Boot triplo com o GRUB: Debian, FreeDOS 1.0 e Windows 98SE

Por:

A triple-boot system with GRUB: Debian GNU/Linux “Lenny”, FreeDOS 1.0, and Windows 98SE
Autor original: Terry Hancock
Publicado originalmente no: freesoftwaremagazine.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

No natal eu remanufaturei e instalei computadores para dois dos meus filhos. Como eu ainda tenho uma pilha de jogos velhos na gaveta, optei por sistemas de boot múltiplo. Fazer isso foi bem mais fácil e gratificante que da última vez em que configurei um sistema com boot duplo com Linux e Windows (com o LOADLIN.EXE, algo que hoje em dia eu não recomendo). Eu também queria testar o estado atual do FreeDOS (um sistema operacional GPL que emula partes do MS-DOS 3.3 e do MS-DOS 6.0). Tentei instalar o ReactOS 0.3.7 no lugar do Windows em um dos sistemas, mas não consegui resolver alguns problemas de instalação (assunto para um outro artigo), certamente causados pela imaturidade do software (que é “alfa”).

Computadores remanufaturados para o Natal

Este artigo é uma continuação do que escrevi antes sobre a remanufatura de computadores para crianças, com detalhes técnicos sobre o boot triplo que eu configurei. Leia o artigo anterior para saber sobre meus objetivos e outros aspectos do projeto. Aqui vou falar apenas da tecnologia.

Há muitos anos, antes do GRUB, era o LILO que costumava carregar o Linux. Embora o LILO funcionasse bem para carregar o Linux, estava longe de ser um “grande gerenciador de boot unificado” (significado da sigla GRUB, em inglês), e não era fácil configurar um boot duplo com Linux e Windows. Na época eu fiz isso com um programa para DOS/Windows chamado LOADLIN.EXE, que disparava o processo de boot do Linux a partir do ambiente DOS/Windows do computador. Isso com o Windows 3.1, por volta do ano 2000, mais ou menos na época em que comecei a usar Linux. Na época eu tinha configurado um computador para meus filhos dividirem, e embora eles o usassem mais para rodar jogos e aplicativos do Windows, eu queria apresentá-los aos programas do GNU/Linux que eu também estava aprendendo a usar.

O boot duplo não é para principiantes!

Mesmo com o GRUB, eu não recomendo o boot duplo (ou múltiplo) para quem quer experimentar o GNU/Linux como sistema operacional secundário em um computador que tenha o Windows instalado. Não se você não tiver um expert nas proximidades, disposto a configurar o sistema e mantê-lo para você.

Digo isso porque sistemas de boot múltiplo são por natureza mais frágeis, e fazê-los funcionar de maneira confiável exige um alto grau de habilidade, experiência e paciência. Isso não combina com usuários que só estão experimentando o Linux.

Nesse caso, recomendo que você adquira um computador barato para instalar o GNU/Linux – pode ser antigo, como os modelos com mais de dez anos que usei para meus filhos. Eles vão funcionar bem, pois o GNU/Linux tem um design de eficiência notável, com melhor desempenho em hardware antigo do que qualquer sistema proprietário disponível no mercado. Na maioria das vezes vai valer a pena, além de ser bem mais fácil do que tentar instalar um sistema de boot duplo.

Se você não tem como comprar outro computador, recomendo experimentar o GNU/Linux em um “Live CD”. Se gostar, faça um backup do HD e instale o GNU/Linux como sistema principal.

Na minha opinião, o boot múltiplo é útil para pessoas como as da minha família, que usam o GNU/Linux quase que exclusivamente, mas ocasionalmente precisam do Windows para rodar um programa antigo para o qual não vale a pena procurar substituto no Linux. Como não temos nenhuma máquina com o Windows, e não estamos dispostos a desperdiçar uma com ele, ter ao menos uma instalação de boot múltiplo faz sentido.

O sistema que eu tinha era basicamente o DOS/Windows 3.1, com um sistema operacional Linux embutido. Os registros de boot eram controlados pelo DOS, e a única maneira de iniciar o Linux era entrar no DOS e rodar o LOADLIN.EXE. Era meio complicado, e várias coisas podiam dar errado.

Pulando para três meses atrás

Hoje o GRUB existe e é bastante maduro (há até um “GRUB 2” para os mais aventureiros, mas eu estou usando o GRUB tradicional neste artigo). Ao invés de entregar as chaves ao Windows (um inquilino pouco confiável, que tende a se apossar do que cai em suas mãos), hoje eu posso configurar um menu de boot do GRUB que lida com todos os meus sistemas operacionais sem turbulências: Debian GNU/Linux “Lenny” (a versão mais recente), FreeDOS 1.0 (a versão mais recente, que não é mais “beta”) e Windows 98SE (um que minha mãe deu para meus filhos, por volta do ano 2000, e outro que veio com um dos HP Pavilions de 1998 que eu remanufaturei).

Além disso, o menu do GRUB oferece a flexibilidade de configurar uma escolha padrão para o boot, de modo que o computador entre direto no GNU/Linux se você não digitar nada (e geralmente é isso o que meus filhos querem). Para entrar no Windows ou no FreeDOS é só desligar o sistema (pelo menu do KDM ou usando Ctrl-Alt-F1, Ctrl-Alt-Del), reiniciar e escolher a opção adequada durante o processo de boot.

Perdoem-me pelo Windows?

Talvez eu deva pedir desculpas por explicar como instalar o Windows 98SE em uma publicação sobre software livre. Há vários bons motivos para se instalar o Windows como sistema operacional secundário:

  • Para testar a compatibilidade com sistemas de terceiros
  • Para usar software proprietário antigo, como jogos
  • Para ter compatibilidade com itens de hardware proprietários populares, como os que eu descrevi no artigo “A world of beautiful broken toys” (em inglês)
  • Para expor seus filhos a vários sistemas diferentes, evitando que eles fiquem “viciados” em um
  • Para mostrar a eles exatamente porquê eu parei de usar o Windows (numa comparação justa, eu acho que nenhuma criança vai preferir o Windows ao GNU/Linux, especialmente se o GNU/Linux for o primeiro sistema que ela aprender a usar).

Acrescento ainda que não compramos licenças do Windows; usamos licenças velhas. Portanto, os que se preocupam com essas coisas podem saber que não contribuímos materialmente com a “grande corporação demoníaca”.

Boa parte dessas razões também valem para o FreeDOS, com relação aos aplicativos que rodam nele, com a vantagem do FreeDOS ser um sistema operacional livre.

Meu procedimento

O texto a seguir é uma adaptação das anotações que fiz durante o processo de instalação. Vou tentar falar mais sobre outras opções sempre que possível, mas obviamente só posso ter certeza do rumo que eu dei à instalação. É uma instalação complexa, e você pode fazer várias escolhas diferentes no processo de criação do seu sistema.

0 – Obtendo o software

Eu concluí boa parte do processo de instalação sem conectar os computadores à minha LAN ou à internet, logo a instalação foi baseada em CD-ROMs.

O Debian GNU/Linux é enorme. Só a arquitetura “i386” da distribuição “Lenny” ocupa 31 discos. Eu só baixei os cinco primeiros, já que os pacotes são distribuídos por ordem de popularidade – ou seja, baixando uns poucos discos você já consegue os pacotes mais usados, e os outros podem ser ignorados ou instalados mais tarde pelo CD ou pela internet. O Debian agora oferece uma conveniência adicional: há duas versões do primeiro disco, uma para usuários do GNOME e outra para usuários do KDE. Como eu uso o KDE, escolhi a segunda opção, obviamente. Isso não deve fazer muita diferença para os propósitos desta instalação (vai importar mais quando eu começar a tentar personalizar os sistemas, mas isso é assunto para outro artigo).

Imagens ISO-9660 dos discos para CD-ROM podem ser baixadas de várias fontes, conforme documentação do site do Debian. Eu usei o ktorrent para baixar minhas imagens de um mirror BitTorrent.

Para obter o FreeDOS não tem mistério: basta ir até o site do FreeDOS. As imagens ISO de disco são hospedadas no iBiblio e estão disponíveis em vários métodos diferentes de distribuição e download. A menor distribuição contém apenas o núcleo do sistema operacional e nada de código fonte, ocupando só 8 MB. Mesmo a instalação completa que traz todos os aplicativos e o código fonte e ainda serve o cafezinho tem apenas 242 MB (ocupando pouco mais de um terço de um CD-ROM comum).

Todas essas imagens de CD-ROM podem ser gravadas em discos CD-R com gravadores de CD (que hoje em dia são muito baratos), por meio de vários pacotes de software diferentes. Eu escolhi o K3B para a tarefa.

Já o Windows 98SE você vai ter que comprar ou encontrar jogado em alguma gaveta velha. Teoricamente, cada computador comprado com o sistema pré-instalado lhe dá o direito legal a uma licença, mas até onde eu sei, fazer uma versão pré-instalada vomitar um CD-ROM instalável é praticamente impossível.

Para piorar, o Windows 98SE usa um disquete de boot. Sim, a tecnologia arcaica que precedeu o CD-ROM inicializável! Talvez você se lembre desses disquetes. Eu perdi o meu faz tempo, e recriar um a partir do CD-ROM e do Windows pré-instalado em um dos HP Pavilions foi um pesadelo que eu não gostaria de ter novamente, e que não vou descrever aqui (o DOS e o DOS “7”, presentes nas entranhas do Windows 98, não contêm drivers para CD-ROMs ATAPI, e por isso um mero FORMAT /S não funciona). Recomendo a você que não perca o disquete de boot. Felizmente, os computadores têm drives de 3.5″, embora nos computadores modernos isso não seja garantido.

1- Instalação do Debian GNU/Linux “Lenny”

Talvez seja possível usar o processo “fácil” de instalação, mas mesmo assim eu não quis arriscar, especialmente porque era absolutamente essencial particionar manualmente o HD para deixar espaço para o Windows. Por isso vou usar a opção “Expert Install” (Instalação Avançada), que faz muito mais perguntas mas oferece maior controle.

1.1- Configuração inicial e instalação

Em primeiro lugar, reinicie o sistema com o primeiro CD do Debian GNU/Linux “Lenny” (versão com o KDE, no meu caso). Sim, você pode reiniciar com “ctrl-alt-del” depois de inserir o CD-ROM caso não tenha sido rápido o suficiente para inseri-lo durante os testes do BIOS!

Se o sistema não iniciar pelo CD-ROM, você terá que alterar a seqüência de inicialização no BIOS do sistema. Como isso é feito depende do BIOS. Em um HP Pavilion, mantenha pressionada a tecla F1 enquanto o computador é iniciado. A mensagem “Entering setup” será exibida, e nesse momento você pode soltar a tecla. Os menus do BIOS são completamente específicos para cada modelo de computador, embora haja alguns padrões. Geralmente há um grupo de controles básicos por padrão, e algum método para entrar nos vários submenus. O BIOS do Pavilion tem abas no topo, e uma dela se chama “Boot”. Nela há opções que permitem alterar a seqüência de boot, incluindo CD-ROM, HD, unidades removíveis e rede. Naturalmente, você vai querer o CD-ROM em primeiro – até a hora de instalar o Windows, quando as unidades removíveis devem estar em primeiro lugar. Se quiser, você pode fazer isso agora, desde que não deixe nenhum disquete no drive. O boot vai demorar um pouco mais e fazer um pouco de barulho.

O instalador do Debian será iniciado (a primeira mensagem na tela fala sobre o “ISOLINUX”, um bom indicador de que deu tudo certo). Logo surgirá uma tela com um menu. Escolha “Advanced Options” (Opções Avançadas) e “Expert Install” (Instalação Avançada) no menu.

As primeiras perguntas são sobre o idioma e o código do país. Escolha “Português do Brasil” e “Brasil”.

Ele vai querer “Detectar e montar o CD-ROM”. Isso pode soar estranho, já que você está executando o instalador pelo CD-ROM, mas não se preocupe. O instalador do Debian vai fazer várias perguntas aparentemente redundantes durante o processo, o que por vezes pode até soar engraçado. Não presuma que houve algum erro se o Debian pedir a você que identifique algo explicitamente. O que acontece é que um expert pode querer tirar alguma carta da manga neste momento, e o Debian está dando a chance a ele. Outra explicação é que as mensagens vêm de softwares diferentes chamados pelo instalador, e nem sempre eles compartilham informações.

O instalador também vai perguntar se você está usando armazenamento USB e se deseja “serviços de cartões PC” (placas de expansão para notebooks, por exemplo). Mesmo dizendo “não”, você ainda poderá fornecer as “opções de PCMCIA”; deixe-as em branco. Fique sabendo que, por algum motivo, o menu voltará duas vezes durante o processo de instalação.

A mensagem “A auto-detecção do CD ROM funcionou” avisa que o software não teve problemas para ler o CD-ROM, e isso é bom. Você terá a opção de “Carregar componentes do instalador a partir do CD”. Escolha “cfdisk-udeb”. Não sei se isso é necessário. Trata-se de uma extensão do instalador do Debian para que ele trabalhe com o software de particionamento de disco, que vamos usar. Após esta etapa, ao retornar ao menu de instalação, haverá muito mais opções.

A seguir, “Detectar hardware de rede”. Selecione essa opção e você verá pela segunda vez as opções de “cartão PC”. Responda da mesma maneira. Então virá a configuração da rede. Se estiver instalando offline como eu, você certamente não vai querer a configuração automática com DHCP. Você pode optar entre configurar um endereço IP estático (minha opção) ou deixar a rede desconfigurada até conectar o computador à sua LAN (ou ao roteador de banda larga, ou à sua opção favorita de acesso à internet).

Você também não pode usar o NTP ao configurar o relógio, mas pode configurar a hora e o fuso horário manualmente.

Depois vem “Detectar discos”, e as perguntas sobre PC card aparecem novamente. Finalmente, o particionamento de discos.

1.2 – Particionamento do HD

Eu tenho uma postura meio velha guarda quanto ao particionamento de discos em sistemas Unix ou GNU/Linux. Gosto de manter as coisas totalmente separadas, seguindo o conceito original da estrutura de arquivos padrão dos sistemas de arquivos Unix/Linux. Isso tem a ver com a forma como os dados são alterados e com quem realiza essas alterações:

  • O sistema de arquivos “root” (raiz) ou “/” deve ser bem estático, mudando apenas durante instalações importantes; quase todo o seu conteúdo fica em subdiretórios, que podem ser montados em partições separadas. Geralmente as alterações nele são feitas pelo administrador do sistema (que em nosso contexto de LAN familiar, sou eu).
  • A partição “/usr” contém informações estáticas, alteradas apenas durante instalações de software. Os usuários normais nunca precisarão gravar nada nela (em alguns sistemas, a unidade inteira é montada como “apenas leitura”, sendo desbloqueada apenas nos procedimentos de instalação).
  • A partição “/var” contém informações dinâmicas mantidas sob o controle de serviços de software do computador. De modo geral, o usuário nunca grava nada diretamente nessa partição.
  • A partição “/tmp” é usada como cache para informações que não precisem ser mantidas após o reinício do sistema, e que possam ser jogadas fora quando faltar espaço.
  • A partição “/home” abriga os preciosos dados dos usuários. Ela deve ser gerenciada por eles, e com muito cuidado.

Se cada um desses diretórios estiver em uma partição separada, uma partição cheia não terá impacto sobre as outras (por exemplo, um log do sistema nunca falhará porque um dos meus filhos salvou muitos sprites do Pokemon no diretório home). Claro que há um preço a pagar: se você não tiver uma boa noção de quanto espaço cada diretório vai precisar, pode faltar espaço em um e sobrar no outro. Se quiser aplicar esse método, recomendo uma olhada nas tabelas de partição que dei como exemplo abaixo para ter uma idéia razoável dos tamanhos. Uma alternativa é usar apenas duas partições para o GNU/Linux: uma para todos os sistemas de arquivos e uma para “swap” (que é usado pelo kernel como cache estendido da memória RAM, o que é altamente recomendável, especialmente em sistemas com menos RAM disponível).

O instalador do Debian oferece sua própria interface para o processo de particionamento, que é um pouco mais fácil de usar do que o cfdisk (utilitário baseado em curses) ou do que o antigo utilitário fdisk. Obviamente, se você estiver familiarizado com eles, sinta-se à vontade para usá-los.

Com o módulo do instalador do Debian o processo segue desta maneira:

  • Selecione “Manual” (nenhuma das opções de particionamento automático serve nesta instalação)
  • Selecione o dispositivo
  • Defina o tipo de tabela de partições como “msdos”

Depois, para cada partição que você criar:

  • Selecione “ESPAÇO LIVRE”
  • Crie uma nova partição (“PRIMÁRIA” ou “LÓGICA”)
  • Defina o tamanho em GB, MB ou KB
  • Escolha o início do do espaço livre
  • Defina as opções de criação e montagem do sistema de arquivos

A tabela de partições suporta no máximo quatro partições “primárias”, uma das quais deve ser usada se você quiser criar partições “estendidas” (ou “lógicas”). Em outras palavras, as que serão representadas dentro de uma única partição primária. Isso é um quebra-galho para o design limitado das tabelas de partição do MS-DOS, e é por isso que você dificilmente encontra um dispositivo /dev/hda4/ nas tabelas de montagem. Geralmente as tabelas pulam de /dev/hda3 (a última partição primária) para /dev/hda5 (a primeira partição estendida).

Para as partições do FreeDOS e do Windows temos que seguir regras mais rígidas, devido a limitações em seus drivers de acesso ao disco. O GRUB também tem algumas restrições, que limitam a localização física do diretório /boot/grub no HD. O Linux por si só é extremamente flexível e pode rodar plenamente em partições estendidas, incluindo o swap.

Esta é a tabela de partições que escolhi para um disco rígido de 20 GB:

Partição Tamanho Sistema de arquivos Ponto de montagem
PRIMÁRIA
hda1 1 GB FAT32 /windows
hda2 512 MB FAT16 /dos
hda3 256 MB ext2 /
LÓGICA
hda5 4 GB FAT32 /winapps
hda6 256 MB swap swap
hda7 512 MB ext2 /tmp
hda8 1.5 GB ext2 /var
hda9 8 GB ext2 /usr
hda10 o resto ext3 /home
Partições para um disco rígido com 20 GB e com espaço para uma instalação de boot triplo

Já que o DOS só consegue endereçar os primeiros 8 GB do HD, criamos a partição /winapps de modo que ela estivesse de acordo com esse limite. A partição raiz do Linux também ficou pelo início, para que o diretório /boot/grub pudesse ser acessado pelo
GRUB. Se não fizer isso, você receberá uma mensagem de erro quando o GRUB tentar iniciar e as coisas vão parar por aí mesmo (aliás, não use links simbólicos no diretório /boot/grub, pode ser que o GRUB não consiga segui-los).

Uma coisa que pode surpreendê-lo é que o software de particionamento irá alterar discretamente os tamanhos para que correspondam à geometria do disco. Por exemplo, “1 GB” geralmente fica por volta de “998 MB”. É possível insistir em tamanhos mais precisos, mas dificilmente vai valer a pena, já que os tamanhos necessários são apenas estimativas.

Note que as partições do Windows e do DOS têm pontos de montagem no GNU/Linux. A instalação do GNU/Linux poderá acessar essas partições, mas tome cuidado ao gravar algo nelas: os sistemas de arquivos do MS-DOS e do Windows possuem limitações quanto aos nomes de arquivos e permissões que podem pegá-lo de calças curtas.

1.3 – Conclusão da instalação do Debian

Depois disso a instalação é bem direta, e segue o padrão de qualquer instalação do Debian, mas você ainda vai ter que responder a um bocado de perguntas, já que escolheu a opção de “Instalação Avançada”. A maioria dos padrões é bom, fique com eles.

Resumindo, minhas opções foram:

  • Kernel “linux-image-2.6-686” (meus computadores são do tipo Pentium III, ou seja, “686”)
  • “Sim” para senhas sombra (eu uso NFS, mas uso NIS na minha LAN, pois prefiro sincronizar as IDs de usuários manualmente, já que elas raramente mudam)
  • Criar um usuário normal (será preciso esperar o fim da instalação para criar outros usuários)
  • Configurar o gerenciador de pacotes
  • Não selecionar as opções que exigem conexão de rede: “espelho de rede”, “atualizações de segurança”, “concurso de popularidade”
  • Selecionar “Desktop” e “Padrão” nos perfis do sistema (o HP Pavilion não é um “servidor de email” nem um “laptop”)
  • Instalar o GRUB na MBR
  • Não configurar uma senha para o GRUB
  • Concluir a instalação
  • Informar que o relógio do hardware usa o UTC (você pode acertá-lo mais tarde)

Observe que a instalação do GRUB na MBR é temporária. Vamos usar esse GRUB nas próximas reinicializações, mas quando instalarmos o Windows 98SE ele será sobrescrito pelo gerenciador de boot do Windows. Nesse momento, teremos que usar o disco do Debian como “disco de resgate” para reinstalar o GRUB. Isso é tudo parte do plano.

Finalmente, você verá a mensagem que começa com “Instalação concluída…”. Remova o CD e reinicie.

1.4 Primeiro boot

Na primeira vez que iniciar o Debian, você terá que realizar mais algumas configurações.

Presumindo que o GRUB esteja funcionando bem, você verá duas mensagens durante o boot que indicam que o GRUB está funcionando: “Grub Loading stage1.5” e, logo em seguida, duas linhas abaixo, “GRUB Loading, please wait…”. Se você chegou até aí, o GRUB deve estar legal. Mensagens de erro agora significam que você vai ter que reinstalar o sistema.

Depois disso, segue o menu do GRUB, com opções de boot normal ou “single-user”. Vamos iniciar usando a opção padrão. Se estiver offline, como eu estava, haverá um longo atraso na mensagem “Starting MTA”. É uma tentativa de consulta DNS, que leva um bocado de tempo para desistir.

Se tudo estiver funcionando direito, você chegará a uma tela de login bem simples do KDM com a mensagem “Bem-vindo ao <nome do host>”. Você pode usar a interface do KDE, mas provavelmente será mais rápido dar um Ctrl-Alt-F1 para mudar para um terminal virtual e fazer login como root para cuidar dos últimos ajustes na configuração.

Para resolver o atraso do MTA (já que vamos reiniciar várias vezes), use dpkg-reconfigure exim4-config. Defina a configuração como “somente entrega local”, especifique o domínio e em “Manter o número de pesquisas DNS mínimas (Discagem-sob-Demanda) escolha “Sim”: esse último item vai eliminar o longo atraso na inicialização. Para finalizar, o sistema pergunta se você quer uma “configuração dividida”. Honestamente, não faz diferença, escolha o padrão, a não ser que tenha algum motivo pessoal para fazer diferente.

1.5 Configuração do GRUB

Navegue para /boot/grub (por exemplo, # cd /boot/grub), e use um editor para modificar o menu.lst, o arquivo de controle do GRUB.

Este é o meu arquivo /boot/grub/menu.lst, trazendo só o essencial:

default 0
timeout 5

title Debian GNU/Linux
unhide (hd0,0)
unhide (hd0,1)
root (hd0,2)
kernel /boot/vmlinuz-2.6.24-1-686 root=/dev/hda3 ro
initrd /boot/initrd.img-2.6.24-1-686

title Windows 98SE
unhide (hd0,0)
hide (hd0,1)
rootnoverify (hd0,0)
chainloader +1
makeactive

title FreeDOS 1.0
unhide (hd0,0)
unhide (hd0,1)
rootnoverify (hd0,1)
chainloader +1
makeactive

title Debian (single-user)
unhide (hd0,0)
unhide (hd0,1)
root (hd0,2)
kernel /boot/vmlinuz-2.6.24-1-686 root=/dev/hda3 ro single
initrd /boot/initrd.img-2.6.24-1-686

As opções de boot do kernel foram definidas durante o processo de instalação do Debian, então eu as mantive (observe que a localização da partição raiz condiz com a tabela de partições que eu incluí mais acima).

As coisas mais “mágicas” por aqui provavelmente são os comandos “hide” e “unhide“, que dizem ao GRUB para tornar certas partições visíveis ou invisíveis para o BIOS. Eles se encarregam de tornar as partições visíveis ou invisíveis a programas que usam o BIOS para acessar o disco. Precisamos disso para o Windows e o DOS, porque eles não sabem como lidar com o fato de não ocuparem a primeira partição do HD. Logo, os comandos hide fazem com que eles pareçam ocupar a primeira partição quando são iniciados.

Naturalmente, usamos o unhide para revelar essas mesmas partições quando queremos iniciar o GNU/Linux, para que tenhamos acesso normal a todas elas. Após algumas experiências, descobri que com o FreeDOS eu também não preciso esconder as partições.

Já o comando chainloader passa o controle ao registro de boot das próprias partições para iniciar o sistema operacional em questão. Acho que o comando rootnoverify é usado para pular a busca por um executável Linux válido (obviamente, os gerenciadores de boot do Windows e do DOS não o são). E estou usando makeactive só para seguir algumas orientações comuns, já que não sei para quê serve.

2- Instalação do FreeDOS 1.0

Agora vamos instalar o sistema operacional FreeDOS. Só vamos ter que reiniciar com o disco (inicializável) do FreeDOS 1.0 no drive de CD, como fizemos com o disco de instalação do Debian.

O programa de instalação do FreeDOS é ainda mais redundante que o instalador do Debian, e você vai ter que apertar um monte de botões que aparentemente não servem a propósito algum.

  • Selecione “1” para continuar o boot pelo CD
  • Selecione “1” novamente para instalar o FreeDOS no HD
  • Selecione “Português” (a não ser que queira um idioma diferente)
  • Selecione a unidade “E:” como destino (ela provavelmente corresponde a /dev/hda2)
  • Selecione “1” novamente para continuar com a instalação do FreeDOS
  • Selecione “1” para iniciar a instalação do “FreeDOS 1.0 final”

Nesse momento, a GNU GPL será exibida.

Depois você terá que aceitar os diretórios para a instalação: de X:FREEDOSPACKAGES a E:FDOS. Será apresentada uma lista de grupos de pacotes a serem instalados. Se não quiser instalar o código fonte, desmarque todos os pacotes que comecem por “src_”.

A seguir, marque e desmarque os pacotes individuais que quiser, e leve o cursor até “DONE” para prosseguir. As perguntas dependem dos pacotes selecionados, mas como eu instalei essencialmente tudo, aqui vão algumas das minhas escolhas:

  • Packet driver? Yes.
  • Configure via DHCP or manual? Escolha “2” para manual (seja rápido, pois há um curto limite de tempo aqui).
  • Mail server? Pressione enter para não instalar nenhum.
  • Email user-id? Pressione enter de novo.

Não tente instalar a opção “splashscreen”, pois há um bug no script de configuração que faz ele travar. Parece que isso pode ser feito manualmente mais tarde, com o C:FDOSbsplash.bat (mas pode ser que o bug esteja nesse script, e que seja necessário editá-lo).

Depois de algumas perguntas e algumas mensagens informativas, você chegará a um prompt de DOS comum, assim:

E:>

O FreeDOS não corrompe sua instalação do GRUB, e você pode reiniciar com ele.

3 – Instalação do Windows 98SE

Hoje em dia, dificilmente um usuário final instala o Windows. Você pode achar interessante saber que a instalação dele não é muito diferente da do GNU/Linux ou do FreeDOS. Há menos opções, e como conseqüência há menos a ser feito se algo der errado. Além disso, você vai ter que tolerar as propagandas na tela falando sobre a maravilhosa decisão de compra que você tomou, e sobre o quanto você vai amar o “novo” Windows. Sem falar no que parece ser um pequeno e simpático ícone de tambor, que no meu sistema de 500 MHz tem o ritmo arrastado de uma marcha fúnebre.

Para começar, reinicie o computador e selecione “Windows 98SE”. O Windows ainda não está instalado, mas isso vai disparar os comandos hide, preparando o sistema para a instalação do Windows. Depois que o sistema retornar ao menu do GRUB (que é o que ele faz se não encontrar nenhum sistema operacional), insira o disquete de boot do Windows 98SE no drive de 3.5″ e reinicie.

Enquanto os testes do BIOS estiverem em execução, insira o CD-ROM do Windows 98SE. Você será levado a um prompt de comandos do DOS. Os drivers de CD-ROM devem estar instalados, e uma mensagem indicará qual letra foi atribuída à unidade de CD-ROM (do contrário, você pode descobrir no chute mesmo).

Embora talvez não seja necessário, cai bem fazer uma formatação de alto nível na nova partição do Windows. A partição seria /dev/hda1 na terminologia Linux, mas o Windows chama de C:. Para formatar, digite FORMAT C: /S pelo disquete de boot. A formatação me ajudou a evitar problemas quando eu tinha uma instalação do FreeDOS na partição /dev/hda1.

Digite “F:” (por exemplo) para navegar rumo ao CD-ROM de instalação do Windows. Depois digite “dir” para listar o diretório raiz do CD. Dentre outras coisas, você verá um executável chamado “SETUP.EXE“. Digite “setup” para executá-lo.

A primeira coisa que ele faz é rodar o “scandisk” (um desfragmentador de disco) nas unidades que encontrar. Depois ele inicia a instalação em si. Você terá que clicar que aceita o EULA (o infame contrato de licença da Microsoft que nossos leitores “adoram”). A seguir, digite a chave de produto, que está impressa na embalagem. Obviamente, trata-se de uma proteção contra cópia, devido a essa idéia antinatural de vender cópias de software como se fossem objetos físicos.

Confirme o diretório de destino “C:WINDOWS“. Depois de selecionar “instalação personalizada” eu adicionei “Temas de Área de Trabalho”. Não há motivo para não incluir tudo num disco desse tamanho.

Nesse momento, o instalador cria outro disco de boot (agora ele facilita as coisas).

O instalador reinicia o computador. Observe que desta vez o Windows entra direto. O Windows sobrescreveu a MBR, levando o GRUB junto. Já esperávamos por isso.

Depois de passar por alguns testes automáticos e de talvez ter que reiniciar o computador mais uma vez, a instalação do Windows estará concluída. Ao redefinir a hora no Windows, lembre-se de usar o UTC (ou GMT), como especificado na instalação do Debian.

4 Restauração do GRUB

Para colocar o GRUB na MBR de novo, use mais uma vez o primeiro disco de instalação do Debian, que servirá de “disco de resgate”. No menu inicial, escolha “Advanced Options” (opções avançadas) e “Rescue Mode” (modo de resgate). A princípio você vai ficar desconfiado, pois vai parecer o mesmo processo de instalação anterior, fazendo várias perguntas, mas no canto superior esquerdo da tela você verá a mensagem “Rescue”. Mais cedo ou mais tarde você vai chegar ao menu de resgate, que traz a opção “Reinstalar o GRUB”. Você pode fazer isso ou executar um shell e rodar um “grub-install” você mesmo. Os dois métodos funcionam.

Voilá! Boot Triplo

Nesse momento, reinicie o sistema e o menu do GRUB deve aparecer. Verifique se todas as opções de boot estão funcionando, iniciando todos eles algumas vezes. Recomendo fazer isso em ordens diferentes para pôr à prova todos os comandos “hide” e “unhide“, pois se houver algum erro nessa configuração podem ocorrer problemas de vez em quando, dependendo da ordem em que os sistemas são iniciados.

Isso conclui a parte técnica da instalação. As coisas ainda estão um pouco frias, mas no próximo artigo vou descrever como personalizei esses sistemas com gráficos, textos e sons interessantes.

Créditos a Terry Hancockfreesoftwaremagazine.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <roberto at bechtranslations.com>

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