial inclui o N2600 e o N2800, dois modelos móveis dual-core, com clock de respectivamente 1.6 GHz (com a GPU operando a 400 MHz) e 1.86 GHz (GPU a 640 MHz), juntamente com o D2500 e o D2700, modelos destinados a nettops, com também dois núcleos e clocks de 1.86 e 2.13GHz. Com exceção do D2500, todos os modelos oferecem suporte ao multithreading, com a execução de dois threads por núcleo.

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A terceira melhoria fica por conta do controlador de memória, que agora suporta memórias DDR3. Por enquanto as frequências dos módulos estão limitadas a DDR3-800 no N2600 e DDR3-1066 no N2800, o que é lento para os padrões atuais, mas já é uma grande melhoria em relação às memórias DDR2 da geração anterior. O suporte a DDR3 é um dos fatores responsáveis pelo melhor desempenho da GPU, além de resultar em pequenos ganhos de desempenho em outras áreas.

O restante da arquitetura do chip continua sem maiores mudanças, com os núcleos de processamento permanecendo sem mudanças e o cache L2 sendo mantido a 512 KB por núcleo. Fora da questão da GPU, o principal ganho introduzido pela migração para os 32 nm é uma redução no consumo, com o N2600 oferecendo um TDP de 5 watts e um consumo típico de 1.9W e o N2800 oferecendo um TDP de 8W e um consumo típico de 2.62W, que se traduzirão em pequenos ganhos de autonomia.

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Entretanto, apesar das melhorias, o Atom continua no mesmo lugar onde sempre esteve. Continua sendo o processador x86 mais fraco disponível no mercado e oferecendo um desempenho insuficiente para qualquer coisa além das tarefas mais básicas. Mesmo com a migração para memórias DDR3 e as melhorias na GPU, o Cedar Trail continuará sendo mais lento que o Brazos. A estratégia da Intel está mais focada em trabalhar junto aos fabricantes para reduzir os preços, fazendo com que as vendas dos netbooks em países de terceiro mundo continue crescendo, compensando as quedas nas vendas nos EUA e Europa:

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A expectativa é que a maior parte dos modelos da linha 2012 seja vendida na faixa dos US$ 199 a US$ 229, que é um preço muito mais baixo que o da maioria dos tablets. Mesmo com as vendas dos tablets crescendo entre os usuários de maior poder aquisitivo, que já possuem um PC e um notebook, estes preços devem garantir que os netbooks continuem crescendo entre o público de gastos mais moderados, que está comprando o primeiro portátil ou substituindo outro netbook de uma safra anterior.

A segunda faixa é a dos modelos premium, com mais opções e preços mais altos, indo até a casa dos US$ 299 (mesmo preço da maioria dos netbooks da safra atual), com a introdução de modelos com tela sensível ao toque e novos formatos, otimizados para rodar o Windows 8, que custarão na casa dos US$ 399 e devem estar disponíveis a partir da segunda metade de 2012, em um esforço por parte da Intel em concorrer mais diretamente com os tablets.

Além da redução nos preços, podemos esperar o aparecimento de modelos mais finos, com designs fanless e telas maiores, seguindo a tendência dos ultrabooks. Criar netbooks com dissipação passiva foi sempre um problema com processadores x86, mas o baixo consumo do N2600 deverá incentivar os fabricantes a levarem a possibilidade adiante. Em resumo, se o Atom não fica mais rápido, pelo menos os netbooks ficarão mais finos e mais baratos. Quem sobreviver ao inferno dos drivers terá a chance de apreciar a beleza desta nova fase.

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